O Retorno do Capitão Nemo
Parte 2

 

As conturbadas terras do Chifre da África ficavam para trás, o John Wayne penetrava cada vez mais longe nas águas do Golfo de Áden e seus mistérios. A nossa volta navegava um misto de embarcações civis e militares provenientes de várias partes do mundo, talvez fosse o único lugar na Terra onde navios de guerra americanos passavam tão perto de outros navios de guerra vindos da Rússia, China e até mesmo do Irã e todos se tratavam com cordialidade, afinal combatiam o mesmo inimigo.
Eu e Steve dividimos uma cabine no interior do navio. Não era muito espaçosa, mas se comparada aos pequenos quartos de hotel pelos quais estivemos mundo afora até que era bem agradável. A primeira noite no navio também foi muito agradável, passamos algum tempo no convés onde Steve de vez em quando apontava para luzes no céu, não importa o que dizem os ufólogos, sabíamos que aquelas luzes não eram ET´s, havia guerra dos dois lados daquele braço de mar, provavelmente eram aviões militares em patrulha ou missão.
- Veja França – falou Steve olhando para o céu – as pessoas mundo afora estão assistindo algum programa de entrevistas na TV com alguma celebridade e nem imaginam as batalhas que acontecem em todo o mundo. Talvez aquelas luzes sejam de algum avião pilotado por alguém com saudades de casa.
- Ou não – disse eu – vai ver são alguns “exterminadores do futuro” indo apagar mais algum alvo.
Steve compreendeu, eu chamava de “exterminadores do futuro” os aviões não tripulados dos Estados Unidos, os drones, todos sabiam serem eles a principal arma de ataque contra o terrorismo e que decolavam de uma base no Djibout. Apesar de sua eficiência de ataque era consenso que não distinguiam inocentes de culpados e eram responsáveis por muitas mortes sem julgamento prévio, mas como muitas outras armas os Estados Unidos consideravam os drones como um instrumento legítimo de defesa e ataque.
Ainda conversando um pouco sobre armas e geopolítica eu e Steve caminhamos pelo convés, os homens do navio substituíram a surpresa pela cordialidade, muitos liam as matérias de Steve, também se surpreendiam ao saber dos locais por onde andei. Apesar de serem militares muitos ali nunca estiveram em batalha e para eles nós éramos veteranos de guerra, pois já estivemos em dúzias de conflitos e, o mais importante, sobrevivemos para contar história. Tal ambiente descontraído nos fazia às vezes esquecer de que estávamos em um navio da marinha americana em missão pelas águas mais perigosas do mundo, Steve e eu estávamos acostumados a ambientes hostis e conturbados onde era perigoso sair ao ar livre, por isso desfrutávamos tanto aquele momento, parecia até estarmos em uma viagem de férias. Porém não era esse o caso e uma súbita movimentação no convés nos trouxe de volta a realidade.
Percebemos que o navio diminuia a velocidade e parecia fazer uma manobra, desviava um pouco para o sul de sua atual rota, algumas ordens eram dadas e os marinheiros assumiam posição de prontidão. Nisso tudo um suboficial de 2ª classe aborta a mim e a Steve:
- Senhores, tenho ordens do Capitão Virgill para deixarem o convés e seguirem para seus alojamentos.
- Diga por que isso suboficial? – quis saber Steve.
- Não posso informar senhor, peço apenas que cumpra a ordem, é para segurança dos senhores.
- Pois bem suboficial, iremos nos recolher agora – disse ele.
Assim abandonamos o convés, não sem antes notar que alguns soldados armados dirigiam-se a um bote, eles iam ao mar. A leste divisamos o que poderia estar causando tudo aquilo: um fraco par de luzes brilhava não muito longe da posição do contratorpedeiro.
- França – perguntou Steve – aposto que assim como eu você está louco para descobrir o que está acontecendo não está?
- Pode apostar Steve, acho que nossa cabine pode esperar, que tal fazermos uma visita ao Capitão? Ele não pode nos mandar para nenhuma corte marcial por desobedecermos ordens, somos seus convidados não somos.
Cientes de nosso ato de indisciplina tomamos o caminho do passadiço, local de comando do navio. Havia um clima de tensão no ar, os tripulantes estavam em alerta e não foi surpresa alguma nossa entrada ser barrada por um fuzileiro que fazia a guarda da ponte.
- Sinto muito senhores – disse-nos ele – entram aqui só por ordens do Capitão.
