O Mercenário: Calor, Sangue e Dinheiro

Estava sentado no galho da arvore. Vestia uma calça verde com um par de botas pretas, e uma camisa verde escura. Cruzando o seu peito havia um cito de couro com balas de doze milímetros e do seu fuzil de precisão. Nas costas estava presa, no mesmo cito, uma arma calibre doze com o cano cerrado. Ela era usada apenas nas situações mais complicadas. Normalmente o seu trabalho era feito apenas com o grande fuzil de precisão que estava na sua mão direita. Passou a mão esquerda na testa e na cabeça raspada. O calor que fazia naquela floresta tropical brasileira era intenso. Estava mais do que acostumado com climas assim, mas isso não quer dizer que deveria gostar disso. Depois daquela missão iria para o norte o mais rápido possível. Sempre achou a Inglaterra mais agradável naquela época do ano.

Usou a mira do fuzil procurou o seu alvo. A alguns quilômetros havia um acampamento ilegal. Segundo as suas fontes era o acampamento de narcotraficantes. O seu alvo era o líder deles. Demorou mais de uma semana para conseguir encontra-lo. Estava furioso por estar naquele fim de mundo, mas o pagamento era bom. E para um freelancer como ele, o pagamento gordo era o mais importante. O acampamento possuía algumas barracas e cabanas de madeira. Não encontrou ninguém que pudesse parecer com o líder. Pelo que sabia, era para o chefe estar lá para averiguar o trabalho dos seus homens. Estava desistindo quando ouviu o barulho de um helicóptero. Tirou o olho da mira e olhou para cima. Ficou pasmo ao ver que era um grande helicóptero de carga. Este era verde por fora, mas a cor foi a ultima coisa que ele viu. Com a mira do fuzil pode ver o armamento que o veiculo trazia. Seria o bastante para destruir um pequeno batalhão. Como já tinha visto antes, esses chefes do narcotráfico gostam de se mostrar que são poderosos. Ele cuspiu no chão mostrando como sentia-se em relação aqueles monstros. Ele era um assassino, um mercenário contratado para fazer o serviço sujo. Porém ele nunca matou crianças ou as mandou para a morte. E isso era tudo o que esse maldito fazia. Quantas crianças já não tinha visto morrer por causa do veneno que homens como esse vendem? Estava ali pelo dinheiro, era verdade, mas se tivesse oportunidade, teria matado aquele homem de graça.

Esperou o dia inteiro, mas o desgraçado não saiu de dentro do helicóptero. Tudo o que via era a movimentação de pessoas. O fluxo de entrada e saída era constante. Pode ver um rápido flash por uma das janelas. Um tiro havia sido dado e, pelo corpo que foi retirado, pode ver que alguém havia pagado o preço por algum erro. O defunto foi tirado de qualquer jeito de dentro do helicóptero, para ser jogado em uma vala não muito longe dali. Naquele fim de mundo eles sequer cobriam o corpo. E porque fariam isso? Dentro de em breve um animal selvagem viria e comeria a evidencia de que houve um assassinato. Esperou até de noite com o olhar constantemente na mira, mas não conseguiu nenhuma oportunidade. Parecia que o maldito sabia que ele estava ali pronto para mata-lo. Pensou por um momento nessa possibilidade... Não, se fosse esse o caso já estaria morto havia muito tempo. Já teriam mandado homens armados para lhe matar. Respirou fundo e desceu da arvore. Colocou o fuzil junto a sua bolsa, que estava muito bem camuflada junto as grandes raízes da arvore onde estava. colocou também a doze. Para o trabalho que faria, ela não seria necessária. Pegou um cinto onde estava presa, ainda na bainha, uma grande e afiada faca. Depois pegou dois explosivos plásticos e os colocou no bolso. Durante o dia um plano havia sido formando na sua mente. Seria arriscado, mas não tinha muita escolha. Do coldre na sua coxa direita sacou sua arma. Era uma pistola preta com um silenciador. Tirou a munição para ver se estava tudo certo. Tinha que se certificar de tudo antes de ir. Recolocou a munição e engatilhou a arma. Estava tudo pronto.

Foi caminhando para dentro da noite. O calor não abrandava nem mesmo depois que o sol sumia no horizonte. Seu corpo suava constantemente. Andava abaixado e sem fazer barulho. Era como uma das muitas feras selvagens que viviam naquela floresta. Buscava a sua presa sem fazer barulho. Era um predador indo atacar um bando de ovelhas. Pelas suas contas logo encontraria o primeiro sentinela. Parou de repente quando viu um par de pés no meio da mata. Porém isso não foi o que lhe chamou atenção.

Mas sim o leopardo.

