A Lenda

A lenda

Há uma lenda, no meu povo, sobre liderança: o macaco foi elevado a rei de todos os animais da floresta pela sua capacidade de ver o todo, por olhar do alto, em contraste com os outros animais que viam apenas partes, por olharem do chão.

Confesso, até pouco tempo atrás não entendia a lenda, mas hoje a compreendi.

Algumas semanas atrás, uma família de estrangeiros se instalou na minha vila. A desconfiança para com eles era geral. E aumentou ainda mais, quando começaram a ocorrer assassinatos e roubos na vila. Todos os acusavam, mas ninguém pensou em falar com eles, ver o lado deles da história. Eu, então, tomei essa decisão.

Um dos estrangeiros desse grupo, o filho mais novo, tinha, praticamente, a mesma idade do que eu. Resolvi me aproximar dele. Depois de algumas conversas, consegui ganhar a confiança dele, ao ponto de conseguir entrar em sua casa. Percebi que os moradores estavam equivocados, pois eles não usavam nenhum tipo de lâminas em sua casa, nem mesmo na preparação de alimentos, quanto mais utilizariam para atacar assassinatos.

Resolvi investigar um pouco, via internet. A última localidade em que a família havia passado, também ocorreram casos de assassinatos com usuários de lâminas. Na verdade, em todas as localidades por onde passaram uma espécie de grupo de espadachins os perseguiam. Não sei o porquê, mas estou com vontade de subir até a caixa d’água. Lá pensarei melhor.

Gosto de pensar na caixa d’água por dois motivos: primeiro, lá eu consigo ter uma visão geral, como também focar sons provenientes da vila toda. Algumas batidas efetuadas em uma parede de madeira, da região sul do vilarejo, me chamam à atenção. A vantagem de estar em cima da caixa d’água era que usando a força gravitacional, toldos, mastros e fachadas, eu podia me deslocar sobre os telhados dos prédios rapidamente.

Cheguei ao local, as batidas continuarão, movida pelos sons pude me aproximar. Os guardas eram variados, mas nenhum muito inteligente. Nada que uma invocação de pássaros pretos não resolvesse, e foi exatamente o que fiz. Os pássaros distraíram os homens, eles não podiam ver por causa dos vôos dos pássaros e também não conseguiam acertar os pássaros. Então, aproximei-me do local onde ouvira as batidas, a parede era feita de madeira rígida, mas não o suficiente para suportar a minha técnica de queda-livre. Saltei para o alto, quebrei a parte superior do local, encontrei uma mulher magra, suja, pálida e inconsciente. Não havia possibilidade de sair pelo lado de dentro daquela caixa de madeira, precisei colocá-la em meus ombros e usar os cacos, deixados pela minha entrada, para sairmos dali. Percebi que saltar por prédios com uma garota desmaiada nas costas chamaria atenção demais, decidi então invocar a serpente do céu e voar por cima das nuvens.

Depois de deixar a moça em lugar seguro, voltei para ver algo que me chamou a atenção, os pássaros pretos invocados por mim tinham sido cortados todos com um único golpe. Aquilo não restava dúvidas General estava na cidade. Ele é um usuário de armas e estrategista, tem muitos subordinados e aliados, sua principal característica é a sua capacidade de criar armadilhas para conseguir seu objetivo. Agora eu tinha um problema para resolver: quem estava na armadilha eu ou minha vila? Não tive tempo para pensar sobre isso. Uma voz masculina disse:

– Não sabe que uma serpente do céu, chama atenção demais, para chorar por soldados feridos?

Ele estava armado com seu punhal duplo, onde ele poderia apreender alta velocidade em segundos sem me dar tempo para qualquer reação. Quando partiu contra mim eu mandei a minha serpente do céu contra ele. Ela me dará tempo para fugir, pensei. Enganei-me, ao saltar do telhado em direção ao outro uma onda sonora me acertou paralisando meu corpo, cairia e quebrar todos os meus ossos, a morte seria certa e tida como um acidente e General poderia dominar a cidade. À centímetros do chão, uma mão peluda me pegou. Rei chegou.

Quando despertei, não sabia onde estava, Rei havia me escondido em algum lugar e esperava que eu acordar.

– Até que enfim você acordou. Desculpe por ter chagado atrasado. Que me dizer o que está havendo?

– Está bem. Há cinco semanas um grupo de quatro pessoas chegou a vila, em seguida, alguns dos guardiões da cidade começaram a morrer por espadachins, nenhum dos quatro usa espadas, pensei em descobrir se tinha mais alguém na cidade, e estava certa: General está na cidade. Não sei ainda qual o objetivo dele aqui, mas, com certeza, ele tem algo a ver com as mortes.