- Pois pode acreditar – disse Steve – que o Capitão Virgill já vai dar a ordem.
Mal ele acabou de dizer isso surgiu na escotilha outro marinheiro,  o mesmo suboficial que nos levou a ordem, e falou:
- Com os diabos! O capitão Virgill estava certo, ele pediu para ver se vocês estavam aqui na porta. Disse que o senhor Steve nunca foi bom em obedecer ordens. Entrem senhores, o capitão os espera.
Assim entramos, pela primeira vez conhecia uma sala daquelas, homens e mulheres trabalhavam debruçados sobre computadores e cartas náuticas eletrônicas, ordens e comandos eram ouvidos. Não vi nenhuma roda de leme, ao contrário, eu parecia estar em algum episódio da série Jornada nas Estrelas.
Infelizmente o capitão Virgill não foi o primeiro a nos receber:
- Ora! O que fazem aqui? – bradou o subtenente Daves – Não é permitida a presença de civis aqui, quanto mais um estrangeiro!
Daves parecia querer nos por para fora aos gritos, mas eis que para nossa salvação surgiu o capitão.
- Deixe-os senhor Daves – disse ele – eu os chamei aqui, acalma-se não há segredo nenhum para ser revelado.
- Mas senhor – contestou Daves – eles não tem direito a acesso a ponte, isso é descumprimento de conduta militar. Não podemos expor nossos métodos e tecnologia dessa forma.
- Acalma-se Daves, estes homens são de confiança e sua presença aqui é de conhecimento do almirantado. Não há norma alguma sendo descumprida.
Daves mais uma vez se deu por vencido e se afastou.
- Desculpem o Daves senhores, ele apenas cumpre o que é certo, e isso é louvável. – desculpou-se o Capitão Virgill.
- Tudo bem capitão – falei – mas agora, se não for descumprir nenhuma norma, o que está acontecendo?
- Piratas senhor França – disse ele – há alguns instantes recebemos o pedido de socorro de uma embarcação e iremos aborda-la. É uma embarcação civil, parecem franceses, disseram ter sido atacados por piratas somalis e que há feridos a bordo. Localizamos o barco no radar, é um iate, também localizamos uma lancha seguindo rápido para o sul, provavelmente são os piratas em fuga, não dá mais para alcança-los, mas se há alguém vivo no iate em breve saberemos, nossos homens estão quase lá.
O capitão pediu licença e voltou ao comando da operação. Todos estavam tensos esperando um contato dos mariners enviados para a ação de abordagem, havia sempre o risco de piratas terem ficado no barco a espreita. Observamos de longe, quietos em um canto e cientes da importância de não interferir. Ordens eram dadas, códigos eram trocados, a única coisa que pude entender era que o bote estava retornando, de certa forma senti alívio com isso. Olhei para Steve e ele parecia igualmente aliviado.
O capitão Virgill pareceu ter percebido a nosso angústia e veio até nós.
- Senhores, más notícias – disse ele – é um iate sim, uma barco de bandeira francesa, não encontramos piratas, eles inutilizaram o barco e foram embora levando a tripulação de refém, iremos comunicar o comando da marinha e ela deve entrar em contato com os franceses, infelizmente isso é problema deles agora. Nossos fuzileiros estão retornando agora e trazem alguém com eles.
- Alguém com eles? – quis saber Steve – mas o senhor disse que a tripulação foi sequestrada.
- Sim Steve, mas deixaram alguém para trás, uma mulher, a única a  escapar, e ela agora será nossa hospede nesse navio. Agora me deem licença, devo recebê-los. Ah, quero que vão para sua cabine, e desta vez é sério.
Nos despedimos do capitão. Apesar da curiosidade nos dirigimos a cabine, já havíamos abusado muito da hospitalidade de nosso anfitrião e não queríamos causar problemas. Mesmo assim ficamos pensando no acontecimento e em quem seria e como teria escapado a tripulante do pequeno iate.
- O que me diz disso França? – perguntou Steve enquanto descíamos – Não seremos os únicos hospedes nesse navio afinal.
- Bem, pelo menos continuaremos os únicos a vir por vontade própria. Mas de qualquer forma teremos que esperar até amanhã para conhecer nossa companheira de viagem.
