A Aldeia (XXXV)
 
Quando partiram e já estavam no deserto, Amom avistou uma caravana, ele se preocupou porque os mauritanos eram belicosos, mas quando a caravana se aproximou ele percebeu que era de mercadores que levavam suas mercadorias nos camelos. Eles ofereceram ajuda e os três subiram nos camelos e foram com eles até ao Oásis dos Gambas.
- Atrasamos um dia ontem, hoje adiantamos muitas horas com a ajuda dos mercadores, encontrar essa caravana foi providencial, disse Amom. Esses árabes são pessoas prestativas, mas aqui nesse lugar é assim, pode se ter a sorte de encontrar pessoas prestativas e que nos ajudam, mas também os sicários, que roubam e matam...
No oásis havia uma pequena comunidade dos Gambas, que negociavam a água que era uma raridade no local, e também as tâmaras e outras frutas regionais, trocando-as por objetos que os viajantes tivessem.
Quiseram trocar uma adaga pela espada de Amom, mas ele não aceitou, e quando forçaram para que a negociação fosse realizada, ele alegou que a espada tinha sido de seu pai e que era uma relíquia de família, que a deixaria para seu filho. No final ficaram com o arco e flecha de Aulah em troca de água e tâmaras que foram de grande serventia na caminhada seguinte. Entre os gambas, todas as negociações eram feitas na base do escambo, todas as aquisições eram realizadas através das trocas, não circulava dinheiro entre eles.
 
Eles chegaram à Aldeia Maurid quase ao entardecer. Numa grande área circular, isolada por cerca viva baixa, mas de uma altura que impossibilitava os animais de saírem, eles criavam cavalos árabes. Era uma área tão grande que lá dentro haviam árvores plantadas com sombras acolhedoras e um pequeno regato, e numa outra área lateral havia uma plantação de capim colonião para a pastagem dos animais.
Tão logo Amom expôs ao chefe da tribo os motivos que os levavam ali, ele os convidou para jantar, onde serviram carne de veado ao molho de ervas, e ficaram conversando até a entrada da madrugada, mas só na manhã seguinte, foi que o chefe, depois de consultar os seus conselheiros, resolveu dar uma resposta e aderir à causa de Amom.    
Foi com toda formalidade que o chefe Maurid lhe disse:
- Senhor comandante, treze dos nossos melhores guerreiros foram escravizados, nem sei se agora estarão vivos ou mesmo se foram enviados para o Brasil, mas vamos lhe dar apoio. Se os outros povos também aderirem à causa, então poderemos lhe oferecer um grupo de oitenta guerreiros armados.
- Quais são as armas que vocês têm, chefe?
- Arcos, flechas, lanças e cerca de vinte arcabuzes.
- Ótimo, respondeu Amom, quem poderia chefiar um grupamento de cavalaria ?
Novamente agindo com a moderação própria de um líder, o chefe respondeu que pensaria para decidir quem deveria chefiar o grupamento e quem seriam os guerreiros que o comporiam.
Kally que até então estava calada, pediu licença ao chefe e a Amom para dar uma sugestão:
- Desculpe-me intrometer em coisas próprias dos homens, mas não seria bom agregarmos um guerreiro da Aldeia Maurid nas nossas próximas visitas, para darmos mais substância à nossa pretensão? Assim vamos demonstrar que já temos a adesão do povo Maurid. E poderíamos já deixar marcada uma reunião de todos os chefes, aqui mesmo na Aldeia Maurid para acertamos os detalhamentos finais do que nós pretendemos.
A Kally, senhor chefe, é a nossa rainha... ponderou Amom.
- E realmente fala como uma rainha. A senhora tem razão, majestade, vou indicar meu filho para acompanhá-los, embora seja ainda bem novo, mas é um rapaz de bom senso.
Logo depois chegou um rapaz que aparentava ter dezessete anos, grande e robusto como o pai, mas ainda imberbe, trazendo mais três cavalos além da própria montaria.
E os quatro saíram em direção das aldeias dos Borés e dos Marucos.