– Fragata, recomponha-se e vamos até a cidade. Não importa o que ocorrer estaremos e venceremos juntos.

Saí do armazém, o qual, Rei usou para nos esconder. Escalei uma casa e segui pelos telhados até a praça central, comecei a ouvir os balanços descompassados de Rei atrás de mim, tinha algo errado e eu precisava saber o que era.

– Rei, tem algo que eu preciso saber e você não me contou?

– Tem, sim. Enquanto você dormia, a mulher dos estrangeiros, também conhecida como Raio Negro, discursou na praça, apoiada por Jinx, um guardião local. No discurso, ela dizia que era uma vigia do Imperador do Reino da Terra Marlock e que os guardiões locais estavam conspirando para impedir que seu desejo de tornar Jinx o soberano local fosse determinado, então eles tornaram-se inimigos do imperador, e se eles não quisessem ter o mesmo destino deveriam caçar a última guardiã local: você. Todos pegaram as armas que estavam expostas na praça para obedecerem. As armas eram do General. Logo, todos viraram soldados fieis as ordens deles.

– Quero saber o que o General proporá, agora que conseguiu o que queria – respondi convicta do desafio que teria pela frente.

Cheguei até a praça, vi o quarteto de mercenários, o traidor da vila e General com seu exército, formado por todos os homens e mulheres que poderiam lutar da minha vila. Quando nos viu ele fez o famoso gesto de negociação: pediu para o exército parar e se acalmar, guardou a sua arma e se aproximou. Eu fiz o mesmo, mas não desci do telhado, ele me dava alguma vantagem, mesmo que fosse mínima, por causa dos atiradores.

– O que você quer, General?

– Simples, que você vá embora, aceite Jinx como governador dessa cidade e ela fique sobe a tutela do Imperador da Terra Marlock.

– Vai contar essa história paras os bois para ver se eles dormem. Eu posso até ir embora, mas prefiro que os cães governem do que confiá-la ao Jinx. Eu não vou entregar o meu povo para ser escravizado, explorado e morto nas mãos de um tirano como Morlock!

– Eu tenho um exército formado pelos moradores a quem você jurou proteger, quatro mercenários que te enganaram e ao discursar convenceram o povo de que você é uma ameaça, além um guardião ganancioso que resolveu trair os amigos para virar governador dessa cidade. Quer mesmo entrar nessa batalha?

– Quero. O teu grupo de fracassados com quem você se aliou não me dá nem um pingo de medo. Afinal, eu cuido deles sozinha.

– Mas ela não está sozinha! – gritou Rei acertando-lhe com os dois pés, jogando-o contra uma das construções da praça.

Aproveitando-me da situação abri um selo de um milhão de pássaros pretos, assim, neutralizei o exército recém-adquirido do General. Também abri dois selos de serpentes voadoras que jogaram para os telhados a moça, identificada por Rei como Raio Negro, e Jinx, o falso guardião da cidade. Então, a batalha se dividiu eu batalharia nos telhados; Rei na praça.

A batalha parecia relativamente fácil: afinal, tínhamos separado o grupo de batalha. Quatro contra mim, e dois contra Fragata. General viu que estavam e uma desvantagem gritante e resolveu equilibrar as forças:

– Sold, ajude os outros dois no telhado – o rapaz obedeceu imediatamente, correndo sobre o ar, partiu em direção ao telhado.

Tentei interceptá-lo, mas duas mãos gigantes de pedra tentaram me dar um soco. Fácil de desviar, o problema era o pacote: rajadas de ondas sonoras paralisantes. Não tive muita dificuldade em usar o homem da mão de pedra como escudo e arremessá-lo e em direção ao atirador de ondas sonoras.

– Ué, General, você manda dois ridículos me pararem!

– Quem você está chamando de ridículo! – disse uma voz masculina, era Gigante de Pedra, Paturo.

