O Cirurgião da Faca Enferrujada

*Nota do Autor: Os fatos a seguir podem ter ocorridos desta forma ou de forma semelhante a esta, estes fatos no mínimo extraordinários, constituíram um legado grandioso e foi interpretado por diferentes pontos de vista. Com o passar do tempo o legado transformou-se em lenda e cada um os relata à sua maneira, porém os depoimentos deixados nas entrevistas realizadas e perpetuados pela imprensa por quem os vivenciou, não mudam.

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Na Fazenda do Faria em Congonhas do Campo, cidade famosa pelas esculturas do mestre Aleijadinho, na data que os médicos festejam o seu dia, 18 de outubro, nasceu em berço pobre, mas rico em amor José Pedro. Desde a sua mais tenra idade foi carinhosamente chamado por Zé, ele seria o primogênito de uma dezena de filhos do casal “seo” Antônio e dona Maria.

Zé teve uma infância igual à dos meninos pobres da roça, ou seja, uma infância difícil, pois já em criança ele foi educado e criado na labuta da terra de sol a sol. O seu pai valorizava as conquistas feitas pelo suor e pelas mãos calejadas.

O “seo” Antônio na simplicidade do seu pensamento estava certo, com os parcos recursos familiares não conseguiu propiciar um estudo adequado ao filho, que não foi além do terceiro ano primário; sem a caneta nas mãos a enxada era o destino honesto destas mãos. O que distinguia a infância normal do Zé com a dos outros meninos pobres, era o fato dele afirmar em pânico à sua mãe que luzes brilhantes o seguiam no caminho da roça, dona Maria não teve dúvidas procurou uma benzedeira.

Com a mão sobre a cabeça do menino e a outra com fartos ramos de arruda e de vassourinha, a benzedeira fez uma longa reza e depois uma bela benção, dona Maria ficou satisfeita “seo” Antônio também, Zé não entendeu nada e ficou com mais medo ainda. Os dias passavam e o benzimento não fazia o efeito esperado, muito pelo contrário as coisas pioraram para o Zé, no caminho da roça além das luzes brilhantes, agora também escutava uma voz que não entendia o significado das palavras.

Ele possuía uma vida resumida da casa para a roça por poucos anos à escola, depois retornava para casa. O Zé não conhecia nada, não sabia de nada, ele não entendia o que era aquilo.

Confuso mais uma vez o menino recorre à mãe.

Ela explica a situação ao marido, “seo” Antônio queria ajudar, mas com seus pensamentos simplórios ele chegou a uma conclusão simplista. Algumas cintadas para retirar as luzes de dentro do Zé e outras mais para retirar as vozes e pronto está solucionado!

E assim foi feito, o menino levou uma senhora surra de cinta, lágrimas sonoras serpentearam-lhe o rosto como um rio amargo procurando uma justificativa para tal. As marcas das cintadas tatuadas sem pudor a flor da pele, seus olhos fixos com dureza transparente não fechavam, não piscavam, apenas resistiam misturando sentimentos e sensibilidade, gerando breves frutos humanos de tristeza e de dor.

Brutalidade em vão as luzes e as vozes ficaram, a vida insiste e passa triste para o Zé. Frente a esta situação periclitante “seo” Antônio e dona Maria, pessoas religiosas e católicas praticantes, procuraram o padre e o pai revela que o seu filho estava completamente maluco ou sendo influenciado por um espírito maligno, um demônio da pior espécie.

O Padre prepara-se para o exorcismo. Faz uma boa confissão para enfrentar o demônio de peito aberto sem pecados, pegou o seu livro Rituale Romanum e com outros padres se encontrou no caminho com outras benzedeiras e foi até casa do “seo” Antônio.

Com determinação, Fé e convicção o padre abre o livro na parte do ritual de exorcismo, lamentou não possuir os trajes adequados e começou o exorcismo do Zé, rezando um Pai Nosso em seguida recitou as Lituanas dos Santos e depois o Salmo 53 e contínuo se esforçando para um bom ritual. Quando o padre terminou, questionou o “seo” Antônio sobre as marcas arroxeadas existentes no menino, o pai explicou a ele que tinha sido uma tentativa de expulsar o demônio, o padre discordou e reprovou a atitude.