Realmente teríamos de esperar até o dia seguinte, agora era hora de repousar, ou pelo menos tentar. Nunca gostei muito de velejar, o balanço do mar não me enjoava, mesmo assim a sensação de estar longe da terra firme sempre me provocou um pouco de ansiedade. Talvez por isso não consegui descansar bem aquela noite, a cada vez que fechava os olhos lembrava estar em alto mar, o som sempre presente das máquinas do John Wayne reforçava isso. E finalmente quando consegui cerrar os olhos e dormir tive estranhos sonhos, e nos sonhos via o contratorpedeiro John Wayne sendo atacado por estranhas criaturas marinhas de múltiplos tentáculos enquanto a tripulação desesperada tentava enfrentar a ameaça armada de machados, se não bastasse isso vi um navio pirata ao estilo dos filmes, um velho galeão com uma bandeira de caveira, aproximar-se do navio e invadi-lo com cordas e ganchos, como se fosse possível um navio de ponta da U.S. Navy ser derrotado por um velho barco de madeira do século XVII! Meu sonho terminou com a risada de um pirata com tapa olho, e eu reconheci como a figura do subtenente Daves.
Ao amanhecer já encontrei Steve de pé, ele não parecia estar com uma cara agradável.
- Acordou cedo Steve? – perguntei.
- Tive um pesadelo, sonhei com o subtenente Daves, ele descia de um disco voador.
- Bem, Daves visitou meus sonhos também, só que no meu ele era um pirata. – falei.
Rimos um pouco um do outro por aquela infeliz coincidência, nos arrumamos e subimos ao convés. Estávamos curiosos para conhecer a mulher resgatada pelos mariners. Ao subirmos não tínhamos como deixar de admirar a paisagem majestosa do Oceano Índico e suas águas azuis. Estávamos bem no meio do Golfo de Áden  e apesar de não avistar nenhum outro navio sabia ser aquela uma rota movimentada, a noroeste de nosso ponto ficava o Mar Vermelho e o Canal de Suez, ligação entre Ocidente e Oriente, a leste o golfo desembocava e encontrava o restante do oceano, muitas e muitas milhas a frente localizava-se o subcontinente indiano, e ao norte encontrava-se a península arábica com seus desertos, seus sheiks e seu petróleo. Além dessa península, a nordeste, ficava o tão disputado Golfo Pérsico, outro ponto de tensão e escoamento de petróleo onde se destacavam o Iraque e o Irã.
Não demorou muito eu e Steve fomos chamados ao passadiço, ao que parece o que capitão pretendia nos apresentar alguém.
Ao chegarmos a ponte esta era vigiada por um fuzileiro, mas este não fez como seu colega do turno anterior e nos deixou entrar sem problemas. Lá encontramos o capitão e uma jovem e bonita mulher em trajes civis a seu lado, ela nos olhou um pouco desconfiada, com certeza aquela era a mulher resgatada na noite anterior.
- Senhores – disse o capitão – quero lhes apresentar alguém. Esta é a senhorita Claire Marant. Senhorita Marant, estes são Wood Stevenson e Júlio França, jornalistas convidados no navio.
- Prazer senhorita – dizemos eu e Steve ao mesmo tempo.
- Prazer senhores – disse ela quase sem sotaque – o capitão Virgill me disse que havia outros civis a bordo, mas não imaginei que fossem jornalistas, ainda mais que houvesse um não americano. Pois o senhor não é americano não é mesmo monsieur França.
- Não mademoiselle Marant. Sou brasileiro, convidado pelo capitão Virgill.
- Não sabia que os navios de guerra americanos aceitavam jornalistas estrangeiros a bordo. – disse ela.
- Como disse senhorita Marant, são meus convidados, e agora poderá ficar com eles pelo tempo que permanecer em meu navio. – disse o capitão.
- Não pretendo ficar aqui por muito tempo Capitão Virgill, exijo que me consiga transporte ou comunique a um navio francês onde estou.
Eu e Steve nos olhamos, ao que parece a francesinha não gostava de se ver contrariada.
- Senhorita, como eu já lhe disse – continuou o capitão – e vou falar de novo, uma vez que os senhores França e Steve não estavam presentes, já recebemos um comunicado de um navio de patrulha francês, os piratas somalis foram capturados e toda a tribulação de seu barco foi resgatada sem ferimentos. Avisamos aos franceses que estamos com a senhorita e assim que encontrarmos outro navio americano você será conduzida até eles.
- Quer dizer então que não podem mudar de rota? Mas porque isso? Estão em alguma missão secreta por acaso?
