Encruzilhada - 1ª parte

Naquela noite de julho, a sábia frase de Antônio Bispo postada no Facebook dias atrás martelara como nunca na minha cabeça: “quem nunca teve numa encruzilhada...não sabe escolher caminhos!”. Não que eu não tivesse passado por encruzilhadas diversas e acertado e errado tantos caminhos, mas é que naquela noite, justo naquele noite, eu me punha a assistir ao filme “Cold Moutain” que mostrava no meio do seu enredo sobre a guerra de secessão dos Estados Unidos a história de vida de dois jovens que dão exemplo de amor, esperança e lealdade.

Naquele noite eu havia passado uma mensagem para Letícia, mesmo com o coração cheio de receio de ser recepcionado da justa forma que eu merecia, e sobretudo com a absoluta certeza que meu destinatário não se prestaria ao papel de responder minha mensagem saudosa.

Refleti sobre aquela frase. Moí e remoí, tal qual um ruminante que come capim e depois regurgita pra mastigar. E, finalmente, eu chegava a reflexão mais coerente sobre os caminhos da vida, da minha não muito tranquila, mas intensa vida.

Naquela encruzilhada eu tinha errado, seguido pela “vereda” mais fácil mas que não sabia onde daria, ou que tinha grandes chances de terminar num precipício. Mas, entendi também que os nossos caminhos se cruzam com o de outros e ora se emparelham, ora de desemparelham, ora mão, ora contramão. Também construímos nossos caminhos, e que uma vez desemparelhado por um erro de percurso, não adianta dar meia volta pra retomar o rumo correto, o caminhante do seu lado não para e seu caminho prossegue. Não espera nossa correção de trajetória por absoluta necessidade de não cair no mesmo abismo.

Cheguei à conclusão que os caminhos podem se cruzar novamente, embora a com poucas chances de emparelhamento. Estava na hora de seguir meu caminho, retomar minha trajetória “por cima de pau e pedra”, enfrentando cipós entrelaçados de macambira, caroás e ramos espinhosos de jurema-preta e sabiá cortantes. Tava na hora de cair na quiçaça pra sair da “mata fechada”, enfrentando carrapichos, urtigas e cansanção, feito um garrote que tenta fugir do vaqueiro com uma careta lhe vendando as vistas.

Antes, porém eu precisava rememorar tudo que me ocorrera naqueles especiais anos que passara ao lado de Letícia, e num conto resolvi finalmente derramar todas as emoções que eu pudesse exprimir, seria como um exercício para transcorrer meu luto com o necessário amadurecimento para meu crescimento e sobrevivência. E como ponto de partida recorri a organização de minhas fotos, para facilitar a iluminação da minha cabeça.

Passei mais de um mês sem pôr as fuças pra fora de casa.

Conheci Letícia no meu trabalho, mas tive pouca aproximação nos primeiros anos. Desde sempre admirei a sua beleza, que crescia esplendorosamente a cada sorriso simpático e natural do marcante modo de nos cumprimentar. Mais que isso, seu comportamento extremamente profissional e as informações que o Velho Mago me passava sobre ela, aumentavam a minha admiração. Admiração respeitosa, mais cheia de tesão, é bem verdade.

Anos mais tarde, eu era escalado para trabalhar ao seu lado, o que me fez ter contato com aquele sorriso apaixonante diariamente e com seu jeito altivo e comprometido de tocar o trabalho. Passei então, a sonhar com ela, mesmo achando que seria uma paixão só minha, meio platônica, e que guardaria com enorme carinho para não gerar constrangimentos no trabalho.

Mas aqueles sorrisos, aqueles olhos apertados, aquela boca carnuda e aquela pele morena, além de me seduzir, corpo e alma, me encorajavam à correr riscos. Fazia questionamentos diários: será que esse sorriso maroto é comumente distribuídos para todos e todas, como resultado da absoluta simpatia natural daquela morena? Ou será que restava um sorriso mais maroto para o enxuto coroa?

Meio inibido, me vali das santas redes sociais que protegem os tímidos e os descarados, e lhe solicitei a amizade que foi instantaneamente aceita para o meu deleite. Agora, me restava fuçar o seu perfil do seu Facebook em busca das informações e senhas para o próximo passo. Com o medo de quem mete a mão em cumbuca, perguntei sobre o seu status, e não deu outra, ela prontamente me respondeu: solteira!

Talvez, se tivesse ali parado já seria motivo sem igual para a minha felicidade. Mas, confiante, resolvi ir em frente. Rapidamente, minha timidez prejudicial se transformou num descaramento afoito, comuns aos conquistadores confiantes de filme espanhol.

(15/07/2016)