Exorcismo em vão, as luzes e as vozes ficaram; desta vez Zé se cala, não queria mais nenhuma benção, surra ou exorcismo, estava confuso, com medo e cansado não entendia o pleno significado daquelas palavras lançadas, das cintas sentidas, daquelas noites passadas. Aquelas palavras, as cintadas, noites passadas, são flechas lançadas não voltam mais, e de um jeito ou de outro deixaram as suas marcas nuas e cruas tatuadas no corpo e na alma do menino, sem pudor um dia surgiriam às verdades cristalinas, brilhantes e eternas como os grandes diamantes.

Zé observava a luz que quase o cegava, ouvia a voz a qual ele não entendia nada, mas não reclamava, porém era uma pessoa que não sabia dizer “não” a quem tinha fome, então doava um pouco de feijão, milho, uma galinha e com isso era repreendido e colocado de castigo pelo seu pai. Num desses castigos rotineiros, debulhando um cesto de milho achou um crucifixo de madeira escuro e quebrado, faltava um pedaço do braço esquerdo de Jesus Cristo, não sabendo de onde o tal crucifixo veio, ele o guarda na tulha sem ter a menor ideia da importância que este velho crucifixo viria a ter na sua vida.

Na adolescência as coisas pioraram para o Zé, além da luz e da voz ele começou a ter visões aterrorizantes de um homem alto, careca, horroroso, ele entrou em pânico, achou que estava ficando completamente louco, pediu ajuda a mãe que se aconselhou com o marido. “Seo” Antônio procurou pensar mais com sabedoria, coisa difícil para ele, contudo decidiu que havia chegado a hora de afastar o filho da roça, talvez fosse o ambiente rural que fizesse mal ao Zé, o filho deveria procurar um emprego na cidade.

Sozinho, Zé foi à cidade a procura de uma boa colocação. Levando a flor do rosto à falta do trabalho e o peso do pão, as monótonas renúncias e todos os sonhos na prece que adormece ao luar, depois de uma entrevista retornou para casa com emprego.

Aos quatorze anos foi empregado na Companhia de Mineração de Ferro e Carvão, um menino da roça com seu trejeitão simples, humilde e até bolo, trabalhando na cidade. Não demorou muito para um dos seus colegas de trabalho, que se julgava um espertalhão, procurar “no pais dos burros” um verbete que expressasse bem essas características de bobo, humilde e simples, achou arigó e o Zé ganhou o apelido que o acompanharia pelo resto de sua vida, Zé Arigó, até então uma vida de recheada de dor e pavor.

Certa vez Zé Arigó quando terminou a sua jornada de trabalho e seguia a caminho de casa o céu fechou a cara, o dia nunca enegreceu tanto disparou a sua farta artilharia de trovões, roucos gritos aflitos precedidos por incansáveis relâmpagos azuis e raios, muitos raios, espadas prateadas que sangravam a terra, mas a chuva não vinha.

Quem veio junto com o vento que uivava com raiva e bailava com a fúria dos infernos infernais foi à visão daquele homem horroroso, alto, careca de olhos esbugalhados, uma visão horripilante que o deixava apavorado, esta visão o acompanharia pelo resto da vida.

Arigó seguiu a sua juventude trabalhando e convivendo com as luzes, as vozes e as visões que agora eram acompanhadas por fortíssimas enxaquecas, guardou para si a sua dor, no seu íntimo achava que a loucura pairava sobre ele. Aos dezoito anos conheceu Arlete, prima em grau distante com sua beleza pura, pois brilho nos seus olhos, água em sua boca e aroma nos seus lábios, casaram-se, enfim Zé estava feliz, vivia feliz.

Zé Arigó deixou a casa dos seus pais e vai morar na cidade com a esposa, Arlete era costureira de mão cheia e boa clientela, ele deixou a companhia mineradora e foi nomeado servidor público no instituto de previdência IAPETC, hoje INSS, o casal vivia feliz e com passar do tempo mais feliz ainda com a chegada dos primeiros filhos. Mas à porta desta felicidade as fortes enxaquecas de Zé, associadas às visões, às crises de insônia, e quando dormia pesadelos que o levava à beira da loucura.

