Eternidade

Como um sopro, o calor de seu corpo foi roubado pelo abraço gélido da morte.

Anika não estava pronta para partir, tão pouco considerava seu falecimento algo justo.

Sua alma inquieta determinou que se desprenderia de seu corpo e vagaria pelas ruas de Nova Iorque, para que ao menos pudesse se despedir adequadamente.

Então, a morte ao tentar resguardar seu espírito, percebeu que o corpo estava vazio. Cismado decidiu buscar pela alma perdida.

Passou-se um tempo, até que ele enfim encontra Anika sentada em um banco, vislumbrando a vista de Central Park, e consequentemente se juntou a ela.

- Vejo que está muito apreensiva, é por minha causa? - Indagou o ceifador para a menina que estava tremula diante de sua presença.

- N-não, é que eu gostaria de lhe pedir uma única coisa antes de ir. - Respondeu Anika rangendo os dentes.

- E o que seria? - Lhe questionou.

- Por favor, me conceda mais tempo, eu não estou pronta. - Suplicou a garota, sem perceber a dimensão de seu desejo.

- Mais? - Replicou a morte admirado por seu desassombro.

- Não acha que poderíamos fazer algum tipo de negocia... - Antes que pudesse terminar sua frase, percebeu que era possível ver apenas os olhos amarelados encarando-a intensamente através daquele capuz preto.

Tendo em vista que não teria como dialogar sobre uma possível segunda chance de vida, A jovem audaciosa se levantou rapidamente, e começou a correr numa tentativa de despistar o inevitável.

Em vão esforçou-se para fugir, mas logo foi apanhada pela túnica de seu predador.

Por um átimo tudo escureceu, até que uma música nostálgica começará a tocar Everybody Loves Somebody de Dean Martin. Aos poucos seus olhos foram se abrindo, e o cenário se formando. Era possível sentir o aroma do carvalho se queimando na lareira, remetia muito ao seu lar. De fato, ela estava em sua sala, a estante repleta de livros de poesia, ao lado uma cadeira de balanço com um cobertor amassado em cima, do outro uma vitrola em cima de um diminuto criado mudo. Tudo estava em perfeita ordem e harmonia como deveria ser. Anika finalmente se encontrava na sua zona de conforto, desfrutando de sua vida e seu sentido, de forma tranquila, livre de qualquer preocupação, como se o que acabará de vivenciar não passasse de um devaneio.

Entretanto, para sua surpresa à frente estava um belo rapaz estendendo-lhe a mão, como se estivesse a convidando para dançar. Hesitante, a menina aceita seu pedido, e o concede esta dança.

De olhos fechados para que pudesse sentir o ritmo lento da música, ela foi conduzida por ele, seguindo cada passo, um pra cá, dois pra lá, enquanto isso a trilha sonora ia se abafando ao fundo, e na sequência, aquele ambiente também ia deixando de existir. De repente, quando Anika abrirá seus olhos, ela estava adiante de um oceano iluminado pela luz do luar e um céu forrado de estrelas, uma paisagem de fato deslumbrante. Podia sentir o aroma fresco formado pelo quebrar das ondas nas rochas. A menina então se deitou, permitindo-se admirar todo o horizonte, enquanto cantarolava baixinho It's Been a Long, Long Time de Kitty Kallen. O som emitido pela água do mar a relaxou e lhe trouxe uma imensa paz interior, lentamente seus olhos começaram a ceder ao cansaço, até que enfim, se fecharam por completo, levando-a para um sono profundo.

Amanheceu com o gorjeio dos pássaros, mas ela já não estava mais no mesmo lugar, agora se encontrava em um pequeno bosque repleto de flores, que emanavam diferentes aromas e um clima agradável. Antes que desse conta do que estava acontecendo, ela se depara novamente com aquele homem de olhos amarelos, desta vez sorrindo para ela de forma simpática e afável. Detidamente ele se aproxima da moça oferecendo-lhe sua mão para segurar, agora mais confortável e confiante, ela respeitosamente assente sua mão, entrelaçando seus dedos nos dele, logo apertando firmemente, como se estivesse lhe sinalizando que está pronta para acompanhá-lo.

Por fim, assim como a letra de Killing me softly composta por Charles Fox, ela o acolhe como um velho amigo, enquanto ele a guia ao paraíso da vida após a morte.

Nayane Vallejo
Enviado por Nayane Vallejo em 25/11/2021
Reeditado em 11/12/2021
Código do texto: T7393342
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