Eu Escolho Você - Capítulo 5

A semana que se passou talvez tenha sido a mais difícil da minha vida, trabalhar estava sendo muito difícil e por vezes quase cometi erros em relatórios ou reuniões, por sorte conseguia resolver a tempo de levar uma bronca do meu chefe.

Tava doendo demais, agora talvez mais do que no começo, ter ido ao interior e ver Rogério no meio de toda aquela mentira me deixou muito mal, voltar para casa sem ele ao meu lado e sabendo que talvez nunca mais o fosse ver me trazia uma angustia profunda. Eu queria poder esquecer, mas cada dia estava mais difícil, e quando a sexta-feira chegou, normalmente o dia que eu o via, ficou pior.

Em casa eu escondi de todos o que tinha acontecido, meus pais não perguntaram nada, mas viram que eu não estava bem, só saia do quarto para jantar, isso quando comia com eles, mas fiquei feliz por perceber que eles estavam me dando espaço, talvez esperando que eu mesmo resolvesse meus problemas, isso era uma das vantagens naquela família, tinha muito amor, mas cada um respeitava o espaço do outro, porque sabíamos que quando precisássemos sempre teríamos um ao outro.

Depois de jantar eu fui até o quarto e me joguei na cama. Tinha bloqueado o Rogério em tudo, então não iria saber se ele me ligasse ou mandasse mensagem, talvez ele nem tenha voltado do interior ainda. Mas alguns minutos depois meu celular tocou, olhei e vi que era um numero desconhecido, na certa ele me ligando do celular de outra pessoa. Desliguei e voltei a me deitar, mas o numero continuou ligando, sem pensar no que eu fazia atendi.

- Me deixa em paz cara.

- Olha pela janela.

Eu me levantei e olhei, lá estava ele, encostado no carro, com uma das mãos no bolso.

- Sai aqui fora, vamos conversar.

- Não tenho nada para conversar com você, vai embora.

- Se você não vir eu vou chamar a policia.

- Você chamar a policia? Eu que devia chamar seu babaca.

- Não e o que a minha casa diz.

- Você não teria coragem.

- Tem razão, mas eu posso então ir até a porta, tocar a Campânia e pedir que sua mãe te chame.

- Se você fizer isso eu te arrebento.

- Seria fofo, mas você nem tem tamanho para isso.

Ele tinha razão, só os músculos de um dos braços dele davam dois dos meus, nunca entendi porque um homem tão forte tinha escolhido ser professor, daria mais certo como personal trainer.

- Vai embora Rogério, me esquece.

Desliguei a chamada e depois o telefone e me deitei novamente, minutos depois ouvi a campainha tocando, filho da puta. Escutei passos na sala, a porta se abrindo, e minutos depois minha mãe bateu na minha porta.

- Filho, o Rogério está te chamando lá em baixo. Não quis entrar.

- Já vou mãe.

Furioso eu calcei meus chinelos e desci usando uma camiseta e um short de dormir. Minha mãe não entendeu, mas com certeza viu o ódio nos meus olhos. Sai para o jardim pisando forte e bati a porta de entrada. Ali estava ele, com a cara mais sínica do mundo, me olhando e sorrindo como se nada tivesse acontecido.

- Oi.

- Oi.

- Precisamos conversar.

- Você pode tentar.

- Podemos ir para outro lugar?

- Eu não queria nem sair da minha cama, quanto mais ir a outro lugar. Fala logo.

Ele colocou as duas mãos no bolso como sempre fazia quando estava nervoso. Era irritante que em tão pouco tempo eu conhecesse todas as suas manias, vi quando ele respirou fundo, e então conseguiu falar.

- Eu fui à minha casa. Estava bem destruída. Teve ajuda?

- Não, não tive. Você não tem noção de como as pessoas ficam quando sentem ódio.

- Não te culpo. E juro que não estou com raiva. Eu mereci aquilo, foi o mínimo que você devia ter feito. Talvez outra pessoa em seu lugar tivesse feito pior.

- O que, por exemplo? Dado um tiro em você?

Ele riu nervoso. Eu não estava achando graça de nada.

- Rogério o que você veio fazer aqui, eu disse para não me procurar mais.