Certa noite acordou de um desses terríveis pesadelos em violenta crise de pânico, levantou-se e saiu correndo pela casa com gritos aflitos, depois pela rua em desespero, gritando e chorando compulsivamente não atentou para um pequeno detalhe vexatório, estava pelado. Foi resgatado completamente depauperado pelos vizinhos desta situação calamitosa.

Ele decidiu procurar um médico, depois outro e mais outro na cidade, em outra cidade da região e doutor algum resolvia o seu problema. Sem nenhum tratamento, perdido, desorientado tentou mais um ritual de exorcismo com padre local, não resolveu, foi à benzedeira e nada, conversou com um amigo espírita, este explicou em detalhes a situação sob a ótica da sua Doutrina.

Zé não queria nada com o espiritismo ele era católico praticante, mas entendeu bem o fato de haver um espírito acabando com a sua vida e concluiu que nenhum padre ou benzedeira seria capaz de tirar esse espírito do seu caminho, compreendeu que mais cedo ou mais tarde teria que enfrentá-lo cara a cara. Dias após os ruídos da noite feriam a madrugada, Zé acordou com a voz incompreensível e a visão do homem horroroso, com medo, esgotado nos nervos, chegou ao limite. Sentiu-se desafiado na Fé, na medida dos pesos e na medida das forças, sem saída informa à esposa, era a hora de enfrentar o terrível espírito.

Em pânico Arlete ficou no quarto o marido determinado foi para sala, lá a voz antes incompreensível lhe faz sentido. O espírito apresentou-se como Dr. Adolph Fritz, um oficial médico do exército alemão morto na primeira guerra mundial, lhe falou que lutaram lado a lado, Arigó como seu auxiliar; o médico relatou as atrocidades cometidas nas batalhas e precisava da ajuda do Zé Arigó como um aparelho, para redimir-se dos crimes de guerra que praticaram juntos, uma árdua tarefa a ser realizada.

Com os nervos à flor da pele, Zé não gostou nem um pouco dessa história de ter matado alguém em batalha, muito menos de ter cometido algum crime de guerra, todavia não estava louco o espírito era real, isto lhe tranquilizou minimamente. O homem alto e careca já não lhe parecia tão horroroso, embora continuasse muito feio, o pavor do desconhecido amenizou para medo, então ele se atreveu e perguntou: “Porque eu?”.

Dr. Fritz lhe deu sólidos motivos espirituais baseados na afinidade e sintonia espiritual, Zé compreendeu, mas sabia da sua limitação de conhecimento para entendê-los em profundidade, os dois saíram da sala para o jardim da casa e lá o oficial médico revelou em tom de ordem militar qual seria a sua primeira missão.

Localizar um amigo seu, tratava-se de um mendigo com deficiências de movimentos, só andava com auxílio de muletas, devia curá-lo. Em seguida ir até ao sítio do seu pai, e na tulha pegar o crucifixo escuro com o braço de Jesus Cristo quebrado, ele jamais se separaria deste crucifixo; depois da missão cumprida Zé deveria retornar imediatamente para encontrá-lo.

De pijamas ele sai apressado pelas ruas da cidade, sabe aonde ir, a sua adrenalina sobe, o seu coração bate com força e sombras ameaçadoras na penumbra da lua o acompanha, pelas ruelas compridas e escuras, ele adentra pelos becos, vê o misero barraco do amigo. O mendigo ouve passos apressados, uma janela bate ao vento, a porta do barraco é abruptamente aberta, ele sente medo, Arigó entrou gritando para o amigo deixar as muletas e andar, atônito ele anda e continuou andando curado do mal.

Como ordenado ele vai até ao sítio do pai e sentindo uma estranha sensação nas mãos pegou o crucifixo, sem ser visto retornou para encontrar o Dr. Fritz. Depois quase em transe vê o médico de branco em uma enorme sala de cirurgia aparelhada, sendo auxiliado por médicos de branco, de especialidades diferentes.

