POR AMOR EU MATEI (Parte 2)

Quando a margarida caiu, aquele homem sensível morreu. O tempo se esvaiu, como pó ao vento se espalhou. Prometi à mim mesmo, que aquele caboclo, de cabelo ensebado, de fome esvairado, iria ser "doutô". Voltei pra minha humilde casinha, me olhando no espelho vi a pele vermelha e seca do sol, meu olhar estava apagado e nem sorriso forçado, esse caboclo alcançou. Em minha "véia" dei um beijo demorado com um abraço apertado explicando aonde vou. O sonho me espera, lhe darei orgulho e ao meu "véio" pai honrarei sendo "doutô". Olhando em meus olhos, mamãe pergunta de Margarida, respondo com indiferença: _Ela morreu ao trocar meu amor por dinheiro de outro. lhe peço perdão, mas aqui não devo mais ficar, minha morada deve ser longe, para enterrar de vez quem tanto me magoou. Com apenas uma mala, coloquei dentro as poucas peças de roupa, uma blusa de mamãe para levar comigo seu cheiro, e um retrato de meu pai dos tempos do exército, coloquei também muita saudade, muita força de vontade e a determinação de um jovem sofredor, rumei para São Paulo, onde por muitos anos estudei e com muito trabalho, meu sonho realizou. Em um hospital do interior arranjei trabalho e com muito sacrifício mandava dinheiro para minha mãe e meus irmãos, até que certo dia recebi um telegrama e meu mundo desabou, não pensei duas vezes e embarquei no primeiro trem até o seio familiar, contava os minutos mas eram horas que demoravam à passar. Quando por fim cheguei, meus irmãos me aguardavam, mal reconheceram o maltrapilho que partiu. De barba feita, cabelo bem cortado, paletó bem alinhado e sapato de couro, viram seu espelho, eu, seu irmão mais velho, que há tanto partira, dali para vida, honrar pai e mãe, esta que mal sabia, estava de partida, a vida terrena estava finda, aguardando por meu abraço, minha oração e meu clamor. Antes de embarcar no táxi a minha chegada se espalhara pela cidade, o caboclo pé rapado, de calça curta e terno furado, voltava doutor e todo alinhado, pretendente para as belas moças da cidade. Ao descer, ver aquela casinha, do mesmo jeito que havia deixado, minha mãe não avistei, adentrei em passos largos, vendo ali logo ao lado, minha mãezinha, febril e trêmula, era algo que ainda não vira, não tratara e o pronto socorro busquei. Ofereci meus serviços para custear seu tratamento, ali ficaria até aliviar seu tormento, mal sabia o que me aguardava em breve. Os esforços não foram válidos, perdi aquela que tanto amava, minha nobre mãezinha. Em sua despedida muitos amigos, mas uma que não esperava surgiu das cinzas... Era ela, Margarida. Despertou a dor, o tormento e afundou-me ainda mais naquele momento. Evitei o quanto pude, meus irmãos tentaram me alertar de algo, mas não dei ouvidos. Passaram-se quase 10 anos, o que eu sinto hoje é indefinido, não desejo mal, mas não desejo por perto. Alguns dias se passaram, até que recebi convite para ser efetivo no hospital da cidade, fixei raízes. Certo dia, tarde da noite, voltando para casa, a pé, próximo da meia noite, fim de plantão, um homem de cabelo loiro, bem vestido, aproximadamente minha idade, em tom de afronta disse: _Já tem quase 10 anos da sua partida, nem assim ela te esqueceu. Desgraçou a vida dela, levou ela pra cama, e desapareceu. Então respondi:_Não sei do que estás falando, fui trocado por um garoto engomado e rico, nunca toquei em Margarida! Foi quando senti o primeiro golpe, direto no estômago, não tive defesa, dois desconhecidos me seguraram enquanto o terceiro afrontador me golpeava. Me acusaram de tirar a "inocência" de Margarida e que fora rejeitada pelo marido após a noite de núpcias. Naquele momento sabia, que nada adiantaria defender-me de tal injúria, apanhei até apagar e desabar. No frio quase insuportável, deixaram-me ali no chão jogado, até um policial me encontrar, era Toninho, amigo de infância, que a vida virou, talvez para me salvar. Levou-me ao pronto socorro, quase morto, nariz quebrado, com hematomas e todo "ralado", vi-me num dilema, desamparado. Quase 10 anos se passaram, nunca soube notícias "Dela", menos ainda que fora rejeitada, talvez fosse mentira mal contada e a raiva descontada fosse encubada e injustificada, paguei uma conta que não era minha, pois com "Ela" pretendia, casar para depois consumar. Fiquei horas acordado, com dor e medo espalhado até que Toninho apareceu, perguntei se era verdade e quem eram os três senhores que atentaram contra minha saúde. Toninho assim dizia: "_Logo após sua partida, Margarida "desabrochou", ganhou corpo e logo se casou, na noite de núpcias não sangrou, e seu marido furioso, disse que se enganou, casou com mulher impura e pra casa do pai de margarida então levou. Exames médicos foram feitos, então meses depois descobriram que ele estava errado, o ato havia se consumado, mas o "negócio da mulher" não se rompeu, envergonhado buscou Margarida e sua família e o casamento reatou, logo em seguida nascia, aquele que seria o motivo de grande alegria, o filho de Margarida, igualzinho sua mãe, mas algo ainda estava fora do lugar, o menino trazia pele morena, mais que da mãe o contrário do pai que era branco. Garoto esperto, forte e íntegro, hoje tem 8 anos e se chama Amadeus, há quem diga, que este filho é do caboclo, que a vida dela desgraçou." Fiquei ali parado, com os olhos esbugalhados, prontamente assustado, sem saber o que fazer, estava embargado, com a notícia que desabou. Tentei recordar de nossos momentos, se poderia ter acontecido, poderia eu ter um filho sem ao menos ter amado seu belo corpo? Quando lembrei, que em nosso último encontro, foi regado à poesias e uma bela garrafa de pinga, lembrando apenas quando acordamos, lado a lado, sem saber o que aconteceu. (CONTINUA...)