Ávidos Heróis - Capítulo um.

Ávidos Heróis

Capítulo um:

Havia uma linda planície de gramas verdes, cortadas por um límpido riacho, e no horizonte, enormes montanhas em tons azulados, contrastando com um lindo céu brilhante, e ao fundo havia também um castelo rodeado por um lindo vilarejo, onde pessoas viviam felizes. Alguns minutos dali, um velho herói de tempos longínquos, que hoje é apenas um simples cultivador de arroz, cuidava dos campos com a ajuda do seu filho Klaus. Ele sempre contou ao filho as histórias de quando era jovem, e de como ganhou muito ouro e acumulou riquezas durante a sua vida. Seu filho sempre perguntava sobre o ouro e as riquezas, onde tudo foi parar, já que hoje ele era apenas um pobre agricultor. O garoto não suportava a ideia de ser um simples agricultor, e queria ter aventuras como as do pai. O pai sempre respondia:

— Ora meu filho, o ouro eu gastei, mas as riquezas eu ainda as tenho guardadas. — A vida toda, o garoto roía-se de curiosidades para saber que riquezas seriam estas, já que viviam naquela vida simples e sem luxo. Anos depois, Klaus já havia crescido, era jovem, forte e inteligente, porém continuava a preocupar-se com as riquezas e o ouro do pai. Então o velho herói que há muitos anos havia lutado com feras grotescas e animais vorazes de todas as partes, para salvar seu povo, consagrando-se um herói daquele pequeno vilarejo, teve uma ideia. O pai sentou-se em uma cadeira na sala de sua simples casa, e com a voz cansada chamou seu filho, dizendo:

— Preste muita atenção no que eu vou lhe dizer. Já estou muito velho, e quero deixar algo pra você. Tenho ainda riquezas nesta vida, porém não será fácil de você encontrá-las, lhe darei todas as pistas e direi quem você deve procurar para ajudá-las. — Então o velho pai explicou-lhe o longo caminho, onde deveria atravessar a imensa floresta escura que cobria todo o vale, no final do qual encontraria um ancião, com muitas riquezas e Valores. O ancião lhe ensinaria o caminho até as riquezas prometidas pelo pai. O Jovem herói despediu-se do velho pai, pegou uma bolsa de couro onde guardou mantimentos para a viagem, agarrou com fé o pequeno mapa feito pelas mãos trêmulas do velho herói, a quem ele admirava muito. Deu-lhe um abraço, e saiu em direção ao vilarejo. Alguns dias antes da partida a história do tal tesouro já corria todo o vilarejo, porém nem todos tinham a coragem sega de enfrentar aquelas florestas, a pesar de a ganância estar brilhando nos olhos tristes de cada camponês. Diziam pelo vilarejo que e floresta era amaldiçoada, e escondia segredos que homem nenhum havia revelado, e o único que sobreviveu às maldições da floresta negra era o velho e conhecido herói.

Neste mesmo vale havia um castelo onde vivia o rei de Blackwood e seu filho. O príncipe Anton de Blackwood tinha quase a mesma idade do filho do velho herói, e pensava apenas em gastar com prostitutas, beber e brigar. O Velho rei se preocupava com seu sucessor, que não seria capaz de seguir o seu bom trabalho, a quem todos amavam. Pensando no bem do povo do vilarejo, decidiu chamar o príncipe e lhe dar uma chance de mostrar que seria capaz:

— Já estou muito cansado, e não sei quanto tempo mais vou aguentar. Não sei se está preparado para o trono. Tenho um último pedido antes de entregar minha vida nas mãos do destino. Quero que prove, com um grande feito, que é capaz de assumir meu trono e reinar com honra. — O jovem príncipe saiu furioso com o velho rei, por ele ter pensado tal coisa. Mas no fundo ele sabia que era verdade, porém a arrogância não o permitia aceitar.

Saiu então em direção ao vilarejo, com a cabeça baixa pensando como poderia mostrar ao seu pai que era digno de lhe suceder em seu reinado. Ao chegar à pequena praça, em meio a batidas de martelo em bigornas e relinchar de cavalos, o príncipe ouve ao fundo a conversa de camponeses e ferreiros comentando o tesouro escondido após a floresta negra. O que eram apenas riquezas de um herói esquecido, havia se tornado uma verdadeira fortuna na boca do povo:

— Ah! Se minha coragem permitisse, eu iria atrás desta fortuna com certeza. — Comentou o ferreiro sonhando com um futuro melhor. O jovem príncipe ergueu a cabeça, abriu um sorriso cheio de ideias, e pensou. —Já sei como vou impressionar o velho. — Dirigiu-se até a roda de pessoas que se formava, porém quando se aproximou todos se olharam e rapidamente desfizeram a roda e disfarçando com reverências, dispersaram-se, deixando o príncipe sozinho na praça. Impetuoso e impaciente como era, não deixou por menos, agarrou um garoto pelo colarinho e o indagou:

— Me diga do que estão falando garoto!

