Todos contra o demônio

Era noite de sábado sem reunião dançante, festa para entrar como penetra, enfim, monotonia geral. Quem sabe o jogo do copo? Ou talvez ir na Assis Brasil jogar fliperama, comer um xis ou quem sabe tocar nos porteiros eletrônicos dos prédios e sair correndo? Mas nada animava. Seguimos, então, caminhando pelas serpenteadas ruas da vila floresta Descendo a Dr. Deoclécio Pereira em direção a Comendador Duval, subindo a Fernando Abbot até fixar acampamento numa praça em frente ao colégio do divino espírito Santo. Ficamos ali nos bancos jogando conversa fora até que algo nos chamou a atenção. Numa das ruas laterais da praça havia um terreno baldio tomado pelo mato com uma velha casa de madeira, algo até então comum não fosse alguém perceber uma inscrição em tinta branca na porta. Nos aproximamos e deparamos com o seguinte título: “casa do demônio”. Pronto! Estava ali nosso entretenimento para aquela noite de sábado. Encontrar alguém com coragem suficiente para ir até lá, bater na porta e chamar pelo coisa ruim. Uma atmosfera de excitação, medo e espírito aventureiro tomou conta daquele grupo que, desafiava-se mutuamente e, é claro, explodia em gargalhadas quando alguém fazia menção de dirigir-se a tal casa e por medo acabava retornando. Ficamos um bom tempo ali, nos empurrando e testando nossos nervos até que do alto da rua surge a figura do nosso amigo Alexandre Alves (o Beça). De baixa estatura, atarracado e de voz estridente ele se aproximou e perguntou o que estava acontecendo. Após ouvir todos os relatos e inteirar-se do assunto, deu uma olhada ao redor, arregaçou as mangas e foi na direção do casebre. A má iluminação da rua dava um aspecto ainda mais sombrio ao local mas, ele não deu a mínima importância e perante a admiração de todos foi caminhando a passos firmes. Parou na porta de entrada tal qual um cavaleiro em frente a caverna do dragão e passou a desferir murros na porta gritando em alto brados chamando pelo demônio!. Visto que o mesmo não apareceu (deveria estar ocupado) ele retornou calmamente em nossa direção e disse: “ele não está em casa. Vamos embora?” Todos seguiram silenciosamente em direção a Assis Brasil. O xis foi a alternativa.

Caio Schroer.