Ele ficou em silêncio, tinha perdido a coragem de novo. Eu suspirei, já estava chorando de novo. Que merda, porque eu tinha que ser tão frágil perante ele, eu não queria que ele soubesse o quanto tinha me feito mal. Vendo-me em lagrimas ele tentou se aproximar, mas eu estiquei a mão impedindo.

- Não, não chega perto de mim, você não tem esse direito.

Quando me percebi já estava chorando de soluçar, senti minhas pernas tremendo e cai de joelhos no chão. Ele também estava com lagrimas nos olhos, então se ajoelhou a minha frente, mas ainda a uma distância com medo que eu o repelisse.

- Você tem noção de como doeu quando eu cheguei à escola e ouvi aquela mulher dizendo com a maior naturalidade que você tinha uma esposa? Que ela tinha ido te buscar mais cedo e te levado para casa? Você sabe como eu chorei quando eu cheguei à sua casa e encontrei fotos da sua vida dupla com aquela mulher? Quando eu descobri que tinha cinco anos que você era casado?

Ele ficou em silêncio.

- Eu confiei em você, eu entreguei meu coração, minha vida, minha intimidade, você conheceu minha família, meus pais, você foi o primeiro homem com quem fiz amor e não sexo. E você nunca nem pensou em como seria quando eu descobrisse.

- E ia te contar...

- Quando? Quando você ia me contar? Quando você fizesse dez anos de casamento? Quinze anos? Era esse o seu plano, que eu fosse seu amante para o resto da vida?

- Douglas eu...

- E quando me contasse como seria? Ia terminar comigo para ficar só com ela? Ou pensou que eu aceitaria essa vida dupla?

Ele abaixou a cabeça, como se concordasse com minha última frase. Eu me levantei do chão.

- Você e louco, achou mesmo que eu aceitaria continuar com você sabendo que tem outra?

- Eu não planejei isso, não planejei te conhecer, não planejei me apaixonar por você. Não planejei manter essa mentira, mas aconteceu.

Ele se levantou e se aproximou de mim, eu não me afastei.

- Quando eu te conheci naquele cinema, foi como se um mundo novo se abrisse para mim, não vou negar, eu já tinha tido casos com homens antes, não durante o meu casamento, mas tudo tinha sido tão sexual, só pelo prazer. Mas quando olhei nos seus olhos, quando apertei sua mão, quando te beijei pela primeira vez, foi como se todo o resto tivesse mudado. Nada mais importava.

Ele se aproximou mais. Estávamos a centímetros de distância.

- Eu não queria, mas me apaixonei completamente por você, de um jeito que nunca me apaixonei por nenhuma mulher ou homem. Tinha algo em você que me trazia para perto, mesmo quando eu não queria estar. Passar a semana sem te ver, era torturante, como se sempre faltasse algo dentro de mim. Eu tentei Douglas, tentei te esquecer, mas foi impossível, eu não queria, mas quando vi eu já era seu.

Que ódio, eu estava com vontade de agarrar ele e beijá-lo como se minha vida dependesse disso. Mas por pouco consegui me conter e o afastei.

- Nada disso mais importa você e casado, tudo terminou quando eu entrei em sua casa e descobri. Eu não quero mais te ver. Quero esquecer você, e vou conseguir.

Virei às costas e fui em direção a minha casa, mas voltei para ele bravo, gritando e chorando. Comecei a dar socos com o punho em seu peito, surpreso ele apenas segurou meus braços evitando que eu o machucasse.

- Eu to com ódio de você, de tudo que eu pensei quando te conheci. De ter me apaixonado por você e hoje saber que você e um lixo como todos os outros que conheci antes de você. Eu fiz planos com você, e agora você destruiu tudo. Então volta para sua esposa e segue com sua vida.

- Não tem como eu fazer isso.

Eu parei, ele ainda segurava minhas mãos. Olhei para ele sem entender.

- Como assim?

- Eu pedi o divorcio, naquele domingo mesmo, uma hora ou duas depois que você saiu.

Percebendo que eu estava me acalmando ele soltou minhas mãos, as deixei caírem de lado e apenas o encarei.

- O que?