Claire Marant não aceitava explicações superficiais.
- Senhorita Marant entenda – o capitão Virgill parecia estar perdendo a paciência – a marinha americana não dá detalhes de suas operações, agora por favor acompanhe estes senhores e fique com eles no convés do navio onde eu possa vê-los!
Pela ênfase dada ao final da frase o capitão parecia estar querendo se livrar de sua hospede indesejada o mais rápido possível e pensou em nós dois para ajuda-lo com isso.
- Mon Die! – exclamou Claire Marant – tudo bem capitão, mas as autoridades francesas ficarão a par disso, não pedi para vir a bordo desde navio, isso é um sequestro, estaria melhor nas mãos dos somalis!
O capitão passou as mãos pelo rosto e nos pediu:
- Senhores por favor, levem a senhorita Marant para conhecer o navio.
Assim eu e Steve tivemos nossa primeira missão em um navio de guerra: servir de companhia para aquela estranha passageira francesa.
- Isso é um ultraje! – continuou a ralhar Claire enquanto deixávamos o passadiço – Os americanos acham que podem mandar em todo mundo.
- Calma senhorita Marant – quis tranquiliza-la Steve – o capitão quer apenas o seu bem, ele não pode desviar sua rota, caso o contrário já teria dado um jeito de você voltar para os seus.
- Como assim não pode desviar de rota? Não pode ao menos avisar um dos muitos navios da marinha francesa que patrulham essas águas? O que ele esconde?
A curiosidade de Claire pelo destino do navio não passou despercebida por mim.
- Está muito interessada neste navio não senhorita Marant? – perguntei.
Ela me olhou por alguns instantes, parecia ter sido pega de surpresa pela pergunta e pensava bem no que falar.
- Nem tanto senhor França – respondeu finalmente – apenas gostaria de saber para onde vamos. Os americanos são inimigos de meio mundo e não gostaria de ser vítima de algum terrorista.
- Se é assim – agora era Steve quem falava – o que diabos a trouxe justamente para esta parte do mundo? Terroristas não faltam por aqui, e eles gostam tanto de franceses quando gostam de americanos.
Mais uma vez a senhorita Marant ficou sem palavras.
- Mon Die! – ela apenas exclamou – Jornalistas, só sabem  fazer perguntas! – e se afastou um pouco de nós.
Nesse meio tempo Steve me olhou e disse:
- Acho que nossa amiga esconde alguma coisa França.
- Sim Steve, essa história está muito mal contada.
Resolvemos seguir a senhorita Marant mais de perto. Eu e Steve aprendemos uma coisa muito importante em nossa profissão: saber quando as pessoas estão mentindo.
 
O restante da manhã correu sem problemas, almoçamos com a tripulação do navio. A todo o momento tentávamos arrancar algo mais da boca senhorita Marant que não fosse reclamações, infelizmente nossos esforços para isso eram nulos. Ela só falava em ir para casa. Por outras vezes a perdíamos de vista e ela era traga até nós por algum fuzileiro, sempre encontrada em locais aonde não deveria estar.
Steve me cochichava algumas vezes dizendo não confiar na moça e eu pensava o mesmo. Mas para nosso azar não tivemos mais nenhum contato com o capitão aquela manhã. Na verdade todos os tripulantes, suboficiais e oficiais do navio mantinham-se super-ocupados e a ordem parecia não trocar palavras com os civis. O estranho era que o navio mantinha a mesma posição, reparei nisso a manhã toda e comentei com Steve, estávamos navegando em pequenos círculos, como se esperássemos alguém.
Em dado momento percebemos mais dois navios aproximarem-se pelo horizonte sul, pareciam ser bem grandes. Logo os identificamos: um menor, parecia um encouraçado e um mais distante, porém maior, era um navio aeródromo, um porta-aviões norte-americano. Aquela visão nos deixou tensos, agora entendíamos a espera, o contratorpedeiro John Wayne estava ali para se encontrar com outros navios americanos. Algo estava para acontecer.
- Acho que há algo aqui Steve – falei para meu amigo.
Claire ouviu aquilo e disse:
- Os americanos acharam o peixe que tanto procurávamos.
Eu e Steve imediatamente olhamos para ela e meu amigo disse:
- Como assim senhorita Marant?
Ela pega em flagrante tentou se desculpar:
- Nada senhor Steve, mas pelo número de navios aqui parece que seus amigos ianques encontraram alguma coisa.