Zé Arigó entendeu ser um mero aparelho deles, onde a estranha sensação em suas mãos lhe daria uma habilidade tal e qual a dos grandes cirurgiões, e sua missão seria curar até as curas impossíveis para a época. O seu medo e a sua dor desaparecem, assim como desapareceriam os pesadelos, a insônia, estava livre de tudo, de agora em diante só o Dr. Fritz e uma vida de terror transformando-se em uma vida de caridade.

O mendigo andando sem muletas pelo centro da cidade, para cima e para baixo, chamava a atenção de todos, falava orgulhoso do Zé e repetia centenas de vezes o acontecido na noite da inesperada visita do amigo. As pessoas incrédulas ouviam a história, concordavam entre si que algo de muito estranho havia acontecido ele andava, mas sem piedade comentavam a boca pequena “o mendigo pirou de vez, igualzinho ao Zé Arigó”.

Zé está curado, dorme o sono dos justos, os dias passam em paz, ele esquiva-se da curiosidade dos amigos e familiares sobre o acontecido com o mendigo. Só uma pessoa desenganada pelos médicos em total estado de desespero e paranoia levaria em conta à história do mendigo comentado a boca pequena que “pirou de vez”, porém esta pessoa estava na cidade, tratava-se do Senador da República Lúcio Bittencourt.

Procurado pelo senador, Zé Arigó sem ter a plena compreensão da estranha sensação sentida nas mãos e sem aceitar um tostão do político realiza a sua primeira cirurgia espiritual utilizando apenas o velho crucifixo em uma das mãos e a navalha na outra, totalmente curado Bittencourt revela aos quatro cantos a maneira como se deu à cura. Zé Arigó ganhou fama rapidamente, chamou à atenção da imprensa, em letras garrafais ela fazia o seu estardalhaço nas manchetes, a Igreja Católica acusa-o de curandeirismo, o conselho regional dos médicos mineiros de charlatanismo e na frente da casa dele uma romaria querendo ser atendida.

Acuado pede um tempo às pessoas e coloca um cartaz na parede bem à vista: “Somos todos católicos, aqui não há espíritas”.

Zé Arigó procurou o seu amigo espírita em busca de mais conhecimento, este lhe deu acesso aos livros, pelos quais ele obteve os conhecimentos necessários para uma plena compreensão do espírito do Dr. Fritz e de sua junta médica. Zé entendeu os fatos e aceitou de bom grado a sua missão e continuou católico, em seguida com o velho crucifixo em suas mãos abriu as portas da sua casa para os necessitados, e incorporando o espírito do Dr. Adolph Fritz atendeu um a um a romaria formada ali.

Incorporado Zé Arigó perdia o seu jeito simples, humilde e bobo assumia um jeito arrogante até grosso, com a estranha sensação nas mãos calejadas manejava com maestria objetos rudimentares, como faca ou canivete, fazendo cortes cirúrgicos precisos sem sangramentos e sem uso de anestésicos ou assepsia.

Aos domingos, Zé com seu crucifixo e a família, iam à missa.

Durante a celebração de uma dessas missas dominicais, o padre acusa Zé Arigó de curandeirismo, e o expulsa da missa e da Igreja. Daquele dia em diante todas as igrejas lhe fechariam as portas, obrigando-o a deixar a Santa Missa no coração.

Por sua vez, o Conselho Regional de Medicina de Minas pressionava a justiça acusando formalmente Arigó de exercício ilegal da Medicina, o delegado estava prestes a terminar o inquérito quando um médico procura Zé e lhe pede ajuda. Este médico desceu do carro com uma menina nos braços, e se dirigiu ao fim da fila como qualquer outra pessoa, e logo foi reconhecido era o Dr. Juscelino Kubitschek, Presidente da República do Brasil.

Zé Arigó curou os sérios problemas de saúde da filha do presidente, e pouco depois foi julgado e condenado à prisão por exercício ilegal da Medicina, mas não chegou a ser preso porque Juscelino lhe concedeu o indulto presidencial. Arigó pensou que tinha sido absolvido da acusação e continuou atendendo em sua casa, na cabeça dele não tinha cometido crime algum, nem feito mal a ninguém, além do mais o Dr. Fritz era um médico dos bons, o melhor que já tinha visto em toda a sua vida.

