Por Uma Carona Insana

Oi! Passando para lhe desejar um bom fds.

– Olá! Tudo bom, sumida?Obrigado e a você também . Mas, me conta, como foi seu dia?

– Bem, obrigada. Mas e aí, me fala de você, o que tem feito desde então?

– Nada de sempre. Penso que, nada demais. A vida tem sido para mim o trivial de sempre. Alias, estou fazendo o que a maioria despreza e uma minoria faz neste momento, incluindo, lendo um bom poema, por exemplo. E escrevendo também. Afinal, acredito, que toda poesia se faz necessária. Questão de gosto, apreciação, lisura. Você mesma, como um bom exemplo de mulherão deveria ao menos experimentar. Sou o tipo que insiste na ideia de que as "mulheres que leem tornam-se altamente excitantes e irrestivelmente mais sedutoras. Já a mulher que não lê é porque desconhece o potêncial esmagador de si mesma cujo hábito da leitura e cujo domínio com o tempo a torna imediatamente distintas e mais sedutoras das demais mulheres, vira obra, vira mistério, mais do que isso as torna em um objeto de desejo inalcansável até mesmo para os mais retos e sofisticados dentre os homens. Curvar-se-ão um a um a seus pés. Você bem que deveria experimentar todo esse poder que a leitura é capaz de proporcionar a alguém. Além do corpo, penso eu que o gosto de uma mulher para com a leitura e para com as artes é um elemento a mais de sofisticação capaz de elevar o instinto da mulher ao mais elevado grau da sedução através do saber. Aperceba, então, que a sedução é também um instrumento valioso quando se busca aperfeiçoar com as artes, talvez bem mais com a leitura do qualquer outro meio. Eu super recomendo.

– Hum. Então quer dizer que você não me acha sedutora autossuficiente para você só porque não leio?

– Nada disso! Muito pelo contrário. À propósito, noto e como noto em você como sendo uma tal e qual mulher inversamente irresistível tanto quanto é perfeitamente irretocável. Eu não mudaria sequer uma vírgula do seu sorriso ou um ponto sequer do seu corpo. Mas, lhe acrescentaria, talvez um QI de "paretenses", um toque sutil de sofisticação: A leitura.

Por fim. Deixemos isso de lado. Falemos do que interessa, afinal, quanto tempo não nos falamos desde então, não é mesmo?

– Verdade. E depois você foi embora. E desde sempre tem tido uma vida intensa por esse mundo afora. Você estás sempre a viajar mais a trabalho do para si viver a si mesmo.

Mas, ainda sinto uma falta enorme do nosso tempo, enfim, tem sido assim com frequência o tempo todo.

– Mas, me fala de você... E como estão seus poemas, ó meu celebre autor?

– Ora, minha Senhorita, por acaso está de gozação comigo?

– Eu, te gozando? Imagina, por qual razão?

– Sabe-se lá. Senti apenas um tom irônico quando dissestes "ó, meu celebre autor", apenas isto.

– Apesar que não discordo com você, em partes, a menos que estiver sendo irônica comigo, pois você bem sabe que eu não passo d'um "autor meia-cura". E depois, eu não escrevo pensando em ser um autor altamente aclamado pela popularidade e pela crítica, tenho cá uma minoria que eu os trato como leitores exclusivos e que de certa forma gostam do que tenho escrito. É o bastante para mim.

– Que nada, seu bobo. Você escreve muito bem. Porque são somente os poetas incorrespondidos que morrem poetas de verdade.

– Sabe, moça, "você não é sozinha, mesmo não"! Mas pode haver aí alguma semelhança sobre o que dissestes. Mas, falemos disso noutra oportunidade.

– Não entendi. Desenha pra loira.

– Desenhar, o quê?

– Sobre o que quer dizer com "não sou sozinha mesmo não".

– Ah, sim. É apenas uma gíria pouco usual que aprendi com um velho amigo de Mato Grosso, que nas bandas de lá quer dizer o mesmo que gente astuta, no sentido figurado de malandra; esperta, para efeito tanto no sentido bom ou má: um bordão irônico apenas.

– Você sabe que não sou boa em gírias... Nesse caso coisas boas... kkkk

– Hum... gosto disso em você. Uma tal e qual ingenuidade boba que você finge tão bem... Casa comigo?

– Afff... que surpresa é essa, agora? Você bebeu?

