O Alfa

- Marcos... adivinha quem voltou pra cidade e tá escondida na fazenda do irmão?

Marcos levantou os olhos das notas que conferia, para avaliar a expressão exultante do irmão. Mas preferiu obter mais detalhes.

- e por que esse alguém está escondido?

- ah...! então... Bem, isso eu não sei, mas acho que devemos procurar saber.

- e por que devemos?

- porque esse alguém salvou nossa pele muitas vezes, quando a gente era pequeno.

Foi então que Marcos deixou exibir um sorriso macio.

- Antônia?

- a própria...

- e porque ela tá escondida?

- isso que devemos ir saber. Ela deve de tá precisando da gente, senão não teria voltado. Esqueceu que ela saiu daqui jurando nunca mais voltar?

Marcos levou a memória para muitos anos atrás e seu sorriso aumentou.

- não, não esqueci. Mas Antônia nunca precisa de ninguém, esqueceu? Aquele monstro de mulher sempre soube se defender... mas o que mais você soube?

- soube que ela vai criar gado com os irmãos e que vai trabalhar com eles na roça...

- estranho... Antônia nunca gostou de serviço de roça. Ela disse que ia estudar e virar gente. Esqueceu?

- não... mas de certo alguma coisa não deu certo. Ou... ela sentiu tanta falta da gente que resolveu voltar...

- se tivesse sentido falta, não teria ficado dez anos sem dar notícia. Não acha?

- de certo ela tava tentando se dar bem na vida. Esqueceu que a gente falou que longe da gente ela não sobreviveria? Aposto quanto você quiser que ela tá muito encrencada. Mas não é falta de dinheiro, porque os irmão compraram um tanto de cabeça de gado.

Marcos gastou poucos segundos para se decidir.

- tá certo. Vamos lá ver o que ela tá aprontando...

O irmão o olhou com uma cara lerda. E retrucou.

- qual, é, irmão? Pra cima de mim não, jacaré... Vem me dizer que você não tá mais caidinho por ela? – Marcos o encarou e seu rosto ficou impassível – você nunca deu certo com ninguém depois dela. Então, desista. E vê se não enrola que eu vou passar aqui as cinco em ponto pra gente dar um chego lá...

Marcos acompanhou a saída do irmão da loja, mas seu pensamento não estava com ele. E a contragosto, viu quando suas memórias o assombraram. Antônia foi seu primeiro e desastrado grande amor. Grande mesmo, por que ela era a garota mais alta da sala e quiçá da escola toda. E ele cresceu vendo ela ser humilhada pelos colegas, ao mesmo tempo que jurava se vingar. Como ninguém mexia com ela, pois a mão dela era mais pesada que a do diretor, ela só fazia cara feia e era obedecida.

Mas quando ela saiu da cidade e nunca mais olhou pra trás, Marcos foi perdendo as esperanças de revê-la. Mas não conseguiu amar mais ninguém. As poucas namoradas que teve não conseguiram fazer ele esquecer os intensos momentos que teve com Antônia. E por mais que tentou se convencer que o primeiro amor não conta, não conseguiu tocar sua vida adiante. Todos os amigos haviam se casado e tido filhos. Alguns estavam já nas segundas núpcias e ele, nada.

Mas quando fechou a loja seu irmão estava na porta. Rumaram em silencio pelas estradas de terra e o pensamento de como Antônia estaria o encheu de emoção. Além de alta ela era corpulenta, mas não gorda. Mas seu olhar era meigo, quando não era irônico ou bravo. E uma pergunta saltou da boca dele.

- será que ela está feliz?

- claro que não. Devia estar, longe daqui. Mas voltou pra estaca zero. Ninguém fica feliz andando pra trás...

Mas Marcos sabia que ela não estava desistindo. Antônia não era mulher de desistir de nada. Se tinha uma coisa que ele admirava nela, além da força física, era a confiança que ela tinha nela mesma. E ele nunca esqueceu a promessa que ela o fez, um dia.

- se eu me der bem na vida, eu venho ver se você quer ficar comigo...

- você já pensou na possibilidade de ficar comigo do meu jeito?

- você é um frangote, Marcos... e eu não sou mulher de andar atrás de um...

Marcos não percebeu que estava sorrindo até seu irmão o trazer de volta a realidade.

- é... bem se vê que você continua caidinho por ela. Mas ó... vou dizer uma coisa. Se você perder essa nova oportunidade que a vida está te dando, eu desisto de você e te proíbo de me chamar de irmão. Ouviu?