Os dois se encararam. Ele instintivamente levou uma mão no cabo da faca e a outra na pistola. Fez isso sem tirar os olhos daquele belo e temido animal. Aquela fera poderia rasga-lo em dois se pudesse, e ele não poderia fazer nada para impedir. Não deixaria que isso acontecesse. Não seria morto em um lugar maldito como aquele. Um golpe rápido no pescoço com a faca o mataria rapidamente, mas não queria ter que fazer isso. Sabia que o errado ali era ele, já que, provavelmente, aquele era o território da fera. Se o atacasse estaria simplesmente o defendendo. Respirava aquele ar abafado com dificuldade. Um não deixava de olhar para os olhos do outro. Podia ver a sede de sangue nos olhos da fera. Demorou para ver que, aos pés do leopardo, havia o corpo de um homem. Ou pelo menos o que havia sobrado de um. De repente, o animal pegou o resto do corpo e foi embora. Devia sentir que o homem na sua frente lhe daria mais presas fáceis naquela noite, ou a sua barriga já estava cheia por causa da ultima refeição. Soltou suas armas e respirou mais aliviado. Agora poderia focar na tarefa que tinha pela frente.

Caminhou mais um pouco abaixado. Usava as folhas das plantas e a noite para se esconder. Não tardou a encontrar um dos sentinelas. Usavam fuzis antigos, mas ainda assim eficiente. Teria que ser como um leopardo: rápido e letal. Foi caminhando agachado e bem devagar. As folhas e a noite lhe davam uma cobertura perfeita. Nem mesmo um espectador atencioso conseguiria vê-lo agora. Levantou-se bem devagar ao mesmo tempo que tirava a faca de sua bainha. O sentinela estava de costas bem na sua frente. Rapidamente segurou sua boca com a mão esquerda enquanto que a direta cortava a sua garganta com a faca. Não ouve sequer tempo de gritar. A lamina da arma era tão afiada que cortou o pescoço de sua vitima até a coluna. Sangue escorreu por todos os lados e o molhou um pouco. Ficar com o corpo tingido com o sangue inimigo não era uma novidade. Havia sujado suas mãos inúmeras vezes em inúmeras missões. Estava naquela vida havia muito tempo. Matar uma pessoa não era uma novidade. Pegou o corpo do morto e o jogou floresta a dentro. Seria mais um lanche para uma das feras daquele lugar maldito.

Com o corpo escondido caminhou por dentro do acampamento. Fogueiras eram usadas para cozinhar. Alguns homens se drogavam ao redor delas, outros simplesmente bebiam enquanto conversavam. No meio das sombras eles não viram o mercenário colocando um explosivo pequeno no meio dos tanques de combustível. Nem ao menos o viram o colocar no meio do arsenal de armas. E porque veriam? Estavam distraídos se divertindo. Ali, no meio do nada, eles não precisavam ter medo. Eram os donos da floresta. Pelo menos era assim que pensavam. Ele foi então para o helicóptero. A porta estava fechada e um homem de roupas militares protegendo a porta. Dessa vez não precisaria da faca. Com um movimento rápido quebrou o pescoço do soldado. Puxou o seu corpo o colocando embaixo do helicóptero. Demorariam até perceberem o seu desaparecimento. Até lá, tudo já teria acabado. Calmamente entrou no veiculo aéreo.

Este percebeu logo que melhorias foram feitas. Parecia que estava dentro de um apartamento normal. O ar condicionado estava ligado. A temperatura interna devia estar em torno de vinte graus. Era pelo menos metade da temperatura externa. A luz estava apagada, mas mesmo assim pode ver uma cama onde um homem dormia. Aquele era sem duvida o seu alvo. Achou interessante que um homem importante como aquele ter apenas um segurança. Foi caminhando devagar quando sentiu o seu erro. Havia alguém atrás dele, era um homem adulto agachado. Respirou fundo. O suor ainda escorria pelo seu corpo. Virou-se rapidamente erguendo a faca. Foi bem a tempo. O outro segurança estava com uma grande faca de caça. Com a sua própria defendeu a lamina atacante. Estava escuro, mas mesmo assim podia ver os contornos do inimigo. Era um homem forte e robusto. Não conseguia ver o rosto dele, mas isso também não importava. O importante era que este estava querendo a sua cabeça. Uma luta de facas começou. Sentiu um corte no seu braço, ao mesmo tempo sentiu a sua faca cortando carne. Era uma luta silenciosa. Ambos os cortes haviam sido superficiais mais golpes foram dados e mais ferimentos criados. Então os dois avançaram ao mesmo tempo. O mercenário pode ver a lamina do inimigo se aproximando do seu pescoço. Abaixou a cabeça sentindo esta passar rente a sua nuca. Enquanto desviava cravou a sua faca no peito do inimigo. Este sequer conseguiu gritar de dor. O golpe havia cravado diretamente no seu pulmão direito. O mercenário retirou a faca, sentindo que sua mão estava encharcada de sangue. O seu inimigo caiu morto no chão fazendo barulho. Por causa disso o homem que estava na cama despertou. Acendeu as luzes ofuscando a visão do mercenário. Porém isso não o impediu de ver a pistola na mão do homem. Rapidamente atirou a faca contra ele. A lamina afiada foi cravada no seu ombro e fez a arma cair no chão. O homem tentou gritar de dor, mas não teve tempo. Um soco do mercenário o fez desmaiar. Este então foi para a cabine do piloto e ligou os motores. Ao mesmo tempo também apertou o botão de um pequeno controle que tinha no bolso. Os explosivos que colocou explodiram no mesmo instante.

