O Príncipe Encantado

Caro Príncipe,

Hoje venho a vossa alteza, para falar em nome de seus súditos fies.

Corroboro com a maioria deles que vossa alteza é de fato ENCANTADO.

Dono de um lindo sorriso e um corpo escultural, com seu cabelo que ao sinal da mais leve brisa pode dançar graciosamente, emoldurando um rosto de um deus grego. Sim, meu caro príncipe, de fato você tem uma beleza praticamente moldada pelo Criador.

E o que dizer de sua personalidade encantadora? Bom, essa palavra ENCANTO, realmente faz parte de ti. Seu bom humor, seus galanteios, sua sedução, seu jeito... Tudo encanta. Encanta até mesmo o menino que muitas vezes insiste em aparecer no seu corpo adulto.

O que mais falar se com tudo isso você é praticamente o estereótipo da perfeição, ou melhor, do amor perfeito. Amor? Sim, meu caro príncipe, todos chegam a te amar. Como resistir a tanto encanto?

Encanto...

Em canto...

Em cantos... Sozinhos, é assim que todos se sentem depois que você os seduz, conquista e quando enjoa os despreza.

Encanto, magia... Essa hora isso tudo acaba, e dói, como dói saber que como todo príncipe que tem tudo e todos que quer, vossa alteza é deveras mimado, egoísta, egocentro e na visão de alguns até sociopata.

O pior é que vossa alteza gosta e tem consciência de todo esse encanto, e ainda é capaz de inverter a história, para não se sentir culpado, jogando a culpa na carência alheia. Até porque, como todo príncipe, não quer ser contrariado.

E seus pobres súditos, não sabem de perto, porque você sabe a arma ideal para tê-los aos seus pés... A esperança. Vossa alteza mantém essa chama acesa nesses pobres corações que sonham com seu amor... E me faz pensar o porquê disso? Para parecer bom? Para ser sempre esse ideal de beleza? Ser o namorado troféu que todos querem? Ou apenas para massagear seu enorme ego? Ou para que todos continuem sendo brinquedos, marionetes em suas mãos?

Então, meu caro príncipe, vejo que seu encanto não é tão fatal assim, e algumas pessoas podem se tornar imunes a ele, quando descobrem o tão cruel, vossa alteza possa ser.

Mas quem sou eu para julgar? Não é seu jeito? Talvez a culpa seja da carência daqueles esperançosos que não resistem ao seu encanto...

A culpa sempre é do outro, afinal, não podem resistir a alguém tão perfeito...

Mas quando machucados, feridos, a realidade vem a tona e muitos vão descobrir que o feitiço é inverso. O belo vira fera, ou melhor, o príncipe vira sapo.

E de que adianta ter ao lado alguém assim? De que adianta migalhas de amor? Sim... Talvez, vossa alteza tenha razão, a culpa é de quem insiste, não resiste...

Mas meu caro príncipe, não te vejo como encantado ou como vilão mimado. Eu te vejo como você realmente é: HUMANO.

Cheio de dúvidas e dores. Que usa beleza como armadura, e o sorriso como escudo, porque já foi tão machucado nas batalhas... Tem medo de sofrer.

Então, ataca com suas palavras envolventes, como lanças ou flechas que acertam os corações, apenas para que o seu próprio coração não seja machucado.

E de tanto se proteger, de tanto medo, de tanto pavor... Acaba voltando-se apenas para dentro de si, preocupado com o próprio coração. E com sua armadura reluzente, protetora nos faz apenas enxergar o cavaleiro heroico no cavalo branco...

Mas, eu vejo por de trás da armadura... O menino sensível, medroso, que foi machucado.

Por de trás da armadura, eu sim, eu vejo o seu verdadeiro encanto, o real que você esconde... Vejo sua alma.

E essa sua maior riqueza é escondida nesse corpo que todos querem, nessa personalidade que encanta... Nesse príncipe que vossa alteza pensa que todos desejam...

Mas, não... Nem todos...

Um ser... Apenas um ser... Não quer isso...

Ele quer tocar a sua alma, pois ela sim, é apaixonante, verdadeiramente encantadora.

Quem sabe um dia, todos vejam onde está o seu real encantado, meu príncipe.

Quem sabe um dia, você se veja como realmente é...

Quem sabe um dia... Terá um felizes para sempre.

Enquanto isso, era uma vez...