O homem usava uma armadura completa de pedra, ficando com 10 metros de altura. Mas esse não era o meu único problema, os prédios estavam sendo usados como espelhos para refletir as ondas sonoras paralisantes. Aquelas distrações iriam fazer eu perder General de vista. Realmente eu estava certo, no meio da confusão de ataques ele tentou me acertar com sua espada longa, desviei do golpe, acertei-lhe com o pé esquerdo arremessando-o contra uma das ondas paralisantes. Isso fez o disparador de ondas sonoras, se revelar como o Druida Cachalote ou o Druida Ondas Paralisante, cujo nome era Castilho, por ter vindo pra cima de mim com uma velocidade e com uma força sobre-humana. É nessas horas que ter mais resistência ajudaria, mas como eu não tenho, fazer o quê. Mas tenho o poder do equilíbrio, mas para quem não conhece, parece desequilíbrio. Desviei do golpe de Castilho, mas quase fui acertado pela mão esquerda de Paturo. Usei o poder do equilíbrio tocando com o dedo médio no braço do gigante consegui sair ileso, mas dando a impressão de ter sido atingido. Simplesmente, mudei meu estado para intermediário e com dois socos precisos coloquei os dois para dormir. General acabara de se recuperar, ele sabia que nesse estado perco flexibilidade e velocidade, mas ganho precisão e força, usando o seu punhal de duplo tentou me acertar, eu contra-ataquei com um soco com o braço direito, ele desviou, mas deu de frente com meu punho esquerdo. Tinha vencido a batalha por hora.

Quando pensei em levar os dois para o telhado, tinha certeza que era a melhor opção, mas agora não tenho certeza. A mulher chamada de Raio Negro, possui uma adaga que lhe permite atrair raios para si, e com isso ela ganha hipervelocidade. Jinx, o Druida Camelo, ou Druida Areia, ninguém acreditaria se eu contasse a quantidade de areia que tem no telhado! Para complicar tudo: um dos companheiros do General acabou por se desencilhando do Rei e veio ao meu encontro, Sold, o Druida Cavalo, ou Druida Caminho. Mas tudo bem, nem tudo estava perdido: eu tinha selos por todo o telhado, estava em um local elevado, e assim multiplicava a minha força. seria uma luta difícil, não impossível. A Raio Negro, já eletrizada veio em minha direção. Consegui interceptá-la a milésimos de segundo de mim, abrindo um selo de águia. E descobri uma coisa: aquela forma fazia com que ela recebesse a soma dos danos nela mesma. Enquanto isso, Jinx não parava de tentar me acertar com sua dominação de areia. Sold tentou um golpe direto usando a velocidade e o técnica de luta dos quatro cascos, mas consegui dar um salto e acertá-lo com um soco em pleno ar, isso foi o suficiente para desacordá-lo. Mas algo mais surpreendente aconteceria: Raio Negro tentou outro golpe de velocidade, mas uma parede de poeira se levantou em sua frente, o choque foi tão violento que ela não resistiu.

– Se o objetivo é decidir quem vai ser o verdadeiro guardião da cidade, então devemos lutar sem interferências, mas também sem privações! – nessa hora ele virou a forma intermediaria: um homem-camelo.

Ele como homem-camelo perdia o controle da areia, mas ganhava força e tudo que tocava secava, uma técnica conhecida como desengonçada, mas que funcionava muito bem, uma técnica que executava com perfeição, minhas águias não tiveram chance alguma. Quando a areia rodeou e percebi que a coisa complicou-se: terceiro estágio, ou estágio druida real, ele realmente virou o senhor da areia. Além de controlá-la, ele produzia secando tudo que ele tocava e ainda se locomovia através da areia usando portais. As mãos de areia desfechando golpes voltaram, eu estava voando em um gavião gigante muito rápido e assim conseguia desviar delas. Mas ele se locomoveu através do portal de areia acertando-o por baixo, meu gavião secou eu seria a próxima, por instinto, usei a liquidificação corporal. Quando o toquei ele ficou inconsciente, mais tarde descobri que quando um druida está no último estágio a sua fraqueza causa-lhe dano infinito. A fraqueza do Druida Areia era água.

Dirigi-me para a praça, quando cheguei lá. A visão mais horrível apareceu a mim: meus compatriotas se atacavam ferindo uns aos outros. Chorei. Quando vi que eles feridos continuavam a lutar, gritei:

– General, pare isso! O que você quer para esse massacre?!

– A sua vida pela deles! – disse General todo machucado, mas mesmo assim decidido me fazer sofrer – Qual será sua decisão?

Essas palavras mal foram pronunciadas e ele foi atraído para outra direção. Vendo a velocidade com que ele estava indo, e percebendo os ferimentos do seu corpo, percebia que seria dilacerado se fosse executado uma repulsão gravitacional contrário e gritou:

– Chega, Rei! Eu liberto todos! Mas não me mate!

Ao dizer isso as espadas dos moradores saíram de suas mãos e eles conseguiram se recuperar. General continuou na velocidade em que estava, como o poder gavitacional do Rei, no estágio três, tinha acabado ele passou a centímetros do Druida Gravidade, chocando contra a parede.

Eu, no outro dia, fui embora da aldeia. Rei foi comigo. Ele me dera um presente: as correntes que um dia pertenceram a Escarlate. A verdadeira lenda.