O livro cobiçado

No final de semana seguinte, Marlena Matisons deixara Sedriks circular de bicicleta pelos arredores da cidade, após fazer um sem-número de recomendações.

- Não vá muito longe, e volte antes do almoço!

Sedriks prometeu que cumpriria o solicitado e partiu, feliz da vida. O dia de verão havia amanhecido praticamente sem nuvens, mas o calor não estava excessivo e soprava uma brisa constante vinda do mar. Ao passar pela praça central da cidade onde ficava localizada a biblioteca, viu que havia uma garota com mais ou menos a idade dele, analisando a fachada do prédio como se quisesse entrar. Ele parou a bicicleta.

- Está fechada! - Alertou.

A garota virou-se para ele, testa franzida.

- Já vi que está fechada, não sou idiota!

- Só estava querendo ser útil - redarguiu ressabiado, preparando-se para seguir caminho. Mas a garota ergueu a mão num gesto imperativo.

- Espere! Você trabalha aqui?

Sedriks ergueu os sobrolhos.

- Não acha que sou meio novo para trabalhar na biblioteca?

- Te vi entrando aí outro dia, com uma mulher de óculos - replicou a garota.

- Era a minha mãe - revelou Sedriks. - Ela é a nova bibliotecária da cidade, e nós ainda estamos colocando tudo em ordem antes de reabrir.

Destacou o "nós", já que mesmo informalmente era o auxiliar da mãe. A expressão da garota suavizou-se e quase lhe pareceu simpática.

- Então, a biblioteca vai reabrir? Que bom! Eu sou Varvara Dírike.

- Sedriks Matisons - respondeu.

Trocaram um aperto de mãos envergonhado e a garota perguntou:

- Vocês vieram de onde?

- De Nyutauna. E agora que minha mãe está aqui, o governo vai mandar livros novos para Júrmala.

Varvara riu.

- Nós não precisamos de livros novos, basta ter acesso aos que estão trancados aí dentro!

- Diz isso porque não viu a quantidade de poeira e teias de aranha nas prateleiras - resmungou.

- Imagino que vai limpar tudo direitinho - troçou Varvara, mãos nas cadeiras.

- O meu trabalho é só colocar os livros nas estantes - redarguiu altivamente Sedriks.

- Trabalho muito importante, sem dúvida - prosseguiu Varvara com ar de mofa. - Mas já que está organizando as estantes, por acaso não teria visto um livro grande, chamado "O Mar de Júrmala"? Tem umas figuras esquisitas, mapas das praias da cidade...

Sedriks olhou embatucado para Varvara.

- O que tem esse livro de mais?

- É a única cópia existente em toda a península de Landmane - informou didaticamente Varvara. - Foi uma doação do autor, Normunds Bergmanis. Ele nasceu aqui.

Sedriks balançou a cabeça em silêncio, como se estivesse processando o que ouvira.

- Bergmanis... sim, acho que vi esse nome... - disse por fim.

E abrindo um espaço com as mãos na vertical:

- Mais ou menos desse tamanho... encadernado em linho amarelado?

- Esse mesmo! - Exultou Varvara.

- Não está na biblioteca - afirmou categoricamente com ar impassível.

Varvara arregalou os olhos, surpresa.

- Mas você o viu! Que fim levou?

Sedriks abriu um sorriso triunfante.

- Esqueceu que trabalho na biblioteca? Peguei emprestado!

- [Continua]

- [21-03-2022]