— Perdão, mas não sei meu senhor. Cheguei agorinha, e peguei a história pela metade. — Respondeu o garoto assustado.

— Não minta para mim, garoto insolente, sei que conheces toda a história. Trate de me contar.

O garoto faminto e todo envolvido em trapos velhos fedendo a esterco, disse ao príncipe:

— Se o senhor me der o que comer eu o contarei toda a história. — O príncipe já sem paciência, lhe apontou a espada e com uma expressão de fúria lhe ameaçou:

— Terás muita sorte se eu não lhe cortar a garganta. Agora fale.

— Perdão novamente meu senhor, mas tudo que já passei nesta miserável vida me fez perder o medo de morrer. — O jovem príncipe que não era de todo mau, afrouxou a expressão furiosa, abaixou a espada, e concordou com o corajoso garoto, dizendo:

— Olhe garoto, lhe darei algumas moedas de ouro depois de me contar. — Pegou algumas moedas, mostrou ao garoto as balançando na mão. O maltrapilho e fedorento garoto lhe contou toda a história de Klaus, o filho do velho herói, tudo que havia ouvido pelo vilarejo.

Nem tudo era verdade, pois o povo aumentava cada dia mais, tanto à quantidade de ouro, quanto às dificuldades de se atravessar a imperdoável floresta negra. Alguns dias depois de toda a falação. Klaus chega ao vilarejo depois de algum tempo de caminhada a sua primeira parada é no ferreiro.

— Olá amigo, preciso de uma espada, mas uma espada de qualidade, por favor.

— Só faço armas e coisas de qualidade aqui, meu amigo. — Respondeu o ferreiro insatisfeito com o infeliz comentário.

— Perdoe-me, mas estou um pouco nervoso com minha viagem.

— Posso saber que viagem é esta que tanto lhe aborrece? — perguntou o ferreiro já com uma cara mais amigável.

— A pedido de meu pai, devo atravessar a floresta negra até o pé dos velhos montes atrás de algumas coisas que não sei bem o que são. — O ferreiro desconfiando da história lhe puxou para um canto e lhe falou:

— É você quem vai atrás do tal tesouro? Se caso for, acho melhor não comentar muito por aqui, pois a vila toda já conhece sua história, e você não quer nenhum aproveitador lhe seguindo.

O jovem herói olhou assustado, e lhe agradeceu pelo conselho, colocou a mão na bolsa de couro e jogou algumas moedas de prata sobre a mesa e falou:

— Estas são minhas economias, o que pode me conseguir com isto?

— Lamento meu jovem, mas não vai comprar muita coisa com isto.

O ferreiro baixou a cabeça, pensou, e finalmente lhe disse.

— Pela sua coragem de entrar em florestas tão temidas, lhe darei uma boa espada, que seu dinheiro não poderia comprar. Esta espada foi de seu pai quando jovem, e é uma relíquia importante do passado da vila e seus heróis. Por tanto peço a você que me devolva. E é claro uma parte de seu tesouro já que estou lhe ajudando. Tenho sua palavra de honra?

— Sim! Sem duvida. — respondeu o jovem herói, feliz pelo presente.

Do lado de fora um malcheiroso e conhecido espião mirim, escutava tudo, com propósito de vender as informações ao príncipe de Blackwood. Logo se ouvia os passos leves e rápidos do garoto em direção ao castelo, mas os guardas o barraram no portão. O garoto pertinente tanto gritou e chamou que um dos guardas resolveu comunicar ao príncipe a sua presença. O jovem e arrogante príncipe desceu de seus aposentos, aborrecido pelo incomodo e com a espada nas mãos recebeu o garoto, que nesta hora só pensava no cheiro de comida que vinha da cozinha real.

— O que quer aqui? Garoto insolente.

— Tenho informações importantes para você sobre o tesouro.

O futuro herdeiro do trono mudou sua feição e lhe pediu que continuasse. Então o garoto esfomeado lhe fez uma pergunta.

— Quantas moedas de ouro o senhor vai me dar pela informação?

— Depende da qualidade e da utilidade de tal informação! Se for de meu proveito lhe darei duas moedas.

