Gaijin - Parte III - Sonhos, Ilusões e Uma Ilha Convertida
Como teríamos que passar pelo Monte Gélido para chegar até o castelo Shiro Koori, onde encontra-se Shinpi Yami, Vareen sugeriu que retornássemos a Yoosai Kurai para não só conseguir informações sobre a montanha como também renovar nosso estoque de provisões que estava quase no fim.
A viagem estava sendo feita quando adormecemos após um dia tão agitado.
Tivemos um sonho muito estranho e que parecia bem real onde estávamos no casamento de Lucianinho com nossas melhores roupas.
Lembro-me de que estava ouvindo um grito de acorda, mas nem dei bola pra isso porque estava feliz com Charlotte e os gêmeos.
Mas vi que minha barriga estava roncando e a boca bastante seca, o que não era normal em um sonho.
Havia mesmo algo de estranho, mas estava bom demais pra ser verdade. Um tempo sem aventuras loucas nem caçadas sem sentido.
Nesse momento senti uma forte dor no peito como se estivesse levado um soco e o grito foi tão alto que consegui acordar.
Eu estava muito confuso quando vi meus companheiros em uniforme de expedição e Vareen nos explicou que ficamos por uma semana no barco sem comida e água.
Alguém provavelmente colocou um feitiço em nós e certamente pagará caro por isso.
E esse alguém deve ser um opositor ferrenho da nossa missão de paz, provavelmente um membro de uma das quatro facções que quer sabotar nossos esforços para continuar essa guerra insana e cruel.
* * *
Após todos despertarmos, a neblina saiu e surgiu uma mulher misteriosa vinda do fundo do lago.
Era a Dama do Lago que falou para nós sobre a situação reinante em Yoosai Kurai.
Lá, Shinpi Yoko havia se convertido a nova fé trazida pelos gaijins da Nova Hispânia três dias atrás e o povo desta ilha começou a sofrer as consequências deste ato.
Como se já não bastasse tudo isso, agora teremos que lidar com problemas religiosos que poderiam prejudicar ainda mais nossa missão que já era difícil por si só.
Era hora de irmos a Yoosai Kurai o mais depressa possível para ver o que estava acontecendo com nossos próprios olhos.
Bem como encontrar o responsável pela magia que nos fez dormir por uma semana.
* * *
Chegando ao castelo, meus companheiros e eu notamos algo estranho.
Os soldados aboliram as espadas e passaram a usar os arcabuzes como armas principais e os conselheiros de Yoko estavam agora usando trajes parecidos com os nossos.
Encontramos pelo caminho um desses conselheiros que ficou consternado com nosso estado deplorável e nos deu comida e água.
Identificou-se como Rafael e disse que viu sua mulher morrer depois de uma longa luta contra a doença e acrescentou defendendo seu povo com unhas e dentes e acima de tudo, valorizando a chegada do conhecimento pelos hispanos.
Eu, como bom dementliano que sou, defendo que o conhecimento precisa ser compartilhado com todos os povos, mas pergunto se vale a pena fazer isso sem esquecer suas tradições e crenças e sem destruir totalmente a cultura local?
Por sorte, tínhamos encontrado Matheus Motoyama que se ofereceu para nos levar até a filha de Yoko comentando o quanto a mudança repentina de religião está afetando o povo em Yoosai Kurai e arredores.
Assim que entramos no quarto, Caleb notou algo estranho nas mãos dela. Estavam repletas de estigmas e seu semblante havia mudado muito.
Ela havia invocado a Nossa Senhora da Lagoa e fez terríveis previsões, entre outras coisas, como a morte do pai dela e de seus três tios nessa guerra provocada por eles mesmos.
Vareen perguntou a ela quem foi o responsável por nos fazer dormir naquele barco e ficamos bastante surpresos com a resposta.
A filha de Shinpi Yami também fazia feitiços e ela nos fez dormir para impedirmos de chegar ao pai dela e convoca-lo a reunião de paz.
Não podíamos perder mais tempo e resolvemos nos dividir em dois grupos para cumprirmos essas missões.
Vareen e eu iriamos arriscar a travessia do Monte Gélido para chegar ao Castelo Shiro Koori onde encontraríamos Shinpi Yami e entregar a carta a ele da reunião de paz enquanto que Nikolai, Caleb e William iriam para as ruínas em busca do espirito do lorde negro.
Isso não foi necessário.
William começou a sentir-se mal e caiu contorcendo-se em fortes dores.
Seus olhos ficaram vermelhos e ele balbuciava palavras ininteligíveis.
Era o espirito do lorde negro que havia possuído William.
E enfim, veio a grande oportunidade para saber como tudo começou.
* * *
Por sorte, Ruy Cantábria tinha ouvido os gritos de William e veio pra jogar um balde de água nele causando uma dor horrenda no espírito.
Mas o lorde negro ameaçou atacar Caleb e Vareen e não tive escolha a não ser apontar a arma na cabeça de William a fim de dar tempo suficiente para Caleb fazer o ritual de aprisionamento da granada.
E com a ajuda fundamental de Vareen, o plano foi um sucesso e William voltou ao normal.
O lorde negro havia reconhecido o erro que cometeu em incitar seus filhos a guerra onde o máximo que conseguiram foi o caos e prometeu nos ajudar em nossos esforços de trazer a paz em Rokushima Taiyoo.
As coisas estavam cada vez mais confusas.
Mas agora já sabemos qual seriam nossos próximos passos.
Voltar as ruinas setentrionais e depois atravessar o Monte Gélido chegando a Shiro Koori antes que a filha de Yami pudesse fazer algo contra seu próprio pai.