Espadas em arados

O general Bauer levou-me para ver os depósitos com armas confiscadas dos combatentes desmobilizados, agora que as hostilidades haviam chegado ao término (com a derrota dos nossos inimigos, naturalmente).

- O que acha que vamos fazer com tudo isso? - Indagou ele, apontando para as pilhas de rifles, metralhadoras e pistolas.

- Imagino que serão destruídas, já que não atendem aos nossos padrões de produção - arrisquei.

O general fez um gesto negativo.

- Na verdade, vamos revisar todo esse armamento e colocá-lo em condições de funcionamento novamente - declarou com satisfação. - Não temos uso direto para ele, é fato, mas o fim desta guerra não significa dizer que não ocorrerão outras nos próximos anos. Temos que estar preparados para esta possibilidade.

- Então... as armas serão entregues aos nossos aliados, para que as usem em conflitos que sequer começaram?

O general me deu um tapinha amigável no ombro.

- Custo de produção, meu rapaz. Não vamos precisar gastar recursos preciosos fabricando armas que já estão prontas, bem como todo tipo de veículo que puder ser reaproveitado em outros pontos do globo. E caso você pergunte quem fará esse trabalho de manutenção, lembre-se que agora temos dezenas de milhares de técnicos do inimigo à nossa disposição.

- E todos eles trabalhando para nós - ponderei.

- Precisamente! - Divertiu-se o general. - E vão trabalhar de graça, naturalmente.

- Mas não é arriscado colocar armas em funcionamento nas mãos de soldados, que até a pouco as usavam para matar os nossos? - Questionei.

Bauer deu de ombros.

- Armas descarregadas, não se esqueça. Quando nós as doarmos para os nossos aliados, estes sim, terão a obrigação de produzir a munição para que tenham utilidade.

E, com as mãos na cintura, encarando os contêineres cinzentos cheios de armas leves:

- Não é belo saber que essas armas continuarão a matar... mas agora, apenas os nossos inimigos?

Ponderei que preferiria ver as espadas transformadas em arados.

- Essa hora ainda não chegou, meu caro - replicou Bauer. - Mas vamos trabalhar para que se torne realidade um dia.

Pensei que por ora ele só estava trabalhando para que as armas não tivessem descanso. Para elas, a guerra ainda não havia acabado...

- [03-07-2022]