O SERVIÇAL DA INDEPENDÊNCIA - PARTE 1

O SERVIÇAL DA INDEPENDÊNCIA

Manoel Joaquim Lysanne Neto, nasceu no ano de 1803 na província de Minas Gerais. A mãe portuguesa e o pai descendente de holandeses, mudaram-se quando ele ainda era menino por influência de uma prima distante, para trabalharem na casa da família Imperial recém chegada ao Brasil, fugida das tropas francesas de Napoleão Bonaparte.

Desde cedo, Lysanne (como era chamado), ficou responsável para cuidar do cavalo de D. João. Logo tornou-se amigo de Pedro, filho do Príncipe Regente. A diferença de idade entre os dois era de apenas cinco anos e quase sempre eles eram pegos fazendo travessuras. Certa vez, os dois capturaram uma rã e colocaram debaixo do prato da rainha D. Maria I, e ficaram escondidos observando para ver qual seria a reação da rainha mãe. Após todos sentarem-se à mesa e a rainha tomar o seu lugar, os serviçais começaram a servir os pratos. Não demorou para o caos tomar conta da situação, logo após D. Maria virar o seu prato e a bendita da rã saltar para dentro do seu vestido.

Com o susto e a rapidez em que a rainha se levantou puxando consigo a toalha da mesa, acabou por virar as baixelas derrubando alguns pratos em cima dos demais; foi um tal de gente caindo ao chão por pisar sobre a comida espalhada e todos acabaram por esquecer de acudir a D. Maria que não parava de gritar e puxar as roupas, na tentativa de se livrar do animal grudado em seus bustos!

D. João assistia a tudo estupefato e logo descobriu em um canto isolado da sala, os dois moleques se estrebuchando de tanto rirem da situação! Resultado; Pedro teve que ficar um dia completo trancado em seu quarto, enquanto que a Lysanne foi-lhe imputado a tarefa de dar banho em todos os cavalos do estábulo real.

Com o passar do tempo, os dois se tornaram ainda mais amigos. Lysanne sabia das armações de Pedro que fugia das aulas obrigatórias para ficar de raparigagem com as mucambas e as serventes das propriedades que pertenciam à realeza. Lysanne era o responsável por sempre lhe dar cobertura nessas aventuras, informando um paradeiro falso quando alguém lhe perguntava pelo Príncipe. Quando lhes sobravam tempo, costumavam vagar pelos estábulos e conversarem sobre diversos assuntos:

- Seu pai já está notando a sua constante ausência da corte! - Dizia Lysanne;

- Ele tem coisas mais importantes para se preocupar do que com a minha ausência! - Respondeu-lhe Pedro;

- É verdade, os rumores da insatisfação da aristocracia e das camadas populares vem aumentando cada vez mais!

- Eu sei disso! A coroa portuguesa tem exercido altos impostos e restrições no controle econômico do Brasil! - Pedro parou próximo ao seu cavalo;

- E vosso pai, o que pensa disso tudo? - Perguntou-lhe Lysanne, oferecendo uma cenoura para o cavalo;

- Ele tem inclinação para “os pés de chumbo”, mas também sabe que se os altos impostos continuarem, pode enfrentar uma revolta!

- Ele tem exigido a vossa presença nas reuniões e eu já não tenho mais argumentos para enganar seu pai. Um dia ele vai acabar descobrindo suas aventuras e eu vou ser mandado embora..., ou quem sabe coisa pior! - Lysanne falou com ar de preocupação;

- Você se preocupa demais com os fatos! Se isso acontecer (um dia), deixa que eu resolvo tudo com ele! - Frisou Pedro, dando uns tapinhas nas costas de seu companheiro.

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D. João andava preocupado com as aventuras de seu filho e no que elas já repercutiam na corte! Por esta razão, resolveu providenciar um casamento para Pedro. Foi assim que com apenas dezenove anos, ele casava-se com Leopoldina de Habsburgo, arquiduquesa da Família Imperial da Áustria, uma das mais antigas dinastias da Europa.

Com o casamento, pensava-se que as fugas acabariam e ele se interessaria pelos assuntos da Corte, mas as aventuras com o seu amigo de infância permaneciam as mesmas. Lysanne sabia que aquele casamento não iria fazer com que Pedro abandonasse os seus casos. Ele mesmo ouvira do próprio Pedro por várias vezes a célebre frase: “todas podem ser minhas, mas não serei de nenhuma!”. Ele não se deixava seduzir.

Certa vez ao saírem escondidos de uma taberna acompanhados de duas raparigas, resolveram parar na beira da praia:

- Chegaram cartas de Portugal pedindo para meu pai voltar ao país! - Começou o príncipe;

- E vossa Alteza vai voltar com ele? - Perguntou Lysanne;

- Ainda não sei..., ele não comentou nada a respeito! - Pedro suspirou fundo.

O Príncipe ouviu a pergunta do amigo e permaneceu calado; observou a paisagem ao seu redor, contemplando no horizonte as aves marinhas que voavam e deteve o olhar sobre as duas mulheres que corriam pela beira da praia, jogando água para cima:

- Como posso deixar tudo isso para trás? Praticamente eu cresci nestas terras e tudo de bom da vida eu estou aprendendo aqui! Certamente se eu voltar, terei que me envolver mais ainda com os assuntos da corte portuguesa!

- É o preço a se pagar por ser filho da realeza! - Lysanne sorriu ao responder, ao mesmo tempo em que as duas mulheres começavam a retornar para perto deles: - Outra coisa; deixa de chamar-me de alteza perto das pessoas! Não quero dar mais motivos ainda para meu pai ralhar comigo!

Lysanne fez um sinal positivo com a cabeça e os dois seguiram caminho com as mulheres...

EMANNUEL ISAC