Divã

“_Nem sempre o seu desejo mais íntimo corresponde ao que você tem das pessoas.” – Foi isso que o meu psicólogo disse em meio à minha confusão de pensamentos e sentimentos. Nesse estado, eu não poderia mesmo entendê-lo; eu mal podia entender a mim. Só sabia que odiava ser vista daquela forma. Aliás, para muita gente, aquilo seria glorioso. Quem não gosta (ou quer) ser desejada? Pois é; eu não. Para mim, o campo do desejo era gelo fino, mas lá dentro eu buscava profundidade. Antes eu ria daquele vídeo da Jennifer Lopes, no qual ela corre dos homens que a desejavam, considerando aquilo um absurdo delicioso. Ao vê-lo hoje em dia, minha visão mudou. Aquilo não é gostoso; pelo contrário. Todos aqueles homens queriam a mesma coisa dela e eu sabia o final daquela saga; sabia quem sairia ganhando e quem perderia, caso sentisse como eu me sinto. Bom, de qualquer forma, continuei indo às sessões de terapia; o que me divertia bastante e me conscientizava de quem eu era. Meu terapeuta era um coroa muito engraçado e compartilhava comigo suas experiências; obviamente que de forma sucinta e discreta. Contei a ele minhas inspirações para escrever, contei a ele meus medos, dúvidas, decepções e deslizes... E, ao mesmo tempo, por ouvir tudo que dizia, eu ia me conhecendo e mudando algumas formas de pensar e sentir. Ele também dividia parte de sua vida comigo, mostrando-me um lado sensível e até paternal. Na sexta-feira passada, ao chegar ao consultório dele, a secretária avisou-me que ele havia pedido para que outro profissional continuasse acompanhando o meu caso. Fiquei surpresa com a notícia; e até um tanto desapontada, afinal, já o conhecia havia bastante tempo. Foi então que comecei a conversar com a moça da recepção, que se mostrou bastante falante; talvez até demais. E num ponto específico da conversa, ela soltou algo como: “_Há quem fuja de seus sentimentos; há quem os enfrente de cabeça erguida.” Aí eu perguntei: “_Por que você diz isso?” E ela respondeu: “_Alguns homens são assim, sabe? Eu mesma conheço um homem que ama uma mulher, mas não tem coragem de assumir isso. Motivos profissionais, sabe?” “_Como assim? Ela trabalha para ele?” – indaguei. E ela: “_Não, pelo contrário. Ele trabalhava para ela e, por esse motivo, teve que se afastar.” Fiquei pensativa por algum tempo, mas logo algumas coisas me vieram à mente. Lembrei-me de seus olhares tímidos e suas piscadas. Lembrei-me também de quando o meu terapeuta falou sobre um amor impossível e de repente eu comecei a ligar os pontos. Antes que eu pudesse perguntar, a tagarela revelou-me tudo, balançando a cabeça e dizendo: “_Ele mesmo.” Eu arregalei os olhos e, desnorteada, voltei para o carro e ali chorei copiosamente um choro confuso; um misto de tristeza e alegria. Então me lembrei que ele me havia dado seu telefone em uma ocasião. E, enquanto olhava para o número no meu celular, eu analisava a mutualidade dos meus sentimentos. Bingo! Lá estava eu novamente apaixonada, mas dessa vez a escolha seria minha.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 05/12/2018
Reeditado em 10/05/2019
Código do texto: T6519531
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