– Não, você sabe tão bem que não sou de beber... Por quê? Aliás, antes que possa me responder, penso que vossa senhorita só está surpresa assim porque sabes que no fundo bem que aceitaria meu pedido; talvez até largaria tudo para se arriscar em uma aventura só para ficar comigo. Sei disso tanto quanto você, não é verdade? Eu sei e você sabe...

(...)

- Se está a pensar pra responder é porque reconhece a verdade, você pode até não confessar a si mesma em palavras, mas de uma coisa eu possuo total convicção: "o teu silêncio te põe contra o muro, te entrega, te confessa só de pensar numa hipótese assim tão banal e louca". Posso ainda imaginar que um rio agora escorre bem no meio de suas pernas só imaginar nós dois, ainda que tente resistir simultaneamente. Não há para onde correr, admita agora. Eu preciso saber de você...

– Putz! Já tinha até comprado o vestido e mandado os convites online. Seu bobo, sei que é brincadeira. Você jamais me pediria em casamento...

– E se eu te pedir, oras! Apenas me responda.

– Não sei! É uma coisa muito séria pra ser respondida de supetão.

– Supetão? Enfim, casa comigo ou não?

– Se me der casa, comida, roupa lavada ... simmmmmmm!

– Infelizmente não posso te dar isso, sou pobre, só tenho o meu amor escravo a seu favor, então acho que minha proposta não lhe é bem-vinda frente às suas condições atuais, não é mesmo? E depois, gente como nós não se casa, faz amor pra vida toda.

– Aff! Chega de brincadeiras! E aí, está onde agora?

– Estou pensando em me casar contido, pensando em tudo que fizemos desde aquela carona que, bem ou mal nos aproximou intimiamente. Algo que julgo acidental com ou sem o nosso consentimento, nos tornarmos próximos até demais, eu diria.

E sabe o que mais, não cabe em mim o quanto tem sido bom e intenso tudo que vivemos desde que começou o nosso lance às escuras, nossos encontros seguidos a momentos e descobertas inéditas, coisas entre os matos, nas esquinas de Curitiba ou num parque qualquer, como quando aquele dia no Posque do Papa. Você se lembra?

– Olha, meu célebre escritor, as coisas não são tão simples assim. E depois temos família e ambos somos casados, você esqueceu? Você tem esposa, filho e eu esposo e um filho.

– Sua medrosa. Ora, ora, mulher! Nem parece a mesma mulher de antes. Reaja! Você nunca arrisca nada em sua vida? Não gosta de se arriscar pelo próprio risco? Não sente nada quando algo te faz tremer toda por dentro?

– Sou pé no chão. Arrisco sim, você é um risco... rsrs

– "Eu, um risco"? Ora, injusto, pois nunca te forçei a nada.

– Eu não disse que forçou, apenas disse que é um risco e um risco bom...

– Eu um risco bom? Rá! Só você mesma. Você é a minha predileta quando o assunto é saudades e coisas mais... Guardo saudades à levar por terra.

– Vai dizer que não? Uma saidinha de vez em quando não faz mal a ninguém. Ainda mais se tem alguém que possamos confiar, né?

– Hum... que vou lhe dizer depois dessa sua confissão?... Tô perdendo o jeito, alias, nunca o tive. Apenas penso que fui absolutamente envolvido por você, como um garoto inexperiente e ingênuo.

Afinal, eu tinha que idade, talvez 17 e você no auge dos 43, eu suponho.

(...)

– De novo? Calou-se, por quê?

– Fiquei sem saber o que falar... rsrs

– Sabe, eu também sinto tanto quanto o mesmo que você sentes agora. É nítido. E às vezes me pergunto o que afinal isso quer dizer? Digo, esse meu jeito, quieto e tolo, onde palavras de saldade e dor me saltam à boca e cujo silêncio me cala à toa e me dilacera?

– Não sei... É inexplicável.

