Lua negra, bom dia.

É inverno da Urca, e as folhas cobrem toda a área do terceiro andar. De madrugada o vento geme, sussurra sobre as frechas de madeira, compete com a respiração pesada desse rapaz que dorme quase tranquilamente. Nele não há preocupações, nem medos, só há algo que ninguém imaginou existir. E ele diz sobre amar, sobre felicidade, sobre Oxicodona e como é análogo semi-sintético da morfina.

O mar bate nas pedras, e eu ouço o rangir dos barcos que se sacodem nesse mar calmo, mas que insistem em se revoltar no inverno. O mundo não parece mais vazio nesses dias frios.

Subo as escadas, me ajoelho nessa lua negra, disputo a entrada para o meu eu, me embriago em superdose do podendo induzir a uma depressão respiratória, sono e até estado de coma. Grito por mim mesmo, estou em Hécate. Ela me abraça, me carrega para o meu inconsciente, me apresenta a mim mesmo. E nessa vontade eu me ergo.

Já nessa fase, me obrigo a cavar e pensar no meu ser. Encosto a minha cabeça em uma pedra fria. Ela queima a minha nuca, sinto queimar como ácido, não há dor, pois o frio me adormece. Hécate me olha, me cobre com sua existência, me abraça, nunca mais estarei sozinho. Não é possível gritar nesse estado de consciência. Ela me ensina que depois de arrancar à si mesmo, como você é, fica mais fácil de lapidar-se. E eu sou essa pedra fria e que arde como ácido. Sou indolor. Ela sorri. Ela me beija, me abraça, me oferta paz. Volto a mim.

É quase primavera, e o sol toca as folhas douradas. Não existe mais um circulo para que eu possa me ajoelhar.

O primeiro andar exala um cheiro de chá fresco, e me conduzindo com felicidade, uma voz que fala de amor em Eros e Psiquê.

Yuri Santos
Enviado por Yuri Santos em 17/07/2017
Código do texto: T6056756
Classificação de conteúdo: seguro