Entres às páginas de um livro...

Toda a semana no mesmo horário, ele fechava a porta da sala e sentava-se em sua poltrona de couro, colocava os óculos e iniciava a leitura do jornal. Primeiro lia as manchetes, depois no Caderno Cultural, grifava com um lápis a biografia de alguns escritores, recortou uma delas e a guardou no bolso da camisa.

Também marcava os títulos de alguns filmes que, provavelmente, não assistiria... Então dobrou o jornal e o deixou cair no chão. Olhava a sua volta e não via ninguém, mas sentia-se como se fosse observado. Na pequena mesa que ficava ao lado da poltrona tinha um livro de capa verde, o nome da autora e o título, ele sabia de cor.

Por uns instantes pensou e pegar o livro e, finalmente ler com atenção as suas páginas, porém algo o impedia de continuar, o simples objeto causava-lhe ansiedade e até certo medo. Inúmeras vezes pensou em procurar a autora do livro e dizer-lhe que sentia sua falta, que o tempo parou, desde que ela foi embora, mas não tinha coragem nem para abrir o livro. A capa parecia envolta em brumas, pesada...

Caso o abrisse imaginava que o amor que viveram sairia de suas páginas, e mais do que nunca, as lembranças o consumiriam! Recordou-se de uma frase que ela escreveu para ele: “Se pudesse tocar o Tempo... Retê-lo-ia entre as mãos e eternizaria os momentos felizes...”

Retirou do bolso, a notícia do jornal que havia guardado e escreveu no fim do texto: “A sua ausência faz o tempo demorar a passar... Como infinitos grãos de areia de uma ampulheta surreal.” Em seguida, decidido abriu o livro de capa verde, e guardou entre suas páginas a notícia com a frase recém escrita...