– Então, foi exatamente esta a sensação que eu senti naquele dia, inclusive, em que me destes carona no seu carro quando enfim nos conhecemos no primeiro encontro. Você se lembra? Era o dia da festa de aniversário do seu marido e você foi me buscar no ponto de ônibus um poucoantes de suacasa. Eu não sei o que deu em mim, porém, assim que sentei-me ao seu lado no banco da frente do carro, ocorre a partir dali uma série de luta e fuga entre eu e meus pensamentos mais ocultos, foi então que, discretamente, comecei a sondar cada gesto seu. E ao notar que toda aquela situação de risco que nos envolvia logo era um fato, desesperadamente comecei a buscar mil maneiras de devencilhar-me de todas as formas. Eu estava completamente envolvido por um clima de culpa êxtase. Me custava cair em si o fato de aceitar a hipótese de estar me sentido atraído por você, logo você. Que então resolver me apresentar ao seu marido com aquela desculpa de que eu seria um suposto primo distante de seu. E pior, justo na data da festa de aniversário do seu esposo. Eu perdi completamente o juízo quando resolvi aceitar o teu convite àquela festa de aniversário.

Mas, de volta a carona, o fato de estar ali, tão próximo quanto estávamos um do outro e eu observando cada movimento enquanto você dirigia; depois, a proximidade entre nós foi dominando meus sentidos e tomando todo o meu corpo. Múltiplas sensações insanas de desejo e de posse falavam mais forte em mim do que o impulso da carne pudesse me conter naquele instante. Foi quando pude sentir você bem próxima a mim, para alguém que eu não conhecia pessoalmente além de algumas noites no bate-papo anos antes, na ocasião, e que agora estava ali, inacreditavelmente diante dos meus olhos, de minha cobiça e do mais intenso e desejo oculto que havia despertado você. Lembro-me de cada detalhe como se ainda pudesse sentir o sabor das mesmas sensações que senti e ainda sinto aqui e agora enquanto conversamos... Você toda bem assenturada com aquele seu vestidinho floral, decotado e justinho, nossa! Eu ali, sutilmente assistindo a tudo. Porcamente sentindo as mais perverssas coisas a seu respeito. E que vestido! Eu já não conseguia ver nada além de nós, éramos apenas eu, você e aquele seu vestido um quase-baby doll de cetim. Você destilava uma tal e qual sensualidade desbocada dentro dele. Tentador demais para mim; dominante demais sem medir nem pôr.

Bom demais ficar ali só observando todas as formas e curvas, nada, absolutamente passava despercebido por mim... Cada silhueta, enfim, de seu corpo aplicadamente desenhado dentro daquele vestido.

O vão que expunha parcialmente suas coxas deixavam suas pernas quase que prositalmente um tanto amostras para mim ... E, como num surto desmedido, imediatamente fui tomado por um êxtase de medo e excitação sem pudor. A quase totalidade dos meus sentidos diziam-me para que parássemos o tempo naquele exato instante pensado, e ali mesmo pudéssemos esquecer-se de nós dois sob o desejo insano e fugaz de consurmir-se assim, como e onde bem entendessemos, quer fosse em meio ao trânsito daquela hora à tarde de pico em meio aos carros parados, faríamos tudo tão-somente ali mesmo, sendo nós dois despudoramente assistidos aos olhos de todos que pudessem nos observar. Seria uma cena inesquecível de ser assistida em pleno público e ao mesmo tempo inesgostável do mais puro prazer ao mais elevado gozo. Nada mais parecia ter importância ao redor. Era uma intenção que pulssava mais alto e mais forte do que meu juízo pudesse julgar por mim mesmo.

Bem, acho que está mais do que claro para você agora. E foi a partir daquele dia que minhas intenções contigo se intensificaram e se transformaram completamente, apesar do quão me contive, contrariando minhas vertentes cujo meu senso de carácter naquele momento já havia se rompido por completo ou quiçá fora esquecido para trás nalgum canto qualquer onde meu juízo jamais estivera antes. Talvez por esta razão meus pensamentos tentavam me bloquear a todo instante, ao passo que minhas intenções mais secretas davam pistas não menos irrefutável que uma intensa vontade de voar em seu pescoço, tomar-te imediatamente para mim, como fosse, e assim percorrê-la dos pés à cabeça a fim de tocá-la sem nenhum pudor... Consumir-se assim, num ato inconsequente asselvajador; e sentir, por fim, os sussurros mais íntimos e oculto de seu gozo.

(...)

Nossa!, suei agora! Rosto ruborizado...

– É mesmo, e como se sente neste momento?

– Doida pra te sentir aqui agora...

– Sente isso, profundamente?

– Ah, se sinto, e muito! E você?

– Sinto tanto quanto você. Aliás, amanhã é a festa de aniversário do seu marido outra vez, não é? Então, me espere às 16h no mesmo local, e com o mesmo vestido de antes...