56 ideias de Um amor para recordar / A walk to remember | um amor para  recordar, um amor pra recordar, filmes românticos

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Eu acredito em amores eternos, daqueles que acompanham a gente pela vida inteira, como se tempo e amor se fundissem num só elemento, tornando-se imutável, indestrutível.
Eu acredito em amores eternos, daqueles que vão com você para qualquer lugar, não importando o quão distante você esteja, por que a pessoa amada reside em seu próprio coração.
Acredito em amores eternos e sublimes, capazes de reconsiderar tudo, com suavidade, ternura e perdão. Acredito, sim, em amores para toda a vida, e além da vida, pois seria um tipo de amor unido à própria alma, e sem alma a vida não tem razão...
Amores eternos existem sim, e superam qualquer coisa, mesmo quando ninguém mais acredita neles, eles continuam sempre à espreita, esperando apenas um olhar, um retorno, uma reconciliação.

                                                                                                                                                      NICHOLAS SPARKS

 

 

 

 

 

UMA PAIXÃO PARA RECORDAR

 

 

Ricardo estava um pouco atrás de Laura, na fila da bilheteira do teatro. Reconheceu-a facilmente.

Ela tinha sido sua colega de faculdade e por um acaso, após oito anos sem se verem, o destino colocara-os ali, frente a frente na bilheteira do teatro. Iam ver "Hedda Gabler", de Henrik Ibsen.
A peça atraíra-os por ser muito famosa.

Após breve troca de palavras, verificaram com algum desagrado que os bilhetes que lhes calharam colocaram-nos algo afastados um do outro. A lotação entretanto esgotara.

Mais tarde, enquanto decorria o intervalo, Laura olhara Ricardo por várias vezes e pensativa, sorrira para si mesma pela ironia do destino. Tal como George, o marido da protagonista da peça, também o seu marido queria à força ser um escritor de sucesso. E tal como o outro também gostava de beber, dizia que assim  estimulava a criatividade, à moda de Bukovsky. Ele passava os dias em casa, tentando escrever, ciente que o que a esposa ganhava dava para sustentar a casa.

Entretanto deu sinal de fim do intervalo e as luzes fizeram fade out.

A segunda parte da trama decorreu num ambiente de ciúmes, à conta de uma amiga que criou ali com os protagonistas um triângulo amoroso. O resultado foi o suicídio do amigo de Hedda, por incitamento desta e posteriormente o dela própria, à conta do despeito e desgosto que sentiu por ter sido preterida.

No final da peça, à saída, Laura tentou encontrar Ricardo, mas no meio da multidão, perdeu-o.

Algo desapontada pois ainda gostaria de conversar com ele e saber mais coisas da sua vida, foi para casa.

Cerca de um mês depois, caminhando na rua onde ficava o teatro em que tinham assistido à famosa peça, Laura viu Ricardo parado junto à bilheteira. Dirigiu-se a ele, sorridente e perguntou-lhe se queria ver a peça outra vez. Ele também sorriu mas em vez de comprar o bilhete e de forma desconcertante, deu-lhe o braço e convidou-a para tomar um café. Surpreendida, ela aceitou e foram até uma esplanada perto, tendo-se sentado a uma mesa.

Ela fixou-o e então questionou:
- Na realidade, o que estavas ali a fazer?

Ricardo sempre fora tímido, ela conhecia-lhe essa faceta.

- A pensar com os meus botões e a recordar o passado, como é tão surpreendente...

Laura sorriu ao ver o embaraço do outro perante o seu olhar inquisidor.

Ricardo então falou, mas sem olhar para ela:

- Queres mesmo saber?  Na realidade senti saudades tuas, lembrei o tempo da faculdade. Por um acaso da sorte, esperava mesmo ver-te de novo. Desse tempo sabes o que mais me marcou? Foi uma noite de Junho em que nos deitámos na relva do campus e identificaste perante mim as principais estrelas, ali bem visíveis graças ao céu muito limpo. Foi algo que passados todos estes anos nunca esqueci…

Ela olhou-o e seu coração bateu descompassado. Como ter coragem para lhe confessar que naquela noite em que olharam as estrelas e ele depois pousou a mão sobre a dela, o coração quase estourou de emoção?

Sim, amara o seu jeito trapalhão e introvertido. Ricardo sempre reconhecera que ela era muito inteligente, mais que ele, e isso sempre o fizera admirar as mulheres intelectualmente dotadas, para além da beleza, pois segundo dizia, esta desvanece com o tempo mas a inteligência fica para sempre com a pessoa.

Depois, após terminarem o curso, cada um seguiu seu destino.
Entretanto ela casara, tinha um filho que adorava, mas ao marido apenas se habituara, era um companheiro o quanto baste...

Ricardo confidenciou-lhe que namorara algumas vezes, um ou dois desaires mas nada de muito grave. Disso sobrara apenas um amor, muito forte, e esse nunca conseguira esquecer.

Ela olhou-o demoradamente e percebeu tudo pela forma como ele corara. Pobre querido... Então era isso…

Ali, sentada numa mesa da esplanada, refletiu sobre a situação de ambos.

Por fim, no caso dela, concluiu: ele fora uma paixão que depois se amenizara, amara-o na altura mas agora estava casada, tinha um filho e aquela situação não tinha volta a dar. Não enveredaria por caminhos sinuosos, mesmo tendo em conta que o marido não prestava…

Após mais alguns minutos de conversa entrecortada por pausas, penosas para os dois, resolveu que não voltaria a encontrar-se mais ou a conversar com ele, não queria acender chamas do passado, não fazia o seu género.

Despediram-se e ela recomeçou a caminhar com passo rápido, dirigindo-se para casa, onde seu marido, num domingo à tarde, decerto estaria sentado no sofá vendo um jogo de futebol e bebericando uma cerveja.

 

 

 

 

Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 10/07/2023
Reeditado em 11/07/2023
Código do texto: T7833254
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