Fizeram o resto do percurso em silencio, mas Marcos foi perdendo a coragem na medida que iam se aproximando da fazenda dos pais dela. Seus pais eram vizinhos, mas os dela eram muito pobres. Antônia é a filha do meio de quatro irmãos. Todos continuavam na roça, alguns trabalhando nas fazendas vizinhas. Mas quando chegaram a notícia os desanimou. Os outros irmãos dela os informaram que ela estava numa fazenda alugada, junto de um dos irmãos.

- eles compraram gado demais e não cabe nos nossos pastos. Mas não adianta ir por aqui de carro. Eles alugaram umas terra do outro lado do braço da represa. Mas fizeram uma ponte de corda pra encurtar o caminho pra nós. Se quiserem eu vou com vocês... é pouca gente que conhece esse caminho e se sairmos agora, dá pra chegar antes de escurecer.

O cérebro de Marcos trabalhou a todo vapor.

- temos que ir a pé?

O irmão dela deixou escapulir um sorriso divertido, embora penalizado. Mas confirmou.

- e no meio do mato e depois subir em árvore e andar na corda bamba, literalmente.

Marcos não gostou nem um pouco do riso que o irmão dela deu na sequência, pois o fez lembrar do apelido dele de infância: cagão. Mas também não pode recusar a ajuda, e logo estavam andando depressa atrás do homem.

Andaram mais alguns minutos de carro, não passando de meia hora. Mas quando pararam Marcos desejou andar mais. Teriam que descer uma ladeira a pé, depois andar no meio do mato até acharem uma árvore para subir. Ao perguntarem qual, a resposta foi misteriosa.

- uma que tem uma escada de corda dependurada.

- mas não tem outro caminho pra se chegar nessa casa?

Marcos se arrependeu de ter perguntando no instante que os dois homens se entreolharam sorrindo. E o seu próprio irmão o denunciou.

- fica frio, mano... fica frio que nós vamos ficar grudadinho em você...

Para a infelicidade de Marcos a tal árvore era tão alta que nem se via a copa. E a escada estava nos galhos de cima. E teriam que fazer degraus dos galhos de baixo. E nem quis responder a pergunta irônica se ele não havia tido infância. E odiou quando seu irmão respondeu por ele.

- em frente a TV... E olha que nem tinha canal a cabo... mas nosso pai foi um dos primeiros a comprar antena parabólica...

Chegaram no topo e Marcos quis descer quando enxergou a ponte de corda. Não estava ventando e ela balançava. Mas como ele estava no meio dos homens e ambos viram a reação dele, se encolheu quando ouviu a ordem.

- sinto muito, amigo, mas você terá que ir primeiro... seu irmão sozinho não vai dar conta de te fazer andar e a ponte não aguenta três de uma vez...

Marcos observou a paisagem, tentando ganhar tempo. Um campo aberto começava a direita, onde ficava o gado. E do lado esquerdo o braço da represa fazia uma curva. Até conseguiu apreciar um pouco a paisagem, mas os dois respirando no cangote dele o lembrou que não havia volta.

Marcos pulou para o inicio da ponte e quando colocou os dois pés nela, soltou a respiração. Levantou uma perna e jogou ela pra frente. Depois repetiu o movimento com a outra. Depois com a outra e quando achou que conseguiria dar os vinte passos, percebeu que saiu da proteção da copa da árvore. E ao se dar conta que estava a céu aberto, cometeu a bobeira de olhar pra baixo. Daí travou.

Em vão escutou gritos atrás dele. E quando levantou sua cabeça e fixou o olhar na frente, a visão embaçou. E quando sentiu a ponte balançando violentamente, sentiu algo quente escorrendo no meio das pernas dele. Foi então que fechou os olhos e se entregou. E decidiu que se fosse para morrer, que poderia ser naquele momento, pois sabia que não iria nem pra frente e nem pra trás.

- coloque a mão no meu ombro que eu te ajudo...

Marcos sentiu as lágrimas descerem no rosto quando ouviu a voz grossa, mas aveludada de Antônia. Mas não conseguiu abrir os olhos. E nem tirar a mão das cordas. Mas ela pegou na mão dele e forçou os dedos dele a se soltarem. E ela mesma colocou a mão dele no ombro dela e depois a outra. E então falou no ouvido dele.

- agora vamos dançar como antigamente? Segure apenas em mim. Esquece onde estamos. Chegue bem perto de mim e sinta o meu perfume...

