CONTO CAIPIRA

Noite de São João, eu tava sortano rojão, bebeno uma cachacinha pa cortá o frio, quando meu zóio viu essa peste, sentada na porta, e tomano quentão. Meu coração galopô, e ela, das medrosa, só oiava pro chão. Ara seje, no causo dum homi bão num carece de vergonha, mais que porquêra ! Mais dexa , no arrasta-pé no barracão eu dô um jeito de catá ela modi dançá, adespois tem quadria com casamento, vigário,puliça, êêêêta que pido ela pa noivá !

Moço, foi ansim , casemo . Veio os fio, Zé rôia, Tião e Tavinho. Mais vortano a proza, tudo que é bão num dura muito , não sinhô. Minha Mariquinha num viu os fio dela tudo home pruquê Deus levô num domíngo de tarde. Tumém num viu os neto. Hoje só dá sodade de proziá mais ela.

Co dinhêro das coiêta formei nas letra o Tião. Meu mais véio, Zé rôia foi sê sordado e num saiu mais de lá, é oficiar distrêla i tudo.O mai novo, tumém si formô ca ajuda do Tião e do Zé rôia qui já tava tudo ca vida boa, morano na capitar.

Os fio tudo formado,tudo muito trabaiadô, num ligo nem de num mi visitá, num carece, atrapaia a lida deles, já vai pra mais de ano quêles num vem me vê, iapois, véio é iguar qui nem piá, é, atrapaia os grande...

Mais, pro mais novo formá mermo, eu vendi as rêiz tudinha e o sítio tumém.O povo chama ele de comandante. É aviadô, comandante Tavinho, dirige esses trem qui passa vuano aqui pru riba do asilo...

... iapois Mariquinha, num esqueço nunca daquela noite de São João.Ocê tava bunita , caquela fita no cabelo, o vistidinho de chita, sentada lá na porta da tuia, nosso zóio sincontraro modi nóis si gostá, mais ocê oiava pro chão e num queria me dá esmola, nem ca peste me queria, mais logo o Santo da festa abriu teu coração e a esmola queu pidia chegô dum jeito qui eu inté funguei di sastifação, até água veio no meu zóio e nóis começamo noivá. Na festa do ôtro ano quando nóis saímo da igreja tudo mundo tinha uma inveja lascada di nóis,né Mariquinha ? Inté parecia queu ia rebentá , me deu um baita nervoso queu garrei sufocá, funguei, funguei e o diabo da água veio di novo do meu zóio modi tanta alegria. Aí veio o Tião, Zé rôia e o Tavinho e no mundo interinho num tinha homi mais feliz qui eu. Êta Mariquinha! Nossos fio cum saúde, tudo bunito...

Ai, Mariquinha! Aquele domingo de tarde, A tristeza me comia ! Ocê em cima da mesa de cedro do bão que eu fiz no inchó, onde nóis comia mais nossos fio, ocê lá Mariquinha, caquelas vela arrodiano seu caxão... Num queria te deixá ansim sem se dispidí, garrei tua cabeça e beijei ,e beijei, e quando larguei nem chorá sabia mais.

Ditardizinha seu caxão subiu a curva do canaviar. Hoje, aqui no asilo, que os menino acharo bão deu ficá , eu fico assuntano minha vida marvada. Aí ocê vem na cabeça e eu, e, e eu garro a chorá , Mariquinha !

Mais quar o quê, meu zóio tá seco, sêco, seco. Quando cê foi, tudo minhas lágrima eu dei pro cê levá!

Paulo de Tarso

Paulo de Tarso
Enviado por Paulo de Tarso em 12/01/2019
Reeditado em 10/06/2019
Código do texto: T6549218
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