O caos se criou!

Os homens estavam ou muito bêbados ou drogados demais para reagir rápido ao grande incêndio que surgiu. Não estavam esperando por isso. Homens que estavam perto da explosão morreram na hora. Outros perderam membros ou ficaram seriamente feridos. Sem nenhum hospital ali perto era certo de que estavam condenados a morte. O mercenário não se importou com isso. O helicóptero não foi molestado ou sequer foi chamado pelo radio. Deviam imaginar que, com a explosão, o chefe havia fugido. Dessa forma, pode ir embora sem se preocupar com ser perseguido.

Seu plano havia dado mais certo do que imaginava.

***

Haviam se passado três dias.

Estava sentado em um restaurante na Inglaterra quando um homem de terno surgiu. Era um terno preto e ele não estava usando gravata. O homem careca estava calmamente comendo um delicioso bife sem sequer ter olhada para frente. Usava um longo casaco preto com um cachecol em volta do pescoço. O homem de terno sentou-se na sua mesa. Este era um homem mais velho de cabelos brancos e olhos azuis, enquanto que os do homem careca eram negros e frios.

- Nunca pensei que fosse dizer isso, mas você esta atrasado. A cabeça daquele traficante lhe foi entregue ontem. Porque meu dinheiro ainda não foi entregue?- perguntou o careca enquanto comia calmamente. Ainda tinha metade do bife para comer.

- O trabalho foi, como sempre, perfeito. Ninguém suspeita de nada ainda. Ainda dizem que o líder do trafico na região ainda esta vivo. Porém o que você fez depois de o ter matado que deixou os meus superiores preocupados.

O mercenário riu. Limpou a boca com o guardanapo no seu colo e, pela primeira vez, encarou o homem de terno.

- E desde quando a CIA se importa com os meus atos? Eu faço o trabalho sujo de vocês em troca de um pagamento justo. Eu não faço perguntas e vocês também não fazem. Nossa relação sempre funcionou assim.

- Mas agora perguntas precisam ser feitas. O que você fez com dez milhões de euros que desapareceram da conta do chefe do narcotráfico que você matou?

- Não sei o que você esta falando?

- Acha mesmo que nós não vigiávamos a conta dele? Sabemos que os dez milhões saíram em dinheiro de um banco. Segundo o gerente, um homem com a sua descrição veio com um documento assinado pelo traficante. Este documento lhe dava o direito de pegar em dinheiro a quantia que quisesse. Não adiantar negar, meu amigo, nós sabemos que foi você.

O homem sorriu. Terminou de comer o seu bife, bebeu o que restava da cerveja no copo a sua frente, para então falar:

- Vamos dizer que esta certo. Vamos dizer que fui eu que peguei o dinheiro. Vamos dizer também de que você investigou todas as minhas contas bancarias e viu que o dinheiro não esta lá. Por isso que eu ainda não fui atacado por nenhuma das famosas equipes táticas americanas. O pessoal em Langley não sabe o que eu fiz com ele. Foi por isso que esta aqui, não é? Foi por isso que mandaram você me perguntar. Não somos amigos, mas nos conhecemos tem alguns anos. Posso dizer que somos conhecidos íntimos.

- Eu disse para eles que você veria tudo isso logo de cara, mas não quiseram me ouvir. E então? Vai me contar o que fez com o dinheiro? Eu sei que você nunca pegaria para si dinheiro sujo.

- Então, vamos continuar com as suposições- disse o homem ironicamente.- Vamos dizer que agora dezenas de instituições de caridade na África receberam uma quantia generosa como doações anônimas. Todas foram investigadas a fundo por mim. São instituições honestas que de fato ajudam os necessitados em suas regiões de atuação. Acredito que esse dinheiro será melhor usado por eles do que pelos agentes corruptos da CIA. Não adianta negar, meu amigo, eu sei que eles existem. Mas, como eu disse, são apenas suposições.

- Suposições interessante.- o velho agente da CIA deu um sorriso maroto.- Embora eu tenha gostado do que fez, saiba que o pessoal lá em casa vai investigar.

- Boa sorte com isso. Dinheiro vivo não é fácil de ser rastreado. Não pensem que vão conseguir. Agora dê um recado aos seus superiores: eu gosto de trabalhar com vocês, gosto muito mesmo. O dinheiro é muito bom. E é por isso que quero continuar trabalhando com vocês. Não me dêem motivos para me arrepender. Eu não fico muito contente quando estou arrependido.

- Darei o recado, mas não acho que eles não vão gostar.

¬- Essa é a ideia. Adeus, amigo.

O agente se levantou se foi embora da mesa. O recado não precisava ser dado, pois a escuta que carrega transmitiu toda a conversa diretamente para os seus superiores. Eles ouviram a ameaça do mercenário. E era certo que tentariam mata-lo pela ofensa. Primeiro porque desviou o dinheiro e, segundo, porque os ameaçou. Ele sentia que isso estava longe de terminar.

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Rodrigo Magalhães
Enviado por Rodrigo Magalhães em 29/09/2016
Código do texto: T5776738
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