Quantas cordas em Dó Re Mi passar-me-ei?

Pelas portas de um restaurante qualquer, mas somente para qualquer um, dentre cabelos castanhos, vermelhos, dourados e pretos, se porventura pudesse, apareciam como pálidos fantasmas, amigos camaradas em um não tão qualquer lugar. Aniversariante e seus amigos, todos conversando em mesa de madeira esperando carne e batata num belo banquete de chapas, entretanto para surpresa, entra-se um cabelo preto diferente, o próprio véu da noite em fios adentrava o salão. Todos olhavam e repudiavam, pois além da sua fama do passado, o passado mais presente se tornava perto como unha e carne, o sentimento era quase que atônico.

O ressinto se tornou pequeno para todos que ali só se conversavam, miravam e trocavam palavras, ricocheteando dentre os sorrisos e telefones, porém ninguém alcançava a alma do aniversariante ali presente, por mais que não gostaria nem sequer receber esse presente de aniversário, não conseguia tirar os olhos mesmo que de canto daquele que um dia, teve seu coração em mãos. O golpe do destino sempre foi duro e hercúleo, quiçá até avassalador para aqueles que se misturam entre Aquário e Peixes entre os mais variados da água quente e a nevoa fria. Ricocheteavam-se olhares, mas palavras não eram proferidas.

Porventura não se deixava de notar os caixões musicais que eram pelos recém chegados carregados nos sorrisos e conversas, eles se ajeitavam dentre o meio do restaurante, pediram o que beber, até o que comer, porém nada de ser para viagem. Dentre os pensamentos piscianos, estava o mais firme mártir de “Você já se perdoou demais, por momento e por vida, jura febril que aquele amor fora perdido quando disse eu te amo no passado”. Estirava as mãos dentre seus braços, passando pelas elevações da tatuagem, ou seria isso que queria acreditar na ouriçada que o corpo deu quando sentiu o cheiro do perfume matinal.

Em meio daquela juba desarrumada, dos cabelos pontudos e da pequena onda de rebeldia, aquele aquário seria pouca água para a mordida em seu lábio, o jubilo de seus amigos demonstravam alguém totalmente diferente, tomou forma de amor e ódio pelo canino no lábio inferior, passaram-se tempos, minutos até que perdera novamente o interesse pela mesmice de um alguém que já se foi.

Momentâneo pensamento errôneo, nobre criança que se levantava quase que partira novamente um coração cicatrizado, como pode alguém lhe causar calafrios de tal forma, bons e ruins, por sequer um supetão de se levantar? Só sei que nada sei não seria tão utópico neste momento, faminto pelo novo, pousou seus olhos novamente no moribundo, até perceber que não era o mesmo. As roupas eram novas, não amarrotadas e as calças estavam sem fios ou rasgados, os sapatos limpos e sem marcas, havia feito a barba, sua tatuagem vívida, para sua surpresa, tirou da caixa um instrumento, para ser mais exato um violão.

Até que se apresentou juntamente com seus companheiros, iriam tocar naquela noite como recepcionistas de uma grande felicidade, dizia que era um dia especial, mas a pessoa especial não fora dita pela boca que queria lonjura e apreço. Eles começaram a tocar e suas pernas tremeram por um momento, o dedo foi até o ombro com vontade, fazendo-lhe uma marca em lua, era real por todo aquele momento? Era aquela voz que cantava em seus ouvidos como mel matinal a mesma que usara para falar mais alto que todo o bairro no partir? As mesmas mãos macias que lhe tocavam por meio tão pesado de seus pensamentos?

Quem diria que aquele olhar apaixonado ao além seria mais alto que os montes que cobrem o sol ao seu pôr, de tuas brumas de confusão seriam a vontade heroica de levar a glória ao seu povo, o mesmo ateu que diria por Deus que aquele não era o mesmo homem que ele havia colocado os olhos. Nem mesmo o calor de momento que poderia ter suprido toda e qualquer frieza da partida inesperada. Depois de anos, voltaria como outra pessoa, morrera e nem tivera notícia do cadáver e se fosse assombração, queria então mudar-se para o cemitério.

Até que a sua voz lhe tocou as sobrancelhas com a letra da música e suas cordas vocais eram tocadas como a harpa de um anjo:

“De fato digo que o amor é uma droga viciante! Pois preciso de ti quanto Deus abraça o destino, é um milagre que ela disse, quando viste a Cristo em meus olhos escaldantes!

Por ti! Oh aventura, voltava a mim ao mito da caverna, pois para meu espanto eres a pintura que faltava na minha arte!

Posso dizer que viverei! Por mais amarga a morte seja ao fim, hoje, agora! Direi sabor à vida!

Vicia a mim, diga-me que necessito de um remédio! Pois a desintoxicação seria mentir a mim mesmo um sentimento que nem eu mesmo saberia esconder!"

Eram tantas as cenas dentre eles, quem diriam quantas sílabas se juntariam dentre suas bocas se elas estivessem juntas agora! Quão amargo seria os sentimentos que diria tal alma agridoce se fosse para outra pessoa, os céus partem quando dizem que das nuvens não caem chuva, seria mais real dizer que tentar tirá-lo de seu coração equiparava-se a desaguar os sete mares com uma caneca! Queria, tinha sede, mas só conseguiria dizer com os olhares dentre eles. Não conseguia parar de encará-lo enquanto tocava, enquanto sorria, enquanto via-o tirando-lhe novamente as vestes por uma noite em luar. Porém, há sempre um porém.

Dentre os seus jeitos desajeitados, havia por si visto o futuro por detrás de seus olhos castanhos primavera, aquilo era sim um pedido de desculpas pelo erro que já havia lhe subjugado o perdão, mas nenhum momento era um “É tão bom estar em casa novamente”, mas sim o chamado de adeus por todos os momentos felizes.

Valeram-se duas horas que dois anos de desamores, ele pegara seus amigos e seus destinos, partira com um sorriso, levando consigo o ensinamento de respirar no primeiro sopro de vida. Sem palavras e arrependidos, os amantes deixaram de se amar, pois ele não veio para adentrar novamente na gaiola dos pássaros amados, mas finalmente, desatar a corda de seus chamuscados fogo e gelo.

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 27/02/2020
Código do texto: T6875852
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