Malávia - Continuação

Capítulo 2 - Sacrifício

O velho rei voltou para o castelo na tentativa de dar um último abraço em sua filha que chorava desesperadamente em cima do baú onde guardava objetos de sua falecida mãe. Nele haviam balões, vestidos velhos, velas, escovas e outros objetos. Molley sonhava em ter o baú. Mas ainda não tinha idade para abrí-lo. Já que precisava saber proferir o Feitiço das Velas. E apenas Wurwicks tinham autorização para proferir feitiços em Malávia.

O rei após ter sido ignorado pela filha vestiu seu melhor traje e ficou sentado em frente ao relógio que marcava cinco e meia da tarde. Não aguentava mais de ansiedade.

- Será que Molley entenderá meu sacrifício - Conversava o rei com seus botões

- Molley saberá entender - Uma voz surgiu do nada

- Quem está aí?

- Meu nome é Frederic Hoover. Faço parte do castelo tanto quanto o senhor. Não pude deixar de ouvir que fará o sacrifício das feiticeiras. Senhor, ela é a última Wurwick. Ela não está para brincadeira.

- Preciso salvar Molley.

- Molley ficará protegida estando dentro do castelo. Sua mãe me nomeou como seu protetor antes de morrer. Eu estava lá no dia de sua morte. Sei exatamente quem vingar em nome do senhor. Mas sacrificando-se em nome dos Wurwick fará que Malávia sucumba ainda mais.

Frederic Hoover tentara ajudar os Ghrapholah desde o início das guerras. Mas sua falta de experiência com flechas e facas fez com que vários inocentes morressem. Ele sabia que deveria proteger Molley. Tinha prometido. Mas seu medo de falhar era muito maior que sua sede de vingança.

Os dois estavam prestes a elaborar um modo do rei escapar do sacrifício quando ouviram passos na direção deles.

- Papai?

Molley depois de notar a presença do pai no castelo decidiu então abraçá-lo. Mas não conseguira reconhecer Frederic.

- Quem é ele papai?

- Um amigo de família.

- Onde o senhor estava papai?

Ele não podia contar. Jamais. Beijou suas mãos pequenas e explicou que certos sumiços são explicados no futuro. E o dele era um desses. Começou a contar uma história. Uma das favoritas da pequena Molley. A história da Rainha Corfina.

"Malávia nem sempre foi esse reino abandonado e entristecido. Houve uma época onde as flores eram coloridas e enormes. Maiores que os cogumelos da Ponte das Cordas. Não existia cavalheiros nem cavaleiros. As pessoas andavam a pé com tranquilidade e sacos de arroz nas costas. Então o Rei Margorio Wurwick decidiu que Malávia deveria pertecer aos feiticeiros e não aos humanos e declarou guerra contra a Rainha Corfina. E então muita gente morreu. Malavianos e seus filhos , animais, plantas. Corfina acabou perdendo a guerra, e acabou se tornando prisioneira e escrava do rei. Então nosso reino começou a sucumbir e se tornou o que é hoje. Cheio de tristeza e maldade. Nossa pureza foi sugada para dentro do Cajado Dourado de Claire Wurwick. Junto com a pureza do espírito da Rainha Corfina. Mas antes dela se tornar um pedaço de luz em um pedaço de madeira amaldiçoado ela teve uma linda criança. Seu nome era Amelia Molley. Sua mãe. Que tentou de todas as maneiras possíveis salvar o reino dos poderes de Wurwick. E teve aquele triste fim então veio você, minha filha, mais uma Ghrapholah que tentará salvar Malávia e colocar nossa família no poder novamente e..."

- Eu não quero salvar Malávia.

- Mas minha filha, você não tem opções. A não ser que queira sucumbir junto com o reino.

- Não quero ter o mesmo fim que minha vó e minha mãe tiveram. Quero ser livre.

O rei sem palavras começou a chorar enquanto sua filha o encarava sem nenhuma expressão. Ele estava acabado. Olhou para o relógio e percebeu que tinha que ir.

- Meu tempo acabou Molley, Mas preciso que pense com cuidado e não se torne uma Wurwick.

Beijou a filha na testa e saiu.

