A sacerdotisa no templo

A primeira coisa que Sedriks notou na manhã seguinte, ao chegar à biblioteca com a mãe, foi a bicicleta azul de Varvara Dírike encostada junto à porta principal. A garota estava sentada nas escadas de acesso, aguardando pacientemente.

- Mãe, esta é Varvara Dírike - apresentou-a orgulhosamente Sedriks.

- Marlena Matisons - a mãe de Sedriks estendeu a mão e trocou um aperto com a recém-chegada. - Ouvi falar muito de você ultimamente...

- Espero que só coisas boas - replicou Varvara, lançando um olhar especulativo para Sedriks. - Encantada em conhecê-la, senhora Matisons.

- Bom, confesso que fiquei agradavelmente surpresa em encontrar uma leitora de Daigone Pence num lugar tão remoto - admitiu a bibliotecária, enquanto apanhava as chaves do edifício na bolsa. - Inda mais, alguém da sua idade.

- A senhora não lia Pence quando tinha a minha idade? - Indagou Varvara.

- Acho que comecei a ler a poesia de Pence aos 17... quantos anos você tem, Varvara?

- Quatorze.

- Não me parece cedo demais - avaliou Marlena, abrindo a porta. - Pode colocar a sua bicicleta no pátio traseiro, dê a volta ao prédio que vou lá abrir.

Enquanto Varvara cumpria o que lhe fora sugerido, Marlena entrou na biblioteca com o filho e dirigiram-se para os fundos do edifício. Enquanto abria a porta que dava acesso ao pátio, esboçou um sorriso e comentou:

- Ela é bonita.

- Mãe... - murmurou Sedriks, sem jeito.

- E inteligente também. Acho que foi bom não ter trazido o livro de Bergmanis, pois assim podemos convidá-la para almoçar conosco.

- Ela já tinha aceito - declarou Sedriks.

- Quatorze anos e lê Pence. Será que ela teria interesse em ser minha assistente? - Ponderou Marlena consigo mesma.

O portão traseiro foi aberto e Varvara entrou, empurrando a bicicleta.

- Finalmente, vou poder adentrar esse templo do conhecimento - disse em tom brincalhão.

- Uma biblioteca sem bibliotecária é um templo sem sacerdotisa - corrigiu-a Marlena com uma piscadela.

- Parece então que agora não falta mais nada - concluiu Varvara.

Percorreu com vagar as salas, apreciando as estantes cheias de livros em encadernações escuras.

- Quanto tempo fazia que não entrava aqui? - Indagou Marlena curiosa.

- Eu tinha dez anos quando fecharam a biblioteca, depois da morte da sra. Niedra - disse Varvara, pensativa.

- E quem era a sra. Niedra? - Indagou Sedriks.

- A minha antecessora - respondeu Marlena.

- [Continua]

- [25-03-2022]