— E talvez um bom jantar? Este cheiro está me matando, não como há dias. — Pediu o garoto com os olhos tristes de um faminto.

— Ora! O que lhe falta de tamanho lhe sobra de audácia. Acompanhe-me garoto.

Os dois foram até a cozinha, o garoto sentou-se, e com um sorriso cruzando o rosto de orelha a orelha, esperou ansioso pela comida. O jovem príncipe ordenou que o servissem, e em quanto desfrutava de pães e carnes de todo tipo, enfiava um pedaço na boca e dois nos bolsos. Não sabia se comia ou se falava:

— Meu senhor, o filho do velho herói está na vila comprando provisões para uma viagem. Falou o garoto com a boca cheia.

— Onde você o viu pela última vez? — Perguntou o príncipe.

— No ferreiro comprando uma espada. Meu senhor.

O ansioso príncipe Anton jogou duas moedas sobre a mesa, levantou-se e ordenou que o garoto saísse:

— Pegue as moedas e saia, já comeu o bastante.

O garoto saiu carregando o quanto pode de comida, tanto que mal podia andar, e a única visão que teve antes de sair do castelo foi a dos cabelos negro do príncipe, que se aprontava para sair. Príncipe Anton era o único do vale que tinha os cabelos pretos, todas as outras pessoas do vale eram louras e brancas com pequenas sardas, porém ele era diferente, cabelos pretos, de rosto branco como a neve, mas sem sardas. O que deixava o velho rei ainda mais furioso era a falação daquele povo, que por uma infelicidade do destino, não se recordavam muito de sua rainha, que tinha os cabelos negros como a própria floresta, pele branca como se fosse de algodão. Diziam lendas populares que ela ainda vivia na floresta, e que atraía os viajantes para a morte. Muitos juravam tê-la visto em suas viagens, e até perdido amigos enganados pela bela rainha.

Todas estas histórias aborreciam muito o já velho e gordo rei que passou o resto de seus dias sozinho, desfrutando apenas da breve companhia de suas concubinas, ou meretrizes, e de seu fiel amigo, baixinho, gordinho e desprovido de quaisquer cabelos, que gostava de autodenominar-se, o escudeiro de Blackwood.

O velho herói que daquele dia em diante cuidaria sozinho dos campos de arroz, lamentava-se de ter enviado seu único filho a uma viagem tão longa e perigosa, porém sabia que tal viagem seria importante para Klaus. O jovem herói poderia não voltar, mas se conseguisse, seria um novo homem.

Sem dúvidas ele aprenderia muito em sua viagem, mesmo assim, muitos homens honrados, porém de pouca fé e nenhuma bondade, haviam morrido no mesmo caminho, decorrente de suas ganâncias, e suas mentes fracas. Klaus teria que aprender muito com a vida para terminar sua jornada com êxito. — A terrível floresta negra, se não o matar, lhe ensinará. — pensava o velho herói com lagrimas nos olhos.

O velho herói passava todo o tempo lhe ensinando sobre a vida, sobre a honra, sobre o respeito e a fé. Dizia-lhe que com fé e vontade se podia fazer o que quisesse, com tanto que não prejudicasse a ninguém. Que se respeitasse a todos teria o respeito de volta, e que a honra e o caráter eram os bens mais preciosos que um homem pode ter, pois é a única coisa que um homem pode preservar. Pois o ouro se acaba, a saúde e a juventude se vão, as esperanças são lançadas no esquecimento pela vida, e o que resta no final são apenas lembranças, boas ou ruins, a honra e o caráter.

E quando se está no fim da vida, lembranças ruins, e coisas desonrosas de seu passado, lhe assombram muito mais. O velho herói lembrava-se das últimas palavras que disse a Klaus antes da partida:

— lembre-se de manter principalmente a fé ao cruzar a floresta negra, a mente limpa de coisas ruins, e pensamento positivo. Isto pode ser a diferença entre a vida e a morte.

Klaus sai da vila em direção à floresta negra, apesar de sua força, inteligência e coragem, suas pernas começavam a tremer quando se aproximava da floresta tão temida. Sentia uma presença ruim, uma sensação de ser seguido, mas pensava que seriam as histórias contadas pelo povo que o assombrava, e lembrava-se das palavras de seu pai.

“Lembre-se de manter principalmente a fé ao cruzar a floresta negra, a mente limpa de coisas ruins, e pensamento positivo, Isto pode ser a diferença entre a vida e a morte em qualquer situação”.

Henrique Serafini
Enviado por Henrique Serafini em 16/06/2014
Reeditado em 16/06/2014
Código do texto: T4847120
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.