O cavaleiro da máscara negra.

"A história esquece os grandes heróis e exalta os grandes tiranos."

A história que irei contar-lhes parece somente mais uma fábula, mas para muitos realmente aconteceu. Acredite ou não.

A muito tempo atrás, numa época onde a barbárie predominava, os fortes tinham tudo e os mais fracos, quase nada. Onde viver era na verdade sobreviver, e tudo que você tivesse poderia lhe ser tirado em um piscar de olhos. Onde a bondade não fazia diferença ante a maldade dos poderosos, que por sua vez, se escondiam em grandes e maravilhosos castelos. Em um destes castelos vivia uma criança. Uma criança chamada Arael.

Essa criança não era uma qualquer, era na verdade filho do rei e portanto, herdeiro da coroa. O garoto vivia tediosos dias sozinho naquele imenso castelo, sem muita companhia cercado somente de seus empregados. O rei, percebeu que o garoto andava muito triste e para dar-lhe conforto resolveu que lhe daria um companheiro. Mas o rei, já a muito tempo em uma batalha, perdeu aquilo que todo homem adulto traz com sigo. Não tinha a capacidade de trazer alguém ao mundo. O rei era estéril.

Eis que um dia, voltando de uma de suas gloriosas e magnificas batalhas, o rei encontrou vagando em meio a uma multidão de corpos de soldados caídos, uma jovem criança. O rei cativou-se com a cena e resolveu trazer com sigo aquele pequeno garoto, que além de ter uma chance de sobreviver, seria a companhia que seu filho precisava.

Ao chegar no castelo o jovem esfomeado tratou de comer tudo que pôde, entre uma mordida e outra o rei perguntou seu nome. O jovem disse que não haviam dado lhe nome, pois o nobre a qual sua família pertencia não via grandes expectativas nele, e por isso não valia a pena perder tempo dando-lhe um. O rei então andou de um lado para o outro, até que decidiu qual nome daria aquele garoto. Seu nome, muitos anos depois, seria conhecido nos sete reinos.

Começava ali a história do jovem D’Atra.

O jovem príncipe logo fez amizade com D’Atra, que correspondeu sendo seu melhor amigo. Cresceram juntos, e passaram por todos os grandes momentos da adolescência e juventude. Apesar de viverem no mesmo lugar, D’Atra nunca obteve o mesmo status de seu meio irmão. Enquanto Arael, por ser filho do rei, era visto por todos como o homem a ser temido, D’Atra era por todos respeitado. Com o tempo os dois foram perseguindo caminhos opostos. Arael, o príncipe, competia em grandes campeonatos de nobres, esperando que seu pai, o rei, lhe concedesse a confiança na liderança de seus exércitos. O príncipe, tinha como sua arma uma legítima espada Balyn, uma espada com metal pesado e quase indestrutível. Já o jovem D’Atra, por estar sempre em meio aos plebeus, descobriu ali a chance de se tornar um grande guerreiro. E ali, em meio ao povo comum, teve a ideia de criar uma das técnicas mais mortais já vista pelo homem. Uma técnica que chamou de Dual Sword...

A técnica levava esse nome por que trouxe algo inovador. Em vez de uma espada pesada, com escudo, a técnica utilizava duas espadas, feitas de um metal leve.

Um dia, em meio a uma festividade no castelo, o rei ordenou que os dois, apenas por diversão duelassem. Arael, gabando de sua habilidade com a espada a quem chamava de Acknar, zombou de D’Atra e de sua nova técnica, dizendo que suas minúsculas espadas de

nada serviriam ante o poder de sua majestosa lamina.

O que nem Arael e nem mesmo o rei sabiam, é que a nova técnica que D’Atra criara, era simplesmente brilhante. A Dual Sword era uma técnica que só poderia ser utilizada por alguém que tivesse muita agilidade e não tanta força. Era perfeita para D’Atra, e isso tanto o rei, quanto Arael descobririam em breve.

A luta entre os dois não durou quinze segundos. Em tal tempo quase toda a armadura de Arael foi arrancada pelas velozes e quase imperceptíveis espadas de D’Atra, deixando todos que assistiam boquiabertos, inclusive o Rei.

Com isso, o Rei quis entregar o comando de seus exércitos a D’Atra, que negou o convite. Disse que aquilo era por direito de Arael, e portanto cabia a ele comandar ao lado do pai. O rei mesmo triste respeitou o desejo de D’Atra, e para recompensa-lo pela vitória deu-lhe uma caixa lacrada. Na caixa havia uma máscara feita de couro negro, que foi utilizada pelo lendário guerreiro Altair, para unir os povos da região e se tornar o primeiro rei da história do reino.

Mas aquele carinho todo pelo rei a D’Atra, despertava um ódio incontrolável de Arael. Tamanho era seu ódio que foi capaz de matar o próprio pai, para culpar a D’Atra pelo incidente.

Naquela noite ouve muito sangue derramado.

D’Atra conseguiu fugir para floresta, mas para isso, teve que dizimar dezenas de bons cavaleiros, que estavam a mando de Arael para captura-lo. Naquela noite um jovem príncipe, se tornava Rei.

E naquela noite também, um jovem guerreiro, tornava-se...

O cavaleiro da máscara Negra.

Muito aconteceu desde então. Centenas de mortes, todas elas de nobres aliados ao novo rei, e todos da mesma forma.

Todos os poucos sobreviventes relatavam um cavaleiro que surgia sobre a neblina da noite, portando duas espadas, e aniquilando aos responsáveis pelo sofrimento do povo.

Canções foram escritas, e historias foram levadas ao vento pelos quatro cantos do mundo.

Com o tempo, o rei obcecado pela morte do Cavaleiro, perdeu batalhas importantes para outras nações, e em meio a uma dessas batalhas, foi morto por uma flecha envenenada. O reino então acabou sendo dividido entre vários povos que o invadiram, o que resultou no reino que nós conhecemos hoje. Depois disso, a paz voltou a cercar a floresta, mas lenda continua viva.

Hoje toda essa magnifica história não passa disso, de uma simples lenda. Uma história contada pelo meu avô, que meu pai dizia ser somente para entreter as crianças que iam buscar lenha na floresta.

Mas mesmo assim, ainda hoje, depois de tanto tempo, o povo diz que o espírito do Guerreiro da Máscara negra ainda está lá, protegendo os indefesos e aniquilando os tiranos que fazem nosso povo sofrer.