Amor proibido

João, jovem e cheio de ambição comemorava com muita alegria seu ingresso na faculdade. Não havia passado no vestibular de nenhuma faculdade do governo, onde poderia estudar de graça. Mas estava disposto a trabalhar muito para pagar aquela faculdade particular e frequentar o curso noturno. Estava decidido. Era uma entidade renomada. Lá estudavam muitos filhos de famílias ricas, geralmente no período da manhã, mas no sábado todas as turmas se encontravam. Era o encontro dos ricos com os pobres – brincava alguns alunos. E foi num desses encontros que ele conheceu Shirley e sua prima, alunas do período matinal, e começaram uma amizade a três. Certo dia, ao matarem a aula do sábado, foram juntos ao cinema. Então a prima, sem perder muito tempo, não escondendo seus sentimentos pelo rapaz deu o bote e logo estava namorando com ele para tristeza da Shirley que estava de olho no João também. Inconformada ela saiu à luta, e depois de dois meses conseguiu tomar o namorado da prima, que não se importou muito- ela já havia tirado sua casquinha – era uma época de libertação feminina! Tendo conseguido o que queria, apenas afastou-se dos dois que a cada sábado ficavam mais juntos e se descobriam cada vez mais. Não deu outra, Shirley se tornou a nova namorada do rapaz, mas tinha um pequeno problema, seus pais eram muitos rigorosos e de família tradicional e muito ricos. Não iriam aceitar. Então decidiu namorar escondido. Para sair com ele mentia para os pais que ia dormir na casa de uma amiga. E foi assim em todo semestre da faculdade. Mas estava ficando muito complicado. Ela pensou “e se a mãe ligasse para a casa da amiga para confirmar num dia que a amiga também não estivesse em casa, seria o caos”. Então tomou uma decisão que enfrentaria a rigidez dos pais, resolveu marcar um dia com eles para apresentar o namorado. No dia marcado pediu ao João que ele tirasse o velho Jeans, e colocasse sua melhor roupa, proibindo-o também de contar que morava numa república de estudantes, onde dormia no velho colchão porque não tinha nem cama.

Chegando o dia, todos estavam previamente preparados para o encontro. Uma sala enorme com sofás de couro e lindas cortinas compunham o ambiente. Sentados, pai, mãe, avó e os dois. Timidamente o rapaz se acomodou. Em xícaras de fina porcelana o café foi servido, iniciou-se a conversa, e entre um gole e outro começaram os questionamentos. Entre muitas perguntas, a principal era as pretensões de João para com Shirley – se eram sérias? João até que estava se saindo bem com as respostas, mas a sutileza do pai o deixou de cabelo em pé. O senhor Germano começou a falar de suas qualidades; disse ser aposentado da polícia, e começou a mostrar algumas armas, um mini revolver, geralmente indicado para mulheres usarem em suas bolsas, para uma eventual defesa. João sentiu um pouco a tensão do momento. Parecia um recado. Passado este encontro nervoso, tudo parecia indo bem no namoro. Apesar de algumas desculpas dadas por ela para não ir ao encontro passar a ser uma constante. Até que um dia João a desconfiança se instalou de verdade, e ele começou a segui-la sem que ela percebesse, e levou uma grande invertida ao descobrir que ela se encontrava sempre com um rapaz rico da faculdade – apesar de ela afirmar que era apenas um amigo, João ficou furioso – Uma desconfiança tão grande virou um abismo entre eles. João chorou de decepção. Ela era sua grande paixão! Era difícil esconder o ciúmes que estava sentindo. Mas venceram o incidente e continuaram o namoro. Passado algum tempo ele resolveu fazer uma tocaia na frente da casa dela, num dia em que ela deu outra desculpa esfarrapada para não ir ao encontro dele; dizendo que não podia sair por causa de problemas com a avó. Novo flagrante confirmou a decepção. Ela chegou de madrugada na companhia daquele mesmo amigo – o riquinho da faculdade. João, num impulso, ameaçou dar-lhe um tapa no rosto e gritou com ela. Iniciou-se então um bate-boca na frente da casa. Que amizade que nada, disse João? Sou um idiota, você é uma mentirosa, agora entendo por que sua prima não gosta de você. Você coleciona namorados, pensei que esta atitude fosse uma característica de homens e mulheres sem caráter. De repente o pai apareceu na porta com uma arma na mão. João para evitar o pior. Sobe no carro e sai em disparada. E foi a última vez que ele a viu. Nos sábados seguintes ela não apareceu. Talvez tenha mudado de faculdade.

jaeder wiler
Enviado por jaeder wiler em 21/09/2021
Reeditado em 23/09/2021
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