Aquilo teve o poder de transferir a confiança dele na corda para o corpo dela. E ele quase pulou no colo da sua amada. E se deixou arrastar, passo por passo. E lamentou quando sentiu a terra firme sob seus pés. E ela falou com ele, ainda com carinho.

- agora se afaste que vamos dar espaço pra eles virem...

- porque você não abandona essa mania de viver perigosamente?

As palavras saíram com irritação. E ele se enfureceu com o sorriso que ela deu como resposta. Mas foi com frustração que viu que os dois atravessaram a mesma ponte em segundos. E quando eles se encontraram, o irmão olhou a roupa dele e resmungou, penalizado.

- xi, irmão... vamos precisar arrumar alguma coisa pra você vestir...

Só então Marcos olhou pra baixo e sentiu o cheiro de urina. Seu único pensamento foi sair dali, mas teria que voltar pra corda. Então encarou Antônia e transferiu o problema pra ela.

- não se preocupe... só tem amigos meus lá dentro. E uma mulher, é verdade... embora é um belo pedaço da espécie... mas eu e meus amigos temos uma coisa em comum: admiramos pessoas corajosas. Você sabia que sentiria medo lá em cima e mesmo assim quis vir me ver. – ela sorriu enquanto vasculhava os olhos dele - você ainda está apaixonado por mim...

Marcos nem se preocupou em analisar se ela havia feito uma constatação ou uma acusação. Soube apenas que era o momento de beijá-la e a agarrou num abraço desesperado e beijou. E beijou mais ainda quando ela não opôs resistência. Mas parou quando sentiu uma brisa esfriando as partes íntimas dele. E soltou a boca dela, sem deixar de encará-la.

- será que tem uma calça sua que me sirva?

- acho que vai ficar um pouco grande...

Ela falou bem macio.

- somos da mesma altura – e colocou a mão na nádega dela – mas você tem muito mais carne que eu, é verdade – ela sorriu – mas é melhor do que seus amigos me verem desse jeito... – mas ele lembrou de palpar rapidamente o corpo dela, sem insinuação – hei... você anda trabalhando bem esses músculos, hein? O que andou fazendo?

Isso foi o mesmo que borrifar pimenta nos olhos dela. Ela se soltou e avisou que ia buscar uma roupa limpa. Voltou com uma calça de moletom cinza escura e fez Marcos se trocar ali mesmo. E ele não se fez de tímido. Tirou calça com cueca e tudo e jogou num canto, sem pressa de vestir o moletom. Ele também estava musculoso, não em excesso, mas corria quilômetros diariamente.

Mas quando entraram na casa pobre, embora grande, sua coragem pulou janela afora. A cozinha era simples, com um fogão a lenha velho demais para dar conta de manter um fogo aceso. Alguns poucos pacotes de comida, a maioria bolacha, estava sobre o balcão da pia. E ele foi reparar na quantidade de pessoas que estavam na casa. Havia uns cinco homens e uma mulher, linda, sentados em volta da mesa.

E além disso, o que mais chamou a atenção dos irmãos foi a aparelhagem de espionagem atrás deles. Marcos entendia um pouco de eletrônica mas aquilo era desconhecido pra ele. Conseguiu identificar as telas de monitores, mas outros aparelhos eram um mistério.

- deixe eu apresentar meus amigos pra vocês...

Marcos não ouviu a sequencia de nomes que se seguiu, e nem ligou para as caras curiosas voltadas pra eles. E se lembrou de se declarar, acabando com as expectativas de todos.

- nós viemos para dizer que se precisar de nós, estamos a disposição. Você salvou nossas peles tantas vezes que achamos por bem retribuirmos pra você... – ele passou os olhos nos monitores – a menos que você voltou para se vingar, como prometeu antes de sair daqui... a dez anos atrás...

Novamente Marcos lembrou da pimenta e viu ela se afastar pra pegar café de uma cafeteira elétrica. E isso sim fez cair a ficha. E a pergunta que ele fez foi em tom de acusação.

- posso saber o que vocês estão fazendo espiando no meio do mato?

Várias caras se entreolharam em expectativa. Mas Marcos viu que Antônia estava tranquila quando sentou e respondeu.

- eu saí a dez anos atrás prometendo ganhar dinheiro pra ajudar meus irmãos... não sei de onde você tirou vingança. Acontece que meus amigos aqui se ofereceram pra testar um equipamento de vigia de última geração, pra me convencer a comprar deles. Eu estava bem tentada a recusar, mas depois que eles salvaram a sua pele, começo a pensar diferente. Eu vi pelo monitor quando vocês estavam descendo a ladeira...