- Mas não foi isso o que você disse Claire – falei – você disse “procurávamos” e não “procuram”. O que esconde de nós?
Claire se viu contra a parede. Eu e Steve a encurralamos. Ela teria que falar. Inesperadamente algo aconteceu, algo que faria a resposta de Claire ser adiada indefinidamente.
Tudo foi muito rápido. Sentimos todo o navio balançar, um baque surdo e explosivo sacudiu todo o casco. Foi tão violento que nós três caímos no chão. Tentamos nos recobrar e nos levantar. A nossa volta os tripulantes corriam para um lado e para outro sem saber o que os atingiu.
De repente vimos uma grande quantidade de fumaça subir da popa do navio, ao que parece algo havia explodido a bordo.
- Steve! – gritei – o que diabos está acontecendo?
Steve se virou e olhou para Claire, ela ainda estava no chão e disse:
- Não olhe para mim com essa cara, não faço ideia do que está acontecendo. Vai ver eu não estava errada e este navio está sofrendo um ataque terrorista.
- De qualquer forma é melhor ficarmos juntos e ir falar com o capitão – falou Steve.
Estendemos as mãos para Claire e a ajudamos a ficar de pé. Decididos a ir até o passadiço corremos pelo convés. Não avançamos muito, em certo ponto um marujo nos parou, ele segurava coletes salva-vidas e nos disse:
- Senhores, ordem do capitão, ele quer vocês em um bote. Devem deixar este navio imediatamente!
- O que está acontecendo soldado? – quis saber Steve.
- Algo nos atingiu senhor. A casa de máquinas está em chamas. Vão para o bote, vou leva-los até ele. Há outros de nossos navios próximos de nós. O capitão vai tentar salvar este barco, mas se não conseguir ele quer que estejam a salvos.
Compreendendo a gravidade da situação acompanhamos o marinheiro, ele nos alojou em um pequeno bote inflável e com a ajuda de outros tripulantes ele o desceu até as águas ainda calmas do oceano. Agora estaríamos por nossa conta, eu, Steve e nossa companheira involuntária Claire Marant.
Steve tinha experiência com o mar, gostava de velejar. Por isso conseguia manobrar bem o pequeno bote a motor e se afastar do navio. A distância era possível ver fumaça e um pouco de fogo na popa do John Wayne, ao contrário do que pensávamos o navio parecia não estar muito avariado, mas estava totalmente a deriva. Ao longe, e aproximando-se cada vez mais, podíamos ver o grande porta aviões e o encouraçado se aproximarem. Um helicóptero também se aproximava do contratorpedeiro, provavelmente enviado por um dos dois navios.
- Acho que vão conseguir salvar o navio – disse Steve – os danos não parecem ter sido tão grand...
Ele mal pode terminar a frase. Vimos assombrados uma nova explosão sacudir o John Wayne, um buraco se abriu na popa do navio e mais fumaça escapou por ele. Apesar de não ser suficiente para levar o barco a tona imediatamente não havia dúvidas de que isso aconteceria em breve.
Logo após a explosão outro barulho nos assustou. Uma vibração desconhecida sacudiu nosso pequeno bote. Vindo do Jonh Wayne um sombra submersa avançava com velocidade formando uma grande onda que quando passou por nós ergueu e virou o bote. Nós três caímos água.
Aturdido olhei em todas as direções, vi Steve, mas não vi sinal de Claire.
- Onde ela está? – gritei nadando em direção a Steve.
Nesse momento ela emergiu, tossindo e colocando água para fora. Eu e Steve nadamos até ela e conseguimos segura-la e acalma-la.
- O que foi isso? O que foi isso? – ela repetia.
- Calma, você está bem. Lembre-se, estamos com coletes. É só manter a calma, não iremos afundar. – eu falei.
Como que para me contrariar nós três sentimos um grande empuxo vindo debaixo. Era impossível resistir a ele.
- O que diabos está havendo agora! – berrou Steve.
Nós tentamos nos segurar uns nos outros e bater as pernas para não afundar. Porém a força de sucção era enorme, um pequeno redemoinho se formava sugando tudo.
Não podíamos resistir mais, acima de nossas cabeças o céu azul dava adeus e nós três afundamos no mar do Golfo de Áden.
Luciano Silva Vieira
Enviado por Luciano Silva Vieira em 11/06/2013
Reeditado em 11/06/2013
Código do texto: T4336644
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