A Aldeia (XLI)
 
Dez dias depois, enquanto trezentos e cinquenta guerreiros se incumbiam de desalojar os Cored, que fugiram deixando tudo para trás, todas as tribos se deslocaram para as margens do grande lago Aroum, e lá se instalaram, em seguida, a grande caravana que agora fora  acrescida até de camelos cedidos pelos comerciantes amigos dos Kores, se deslocaram para a costa do Atlântico e chegaram ao forte dos traficantes, a Fortaleza São Jorge da Mina, e chegaram só depois que o sol se escondeu.
Era um noite escura, o céu estava coberto de nuvens negras, mas não chovia, de longe ouvia-se o barulho das ondas chocando contra as pedras.
Dez cavaleiros, carregando dez barricas de pólvora, seguiam Amom que indicava os lugares onde elas deveriam ser colocadas, junto às depressões nas pedras que formavam a muralha do castelo. Prepararam-se os rastilhos que se uniam num único, todos foram silenciosamente para seus postos, os guerreiros com seus arcos, flechas e lanças, os soldados maurides com seus arcabuzes ficaram numa posição frontal ao forte, todos esperando que fosse aceso o rastilho e que a pólvora, em grandes estouros sucessivos derrubasse a muralha do castelo.
Quando estourou o barril que ficava junto da porta de entrada, ela se abriu e os soldados do forte saíram recebendo uma forte saraivada de balas e flechas, os guerreiros comandados por Amom mantiveram o cerco durante duas horas, então os prisioneiros começaram a sair e os portugueses se debandaram. Amom entrou no forte para procurar o português bigodudo, mas não o encontrou. Soube-se depois que ele havia fugido em um barco, levando uma fortuna enorme, juntamente com o brasileiro Francisco Félix de Souza, o Chacha, que mais tarde se instalou no Rio de Janeiro com o beneplácito dos políticos da época, comprando um palacete e dando festas para a alta sociedade.
Mas todos os prisioneiros foram libertados,  sendo recebidos com muita festa e alegria.

 
Até hoje, junto ao lago Aroum essa estória é contada de pai para filho e o dia catorze de maio, dia do aniversário da rainha Kally, foi dedicado à mãe Kally, a libertadora do seu povo e dizem também que por causa dela o segundo domingo de maio, que às vezes coincide com o dia catorze de maio, passou a ser considerado o dia das mães, muito promovido pelo comércio. É nessa data que lá comemoram, com muita comida, música e dança, o dia da mulher, consagrado à saga feminina das guerreiras Van.
                                                         FIM