Marcos passou os olhos e nem teve coragem de calcular o preço.

- você pode fazer seguro do gado...

- ah! Mas acho um desaforo alguém ficar no lucro as minhas custas. Isso não...

Marcos a encarou e o que viu foi a menina de doze anos jurando enforcar qualquer um que a desafiasse.

- você não mudou nada...

Ela sorriu bem relaxada, mas um dos homens falou meio afeminado.

- eu tô pasmo... - Todo mundo voltou o olhar pra ele, a contragosto. – eu jurava que ela era do meu time...

Muitos soltaram risadinhas jocosas e alguém perguntou por que.

- ela devora as mulheres com o olhar... exatamente igual eu devoro os da minha espécie. Não tô acreditando que eu me enganei...

- mas por que você acha que se enganou? Não passa pela sua cabeça que ela tá só se deixando levar? Muitos bis são assim... ficam balançando conforme o vento sopra...

Marcos se virou indignado para Antônia, mas ela só fez continuar sorrindo. E o acalmou.

- deixa quieto... eles estão é se contorcendo de inveja porque uma troglodita como eu consegue ter uma paixão avassaladora e eles não.

- mas porque você devora as mulheres com os olhos?

Algumas risadinhas se ouviram.

- porque eu busco a combinação de inteligência com beleza e elevação moral. E quando eu encontro, eu me delicio. Eu estou rodeada de gente bonita e inteligente, mas capazes de furar seu olho se você interfere nos interesses deles. Entende?

Alguns gargalharam. Marcos percebeu que havia muita coisa não dita entre eles, mas que obviamente só ele não sabia. E ele decidiu por um fim na visita.

- entendo. Podemos nos ver de novo? A sós? – e antes que ela respondesse - eu montei uma loja de eletrônicos perto da praça. Ela fecha as seis. Só hoje que precisava vir aqui, fechei mais cedo. Agora você pode me ajudar a atravessar de volta?

Muitos minutos mais tarde e já dentro do carro, precisou perguntar o que o irmão achou.

- sei não, irmão... achei ela bem misteriosa. Um pouco chique nos modos... ela nem parece a mostrenga que rolava na terra com a gente...

Marcos viu os segundos se arrastando no dia seguinte. Enquanto seus olhos acompanhavam o movimento do ponteiro de segundos, sua mente o lembrava do beijo caloroso que trocaram novamente na despedida. E ele lamentava não ter arrancado nenhuma promessa dela. E quando o relógio bateu seis horas, se arrependeu amargamente de não ter sido mais incisivo.

Mas quando fechou a porta e pisou na rua, viu, extasiado, Antônia encostada do outro lado da rua. Quando seus olhos se encontraram ela começou a caminhar. Ele caminhou no seu lado da calçada e quando chegaram na esquina, ele foi ao encontro dela e se deram as mãos. Mas como ele morava em cima da loja, fez ela dar a volta no quarteirão e subiram pela escada lateral.

Marcos só conseguiu por o pensamento em ordem, tarde da noite. Depois de uma luta sangrenta em que ele quase perdeu, conseguiu perguntar.

- você pode me dizer o que está acontecendo?

- não...

- e você pode dizer quanto tempo vai ficar?

- não...

- e você pode dizer se existe alguém na sua vida?

- está me ofendendo, Marcos. Acho melhor ficar calado...

- você vai sumir por mais dez anos?

Ela suspirou enquanto rolou e apoiou o queixo no peito dele.

- eu pensei que nunca seriamos felizes juntos, já que você disse que nunca sairia daqui. E achei que você cairia nas garras daquela sirigaita...

- então você não veio de mudança...

Ela ficou calada. E depois ele tentou lembrar de quem ela falava. Mas desistiu e foi o mais persuasivo que conseguiu.

- o que eu posso esperar de você? Eu não quero só encontros fortuitos a cada dez anos...

- me dê um tempo pra eu organizar a minha vida... deixa eu ver como as coisas vão ficar... confie em mim... mas eu não vou poder te visitar pelos próximos dias. E não me procure. Apenas confie...

Marcos sorriu com a conclusão que estampou na sua frente. Se ele estava vivo, foi por que confiou nela, a vida inteira. E de fato ficou muitos dias sem ter notícias dela. E não teve muito tempo para se preocupar, pois seus dias pacatos de comerciante de cidade do interior ficaram abalados.

