O Ilustre Visitante

Já começava a escurecer quando ele adormeceu. Dentro das limitações que lhe foram impostas não demorou muito para começar a virar de um lado para outro e balbuciar palavras que pareciam fazer parte de uma conversa pra lá de animada.

Depois de muito blá-blá-blá finalmente caiu em sono profundo.

Na manhã seguinte perguntamos a ele se tinha tido algum sonho diferente. Para nosso espanto ele disse que tinha estado em seu trabalho, conversado com os alunos e andado pelos corredores com a desenvoltura de outrora.

Ele era professor e hoje estava confinado a uma cama em um quarto de hospital, na esperança de obter a cura para sua doença.

Como fazia uso de medicamentos fortes e adormecia com facilidade, imaginamos que o sonho descrito por ele poderia ter sido um delírio profundo.

Ficamos estarrecidos quando logo pela manhã o professor titular da cadeira nos ligou manifestando sua felicidade com a recuperação do colega e amigo.

Disse, convencido da recuperação, que os alunos lhe abordaram logo cedo para manifestar a alegria de terem o querido professor de volta a faculdade.

Disseram-lhe que falaram com ele, perguntaram de sua saúde, da reposição das aulas, além de elogiaram sua aparência.

O fato é que ele não havia arrastado o pé daquele quarto por um instante sequer e isso tornava esta história, um grande mistério.

Como então duvidar que empurrado pelo seu desejo de viver e de fazer o que mais gostava ele não havia buscado um meio para estar com seus alunos?

Até hoje, acredito que ele conseguiu. Do seu jeito ele foi até lá e fez o que queria fazer. Talvez, em seu íntimo, já soubesse que aquela era a última vez que o faria.

Alguns dias depois ele nos deixou. Não pra sempre. Ele frequentemente dá um jeito de vir me visitar. Com certeza não toma mais nenhuma medicação.

Vem só para ver seu filho...

Rodrigo Munhoz
Enviado por Rodrigo Munhoz em 24/06/2016
Código do texto: T5677399
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.