- Assim que você saiu pelo portão eu percebi que era você que eu amava. Quer dizer, eu sempre soube, mas tive mais certeza quando percebi que você não tinha feito um escândalo, quer dizer, você me amava tanto que preferiu me perder a fazer um escândalo e dificultar minha vida, sim, porque meus pais são amorosos, mas dizer para eles que eu sou apaixonado e que estou com outro homem, não foi à conversa mais fácil que tive na vida. Por incrível que pareça, Adriana aceitou muito melhor que eles.

Eu ainda estava sem palavras. E em duvida se tudo aquilo era verdade.

- Ela percebeu que eu tinha um caso com você quando viu nossos olhares na mesa, nos estudamos juntos na faculdade, foi ali que começamos a namorar, e eu já tinha contado para ela minhas aventuras com homens. Quando você deu todo aquele discurso sem quase não tirar os olhos de mim ela somou dois mais dois e adivinhou. Fiquei surpreso, mas ela parece ter ficado bem feliz quando eu pedi o divorcio algo sobre ela nunca ter sido a favor daquele casamento, parece que só casou comigo por pressão dos pais. Eu não entendi nada e fiz essa mesma cara que você ta fazendo agora, afinal ela foi uma esposa perfeita, em todos os sentidos.

A cara a qual ele se referia era a minha de descrente com tudo o que ele estava falando.

- Depois que ela foi embora, eu consegui conversar com meus pais, foi difícil, tive medo. Mas consegui. No começo meu pai quase me bateu, minha mãe chorou mais do que nunca. Mas então eu disse que por mais que eles não gostassem aquela era a realidade. Contei para eles que o homem a quem me referia era você. E meus pais estão ansiosos para conhecer sua família, assim que marcarmos para eles virem aqui.

Ele sorriu, e ficou esperando eu dizer algo. Eu demorei um pouco, mas consegui reunir palavras.

- E você acha que isso muda algo?

- Claro que não, eu sei que preciso reconquistar sua confiança. Mas gostaria que você não dificultasse muito para mim.

- Você não tem ideia de como eu vou dificultar.

Ele se aproximou, colocou as mãos nas minhas costas e apertou meu corpo contra o seu.

- Eu amo você, e pode ter certeza que vou fazer tudo que eu puder para te reconquistar, nem que eu tenha que fazer loucuras, me expor ao ridículo. Eu vou ter você de novo só para mim. Porque nossa história não vai acabar aqui.

Nunca que eu diria que estava completamente abalado com aquela declaração, mas talvez ele soubesse, meu coração estava tão acelerado que ele devis estar ouvindo as batidas próximas ao seu peito. Quer dizer, ele tinha sido um canalha, mas me escolheu, mudou toda a vida para estar comigo, e agora me prometia amor eterno. Não tem como eu dizer não, e não disse apenas me aproximei e o beijei com força, matei a saudade daquela boca perfeita, daqueles lábios carnudos e tão envolvente, e incrível como nossos encaixes eram perfeitos. Realmente tínhamos sido feito um para o outro.

Quando ele me soltou em comecei a rir. Ele sorriu de volta.

- Eu te chamaria para minha casa agora, mas um maluco a destruiu.

- To sabendo. Mas não precisa se empolgar, você não vai ver esse corpo tão cedo.

- Como assim?

- Como castigo por tudo que você fez só vai transar de novo depois do casamento, isso se você quiser casar comigo.

- Sério? Você vai mesmo fazer isso comigo?

- Vou sim, até lá, use suas mãos.

Eu me afastei dele que ainda não parecia acreditar no que eu estava dizendo.

- Ah não Douglas, minha casa não e castigo suficiente?

- Não mesmo, e bom que assim você pensa duas vezes antes de mentir para mim de novo.

- Mas posso pelo menos beijar você né?

- Sim, mas agora eu vou entrar, está tarde, minha mãe não gosta que eu fique na rua essas horas.

Sorrindo sapeca eu me afastei dele, quando cheguei à porta e olhei para trás ele ainda estava em pé sorrindo para mim. Então gritou com as mãos na boca.

- Eu amo você.

Eu sorri e entrei em casa, então me encostei-me à porta, meu coração ainda estava acelerado, mas agora estava feliz, como se nada de ruim tivesse acontecido. Esperava não me arrepender daquela decisão, mas quando se ama alguém como eu o amava, dar outra chance era uma consequência.

CleberLestrange
Enviado por CleberLestrange em 16/08/2022
Código do texto: T7583853
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