O Regicida de Edennew - Capítulo 1 - "O primeiro a chegar"

Na terra de Edennew, uma vez a cada dez anos, os quatro reis, chamados dragões, se reúnem em um dos quatro reinos habitados, Reino do Norte, Reino do Sul, Reino do Leste e Reino do Oeste, para estreitar e fortalecer seus vínculos e os interesses para cada um dos reinos. Após o sorteio sobre qual dos reinos deverá ser o anfitrião do encontro, fica a cargo do rei daquele reino se responsabilizar pela segurança dos demais convidados. O sorteio é feito retirando-se o nome dos reinos que já sediaram o encontro, até que os quatro tenham sido anfitriões. Só depois de um ciclo completo o sorteio volta a receber o nome dos quatro reinos com a possibilidade de sediar o encontro. Nesse caso, mesmo que um reino tenha sediado o término de um ciclo, a lei permite que ele inicie o seguinte, desde que aconteça mediante o processo de sorteio aleatório.

Dessa vez foi algo assim que ocorreu. O Reino do Norte, que havia sediado o último conclave dos dragões, fechando assim um ciclo, foi o escolhido para iniciar o novo. De tal maneira, o rei Arthur, conhecido como o Dragão do fogo, devido às atividades de seu reino, deveria ser o responsável por tudo o que ocorresse durante o encontro com os reis visitantes e toda a sua comitiva. Arthur era um homem de postura firme e de um senso de justiça amplamente conhecido pelos quatro reinos. Para muitos, o principal dos quatro reis, apesar da independência de cada um deles. Contudo, sua idade já não lhe era contada como um fator positivo. Esperava poder contar, ao menos, com dois mais encontros como aquele.

O Reino do Norte é o principal responsável pela produção de armas. As caldeiras existem por praticamente todo o reino, e a sensação de mormaço é terrivelmente incomoda para forasteiros, especialmente os que vêm das gélidas terras do Reino do Sul.

E foi o rei do sul, Adam, conhecido como o Dragão desalmado, que primeiro chegou com sua comitiva, pouco depois da hora do almoço. Cerca de setenta pessoas, a maioria soldados.

- Seja bem-vindo, Adam. Sinta-se no seu próprio reino - disse Arthur, com a polidez que se espera de um rei.

- Obrigado, meu caro amigo - disse o jovem rei, não tinha nem vinte anos - mas certamente não poderei nem por um instante imaginar-me em meu glorioso Reino do Sul.

- De fato, a beleza que as terras gélidas proporcionam não podem ser comparadas com as terras áridas e de vegetação escassa que o norte possui.

- Essa conversa é absolutamente inútil - o tom na voz de Adam era desdenhoso - Certamente o que me trouxe aqui não foi a necessidade de reafirmar para todos o quanto meu reino é superior ao seu. Gostaria de descansar um pouco de minha longa viagem agora.

- Certamente, majestade. Meus súditos irão acompanhar você e toda a sua comitiva aos seus aposentos de descanso. Infelizmente não teremos acomodações confortáveis para todos.

- A maioria desses inúteis são apenas soldados. Qualquer pocilga estará de bom tamanho para eles.

Com um estalar de dedos de Arthur, muitos de seus servos apareceram para levar as bagagens e indicar os quartos e alojamentos para a acomodação dos hóspedes do sul.

...

No jardim do palácio, Arthur brincava com seu neto, de dois anos de idade, e sua filha encontrava-se junto dele.

- Papai, que exagero desse rei do sul. Trazer uma comitiva com mais de cinquenta soldados.

- Bem, minha querida Jenna, você já deve conhecer a fama de nosso ilustre hóspede. Não é difícil imaginar porque ele possui tantos inimigos espalhados pelos quatro reinos de Edennew.

- O pai dele era um homem maravilhoso. Não entendo como esse fedelho pode ser tão insuportável.

- Jenna - a voz de Arthur saia áspera agora - nunca fale assim de um rei. Seja ele quem for. Você sabe qual a pena para tal comportamento.

- Sim, sim. Eu sei pai. Infelizmente essa regra não vale apenas para os reis iguais ao senhor.

- Iguais a mim?

- Sim. Reis dignos. Não sádicos. E honestamente, dos quatro reis que estão reinando atualmente, apenas dois são dignos. Porque os outros dois...

- Chega, Jenna - na austeridade da repreensão de Arthur, seu neto começou a chorar - Não precisa se assustar, meu lindo. Vovô não quis te assustar.

- Me dê ele aqui, papai. Melhor o senhor se preparar para o jantar com vossa chateza real. A propósito, quando os demais reis chegam para o encontro?

- Acredito que em três, quatro dias.

Jenna parou, incomodada com algo - Gostaria de saber porque esse Adam fez questão de vir antes dos outros. Especialmente levando em conta a distância da jornada a que ele tem que se submeter. O Reino do Sul é o mais distante daqui.

- Eu sei - a expressão de Arthur ficou rígida - também estou me fazendo a mesma pergunta, minha filha. Não faz sentido.