Gaijin - Prólogo - Uma Segunda Chance
Se porventura alguém ler este diário, certamente descobrirá que escapei da morte em um determinado ponto e se perguntará como ocorreu.
E era exatamente isso que eu e meus companheiros estávamos passando depois de quase sermos aniquilados por Meredoth.
Era como se estivéssemos ganhando uma segunda chance de fazer tudo o que não fizemos até agora.
Notamos que alguém nos vestiu com roupas estranhas que lembram um pijama, ou para ser mais exato, uma espécie de camisola. Mais tarde fiquei sabendo que os locais o chamam de quimono.
Vi a reação inesperada de meus companheiros em relação a essa situação.
Vareen estava mais taciturno que o normal, tentando assimilar o que aconteceu e em breve seu semblante mudou quando descobriu que o livro havia ficado perdido no oceano.
Nikolai deu um beliscão em seu braço para confirmar se estava mesmo vivo e logo acalmou Strahd que estava bastante assustado com o ambiente.
William estava encostado em uma arvore próxima provavelmente fazendo uma oração a Ezra por ter evitado nosso triste fim no Mar Noturno.
Já Caleb estava praguejando sem parar sobre isso jurando um dia acabar com Meredoth e fazendo-o pagar pelo que fez conosco.
E lembrou também do casamento de Lucianinho prometendo que chegaria a tempo de assistir a cerimônia.
Caímos na gargalhada para descontrair depois de uma forte tensão como essa, porém voltamos as perguntas que valem uma caixa de whiskey.
Como estamos vivos?
E quem nos salvou?
E o mais importante de tudo.
Onde nós estamos?
* * *
Ainda estávamos divagando quando uma mulher apareceu fazendo uma estranha saudação abaixando seu tronco.
Trouxe arroz e sopa para nosso desjejum e Vareen perguntou a ela onde estamos.
Ela estava um pouco tensa, mas seu relato foi bastante conciso.
Disse que viu uma mão esquelética ao longe jogando-nos para outro lugar e em seguida viu uma forma fantasmagórica que falava com uma voz cavernosa vestido com uma túnica e segurando uma foice em uma das mãos.
Provavelmente deve ter sido o barqueiro que nos salvou da morte no último instante.
A mulher falou ainda que devido a nosso estado quase congelado, ela mandou alguns servos colocarem essas estranhas roupas que estávamos usando.
Depois chegou um homem um pouco mais baixo do que Caleb e Nikolai e o paladino perguntou sobre o que fizeram com nossos pertences.
Ele nos disse que grande parte de nossas coisas havia se perdido no mar e satisfez nossa curiosidade ao dizer que estávamos em Rokushima Taiyoo.
Pelo pouco que li sobre ela, antigamente a ilha era chamada de Terra dos Seis Sóis havendo seis províncias nos tempos remotos. Dizem as lendas que se o líder local morre, a ilha afunda.
A princípio achei que era uma brincadeira de mau gosto, mas depois do que vimos até agora em nossas andanças, tudo é possível.
Percebi o desânimo de Caleb pela perda da sua amada espada e a dúvida desesperadora dos outros sobre esse lugar tão distante de qualquer ponto conhecido.
Então resolvi animá-los dizendo que poderemos usar o que essa terra oferece a nosso favor e eu, como bom dementliano curioso, vi uma grande oportunidade de conhecer uma nova terra e estudar seus costumes para relatar depois aos membros da Sociedade Van Richten bem como aos nossos sucessores nessa difícil missão de combater o mal.
O homem pediu para que o acompanhássemos e como ninguém fez objeção alguma, fomos com ele.
Vareen detectou magia em todos os lugares e assim que adentramos a cidade, ficamos impressionados com a imponente construção a nossa frente.
Era uma espécie de castelo bastante suntuoso no lado de fora e ainda mais incrível no lado de dentro.
A nossa direita, algumas portas levavam a outros lugares do castelo e a esquerda, havia uma escada que levava ao andar superior. O corredor era bastante espaçoso e era ornamentado por armaduras estranhas que eu nunca tinha visto.
Entramos na sala principal, provavelmente a sala do trono, e encontramos um homem sentado no tapete com as pernas cruzadas usando roupas parecidas com as nossas.
Ao lado dele, estavam dois guerreiros usando aquelas estranhas armaduras que vi no corredor e a sua direita, encontramos outro homem de vestes simples, mas com um estranho crucifixo em seu pescoço.
O mesmo crucifixo que vi um marinheiro usando naquele estabelecimento da Holanda quando fomos para o outro mundo, mas lá era um pouco maior.
O homem de olho puxado identificou-se como Shinpi Yoko, o comandante da fortaleza de Yoosai Kurai e o homem da cruz se identificou como Ruy Cantábria vindo de um lugar chamado Nova Hispânia.
Caleb perguntou a Cantábria em que época estamos e ele nos respondeu que era o ano de 1546 e, entre outras coisas, para podermos conversar com o daimyo, uma espécie de lorde local, precisávamos passar por um ritual de escrever seu próprio nome com sangue.
Também ficamos sabendo que nós não éramos os únicos forasteiros da região. Havia outros gaijins, como os locais os chamam, como Matheus Motoyama e Augusto Ribeiro.
Depois de sermos submetidos ao ritual, ficamos sabendo um pouco mais a respeito de Shinpi Yoko e desse local.
Ele nos contou que controla a fortaleza de Yoosai Kurai e a província desde a morte de seu pai e disse que as outras três províncias são controladas por cada um de seus irmãos.
Falou ainda que depois da morte de seu pai, uma guerra estourou entre eles pela conquista total do domínio onde cada um arvorou-se do direito legítimo de herdar o trono usando todos os recursos necessários para conseguir esse objetivo.
No caso de Yoko, ele recebe a ajuda dos missionários da Nova Hispânia que trouxeram estranhas armas de fogo para a província chamadas de Tanegashima.
Aquilo me interessou bastante e perguntei ao daimyo quem era o responsável por essas armas e ele respondeu que era Rodrigo Calatrava quem os trouxe.
Depois da reunião com Shinpi Yoko, fizemos rapidamente a nossa para decidir o que fazer após sabermos de tudo isso.
Vareen e eu resolvemos andar pela cidade para saber mais a respeito desses acontecimentos conversando com os moradores enquanto Caleb, Nikolai e William fariam uma visita ao ferreiro local em busca de novas armas.
Assim que saímos do castelo, alguns servos de Yoko trouxeram parte de nossos pertences que foram localizados e resgatados por pescadores locais. Entre eles, estavam minhas pistolas, o rifle, a rapieira e a espada goblin bem como a maioria das armas de meus companheiros e para a alegria de Caleb, a sua espada estava entre eles.
Pelo que sabemos, acabamos entrando outra vez no meio de uma guerra que faz a luta entre Barovia e Gundarak parecer brincadeira de criança.
Tudo pelo fato desta guerra ser travada entre irmãos que juravam destruir uns aos outros.
Tínhamos que acabar com essa insensatez antes que isso acabe conosco.
Mas havia outra preocupação que nos perturbava.
Como voltar pra casa.