"O VELHO DA REDE"

 

Já se passava das seis quando Sr Pedro entrou na mata com a mochila nas costas e um facão na mão. Caminhou cerca de duzentos metros colina acima até encontrar duas árvores próximas para pendurar sua rede. Sua rede era bem elaborada tinha mosquiteiro e uma cobertura de material impermeável. Ele cortou uns galhos secos que encontrou pelo caminho aprontou a fogueira depois de checar a direção do vento. Esquentou sua refeição e fez um pequeno reconhecimento antes de se aboletar naquela rede que era uma barraca bem aconchegante. Tinha uma pequena lanterna com dínamo que quando deitava costuma ficar virando a manivela para caso precisasse a lanterna estaria carregada. Acordou de madrugada com barulhos de animais próximos. Abriu a fresta da barraca e viu dois enormes exemplares de felinos lindos e com cara de poucos amigos. Para estas ocasiões ele tinha algumas bobinhas. Apenas uma deu conta do recado e os bichos sumiram colina acima assustados. Dia seguinte fez o café e comeu com um pedaço de pão de forma com doce de leite que gostava muito.

Apagou o resto de lenha que ainda estava queimando, arrumou a mochila com a rede/barraca enrolada e voltou para estrada.

Já havia andando por quase três horas quando chegou a um rio caudaloso. Desceu foi no pé da ponte tomou um bom banho, lavou meias e cuecas e aproveitou para pescar seu almoço. Fez uma fogueira e assou dois peixes que conseguiu pescar. Já alimentado voltou a estrada com a sensação que deveria ficar aquela noite por ali pois olhando para o horizonte viu as nuvens nada simpáticas. Apertou o passo e andou até começar a escurecer. No caminho ele já ia vendo a possibilidade de armar sua barraca suspensa. Mas estava numa planície e as colinas estavam longe. Andou até não conseguir mais e não achou lugar apropriado. Já estava escuro e além de asfalto só tinha mato rasteiro. Encontrou uma pedra grande e resolveu sentar para descansar. Não passava um veículo. Ele ouviu barulho conhecido, era um cobra de tamanho rasoavel a menos de um metro. Ele então sem fazer nenhum movimento brusco pegou o facão e garantiu seu jantar. Limpou a cobra temperou e num espeto fez um belo churrasco. A lua já ia alta quando dois grandes faróis apareceram depois da curva. Ele rapidamente juntou suas tralhas e no.meio da estrada pediu carona. Era um velho caminhão cujo motorista gentilmente lhe deu carona. Estava indo levar sua produção de abacaxis para vender em um entreposto na cidade mais próxima. Aquela noite o Velho Pedro não dormiria. Dia claro caminhão descarregado o bondoso motorista tira do bolso duas notas e estende a mão na direção do velho, isso é pela ajuda no descarregamento. Foi quando o Velho disse, muito obrigado meu Amigo, não preciso de dinheiro. A dois anos saí de casa depois de minha esposa ter falecido e resolvi andar o resto do tempo que Deus ainda vai me conceder. Tenho filhos e netos, uma situação financeira rasoavel e ainda não consegui gastar quase nada do montante que sai de casa. Compro sal, açúcar, óleo e isqueiros. Quando acho pão italiano compro dois ou três porque eles duram bastante tempo. Sempre trago um copo de doce de leite. Já andei uns mil quilômetros. Essa é a terceira ou quarta carona que eu pego para não dormir no chão. Fiz está barraca que não pesa nada mas tem que pendurar em duas árvores próximas como se fosse uma rede. E assim vou vivendo meus dias com as lembranças da minha amada esposa. Ali eles se separaram e o velho Pedro voltou a estrada mas teve que parar no primeiro posto. A chuva chegou fina e gelada. Então aproveitou para alugar um quartinho, lavar suas roupas e fazer refeições saudáveis. Quatro dias de chuvas. Amanhece o dia, céu limpo e colinas ao fundo. Tudo que o velho queria. Depois de andar por quatro horas ele chegou a entrada de uma fazenda que ele guardava na lembrança que tinha uma foto. Como a casa era distante da porteira ele entrou e se encaminhou até lá. Foi recebido por um monte de crianças brincando. Na porta de uma das casas tinha uma linda moça sorridente. Boa tarde, ela responde boa tarde Tio Pedro, que alegria recebê-lo aqui na nossa Fazenda. Sua casa está ali do mesmo jeito que seu avô deixou. Ele assustado perguntou como me reconheceu se você nunca me viu. Ela sorrindo pediu para ele entrar e na parede da sala um retrato pintado a mão desvendou o mistério. Seu avô era idêntico a ele. E a sobrinha era filha do seu irmão já falecido.

Ali acabou a longa viagem do Velho Pedro!!!