Frederic encarava a pequena com certa incredulidade. "Como pode não querer salvar Malávia?" Pensou ele. Começou a desconfiar do caráter da criança. "Preciso proteger a pequena. Preciso convencê-la a salvar o reino".

Molley foi para o quarto e começou a rezar. Achava que assim teria sua mãe de volta e nunca houve um dia sequer em que não rezasse.

***

O rei já estava a 600 pés do local do sacrifício quando começou a se sentir um pouco tonto. Sentou numa pedra e tomou água. Começou a olhar ao redor.

- Onde estou?

Malávia era um reino famoso por ser um completo labirinto. Cheio de grutas, pontes e rios com portais. Mas uma ponte em especial era famosa por se alimentar de energia humana. Conta a lenda que quem se aproximasse da Ponte das Cordas saía dela cansado ou morto. Não existia ser poderoso que conseguisse passar por ela intacto.

O rei abriu seu mapa e percebeu que o único caminho que tinha era justamente a Ponte das Cordas. Tinha certeza que iria morrer afinal já estava muito velho e totalmente sem energia. O tempo estava passando e ele tinha que fazer o sacrifício para salvar Molley.

Então levantou e decidiu atravessar a ponte. O vento estava forte e era dificil se equilibra numa apenas segurando em cordas lançadas do céu. Apenas um ponte velha sem apoio lateral e com cordas que pareciam estar vindo das nuvens. Várias delas. Ao olhar para baixo o rei viu uma luz azul. Pensou em ir até lá ver, mas estava sem tempo. Pegou um pedaço de carvão que sempre levava em suas calças e escreveu na primeira árvore que achou: "Molley siga a luz embaixo da ponte". Na verdade o rei não fazia ideia do que estava fazendo. Provavelmente Molley nunca fosse achar aquelas palavras já que raramente passeava para aqueles lados do reino.

Conseguiu chegar vivo no local do sacrifício porém extremamente cansado. A feiticeira alegre estava cantando.

" Quando o dia chegar

O sacrifício virá

Tornando Malávia o reino sagrado

Paraíso perfeito de seres encantados

O sangue dos antepassados escorre

A lágrima dela o rio colore"

- Então meu rei decidiu de verdade fazer o sacrifício em nome da pequena Molley?

- Sem mais histórias bruxa! Termine com isso.

- Calma meu rei. O ritual é lento, doloroso e pesado. As chamas sagradas só aparecem no momento em que o sacrificante está realmente disposto a enfrentar a morte. Não parece seu caso meu rei.

- Estou fraco. Dê-me o que comer.

- Não posso. Estaria alimentando a galinha para comê-la em seguida. Prefiro não ter peso na consciência. Sou uma feiticeira, também posso ser boa.

- Molley está cada vez mais triste. Tenho medo de meu sacrifício ser em vão.

- Meu rei, um sacrificio como esse não satisfará apenas uma única pessoa. Molley se não se tornar alegre poderá ganhar alguma outra virtude. Como coragem. Que ambos sabemos que a pequena não tem.

- Se não for pela felicidade de Molley não será por nenhum outro motivo.

- Que seja feita então a vontade do rei. Siga-me.

A feiticeira caminhava em direção a um circulo de fogo com várias pedras no centro. Além de flores, cogumelos e facas. Do lado de fora do círculo tinha um enorme pote roxo.

- Para que serve aquele pote?

- Meu rei, Molley precisará de suas cinzas para guardá-las. Será meu presente para Molley.

O rei desconfiado deixou-se convencer pela resposta da feiticeira.

- Apenas termine logo.

A feiticeira então vendou o rei e amarrou seu corpo a uma cadeira. Colocou-o no centro do círculo de fogo. Tudo se transformou num grande fogaréu amarelo. Durou apenas alguns minutos.

Não existia mais nada além de cinzas e as marcas das chamas no chão.

- Finalmente consegui - Proferiu Claire Wurwick ao segurar o último pote que faltava em sua coleção - Agora poderei fazer o Feitiço das Rosas.

Enquanto isso a pequena Molley esperava ansiosa o retorno do pai para a história da madrugada. Aquela que ela ouvia antes de conseguir pegar no sono.

Annie Bitencourt
Enviado por Annie Bitencourt em 15/02/2015
Código do texto: T5138347
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