Inesperadamente ele achou que a cidade ficou movimentada demais. Várias pessoas diferentes vinham comprar na loja dele. Clientes não habituais. E ele conhecia todo mundo na cidade. E quando essas pessoas sumiram, ela voltou. Mas dessa vez entrou na loja e sentou na banqueta dos clientes. E como não havia ninguém na loja e ela era pequena, ela despejou informações importantes.

- eu sou agente federal e fui incumbida de uma missão em nossa cidade. Aquele braço da represa está sendo investigado, pois há suspeita de que seja um desaguadouro de mercadorias contrabandeadas. Eu devo montar um posto de vigia permanente e preciso de um bom álibi... você topa me ajudar?

Marcos engoliu toda aquela informação e só conseguiu formular uma pergunta.

- agente federal?!? E por que você não entrou em contato durante esses anos todos?

- porque eu sabia que quando a gente se encontrasse, iria acontecer o que aconteceu...

- e o que aconteceu, além de um sexo maravilhoso?

- eu confirmei minhas suspeitas... que eu não conseguiria viver sem você. Nós não nos esquecemos... E eu ia pedir demissão para meu chefe quando ele me ofereceu esse posto, mas eu disse que precisava contar pra você. E você esteve sob investigação esse tempo todo... e por fim me autorizaram...

- posto?

Ele não conseguiu formular uma frase.

- eu vou chefiar a investigação na região... e já montei minha estratégia... voltei por você e vamos nos casar. Vou criar gado com meus irmãos e ser sua sócia na loja. Vamos ser representantes daqueles equipamentos de vigia que você viu. Daí quando conseguirmos monitorar todas as fazendas do braço da represa, terei o controle sobre a área. E se a gente se desentender, separamos de casa e de loja... Então... você topa?

Ele teve s[o um pensamento.

- quem vai ser o alfa na relação?

Ela sorriu. E continuou como se não tivesse sido interrompida

- nós vamos sair de fazenda em fazenda e oferecer o serviço de monitoramento de área. E dar desconto quanto mais gente aderir... e você deve mostrar que está fazendo de tudo pra eu ficar e por isso está investindo tanto na loja. Minha história é que eu era segurança pessoal e testemunhei uma tentativa de assassinato, por isso precisei voltar por um tempo. Mas você não quer que eu vá embora de novo, por isso está tentando investir em algo que eu tenha conhecimento de estratégia e você de informática...

Ele estava feliz demais para argumentar contra. Mas tentou.

- não... que tal você veio visitar sua família e caiu de amores por mim, de novo? E implorou pra eu ser o representante dos equipamentos do seu amigo, pra você poder trabalhar na loja comigo?

E antes que ela pudesse responder ou protestar entrou uma cliente na loja e ela não reconheceu Antônia, mas Marcos se aproveitou e fez um teatrinho.

- não sei se vai dar, Antônia... você ficou sem dar notícias tempo demais e eu dei andamento na minha vida... – e se voltou para a cliente com seu ar profissional - pois não, Renata?

A tal da dona pediu um cabo de celular enquanto olhava Antônia de rabo de olho. E ao reconhece-la, cumprimentou fingindo deliciosa surpresa.

- mas então você está de volta? Mas está muito mudada... nem parece... – ela pareceu mudar de ideia e de pensamento – mas vai morar de novo aqui?

Marcos e Antônia se entreolharam numa queda de braço. E ela fingiu ceder.

- não sei... vai depender se eu consigo convencer meu amigo de infância a me dar um espaço na loja pra eu ser representante de um equipamento de monitoramento de área... Porque se ele não me aceitar, eu vou abrir uma loja bem de frente a dele e vamos virar concorrentes...

A mulher fez cara de espanto e quando encarou Marcos, sentiu que ele nem a via. Por isso pagou e saiu da loja. Antônia respirou e sorriu aliviada.

- pronto... a sorte está lançada... e eu compro uma casa com quintal pra nós se a noite alguém vier te dar os pêsames... Sabia que eu juntei um monte de dinheiro? Além do nosso salário, ganhamos comissão por cada missão bem sucedida. E adivinha quantas eu perdi?

Marcos não se intimidou.

- que ver o meu livro caixa? Ou meu controle de estoque? Cabo de celular vende bastante, sabia?

Lucilia Martins
Enviado por Lucilia Martins em 24/03/2018
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