A imprensa noticiava tudo sobre Zé Arigó, às notícias sobre ele eram excelentes para os negócios, jornais, revistas vendiam feito água, os leitores eram sedentos por notícias fresquinhas a todo o momento. Porém muitos jornalistas não acreditavam e queriam desmascará-lo, seria o furo de reportagem do ano, entre eles a repórter e futura deputada estadual, Cidinha Campos.

Ela entrou na fila disfarçada de paciente com um gravador ligado na bolsa, Zé Arigó passa pela repórter, volta e pergunta por que fazia aquilo se ela precisava mais dele que todos naquela fila, Cidinha se espantou e abruptamente ele a segurou com força pela cintura lhe revelando seus gravíssimos males renais.

A repórter retornou ao Rio de Janeiro com a origem da sua dor misteriosa esclarecida, exames confirmavam a precisão do diagnóstico e a necessidade de tratamento urgente, mas a dor vai diminuindo rápido até desaparecer por completo, novos exames são realizados e confirmam a cura.

Cidinha escreve uma reportagem revelando tudo, a fita gravada, os exames e aponta Arigó como “um ser especial que recebeu preconceito em vez de atenção da ciência”, uma cópia desta reportagem, traduzida para o inglês, entre outras escritas sobre Arigó foi parar nos EUA nas mãos do Dr. Andrija Puharich, médico e cientista da NASA, pesquisador de assuntos paranormais.

Dr. Puharich forma uma equipe com tradutores e um especialista em bioengenharia e desembarca em Congonhas trazendo na bagagem uma sofisticada aparelharem, o médico PHD vai até a casa de Arigó e se apresenta estendendo a mão direita, mas Zé segura o braço esquerdo dele na altura do cotovelo e lhe pergunta se o lipoma profundo o incomodava. Perplexo o Dr. Puharich respondeu “sim, só eu e meu médico sabe desse tumor, é uma cirurgia complicada eu posso perder os movimentos da mão”.

Zé incorporado com seu jeitão arrogante falou “agora eu também sei do tumor, alguém tem um canivetinho aí”, o americano ficou sem reação, em dois minutos sentiu em sua mão o lipoma extraído e o canivete que Arigó lhe deu de presente, em poucos dias o corte cicatrizou sem contratempos.

Dr. Puharich e sua equipe nem se deram ao trabalho de desembalar a sofisticada aparelharem, o cientista da NASA agradeceu a Zé Arigó e foi embora relatando aos meios científicos que Arigó era um fenômeno admirável a ser esclarecido pela ciência.

Nesta mesma época surge uma nova acusação de exercício ilegal da Medicina, que resultou em um novo inquérito, seguido de julgamento e condenação à prisão. Mas desta vez Zé recusou o indulto presidencial oferecido, agora sabia que indulto não o inocentava, em sua cabeça estava claro como água cristalina que não havia cometido crime algum, ficou preso por sete meses.

Zé Arigó foi cumprir a sua pena na cadeia, o delegado sabia que Zé não era bandido e o colocou sozinho em uma cela, os presos o tratavam com o maior respeito, o carcereiro lhe pediu encarecidamente para ele operá-lo no pescoço e extirpar um caroço.

Arigó pergunta-lhe “tem uma faquinha ai?”, o carcereiro diz “tem faca sim, uma faca enferrujada pra descasca laranja”, Zé lhe responde “esta serve, serve sim”.

Ele operou com a faca enferrujada e em poucos dias o corte estava fechado, assim como a porta da cela de Zé aberta, dentro de sua cela operou o carcereiro, lá ele atendeu os presos, a mãe do delegado e depois uma longa fila que dobrava quarteirões.

Quando Zé Arigó foi solto ele saiu carregado nos braços da população agradecida por ruas e avenidas, não o deixaram tocar os pés no chão em nenhum momento até chegar à porta da sua casa, e abraçar os filhos e a esposa.

Não tinha modos do Zé Arigó continuar atendendo aquele mar de gente na porta da sua modesta moradia. Isto sem falar que todos se sentiam em casa na casa da dona Arlete, porque todos eram bem-vindos e tinham toda liberdade de abrir a geladeira e pegar um copo de leite, tomar um banho e assim por diante, só que era muita gente.

Para se ter uma ideia Congonhas uma cidade pequena, estava ligada a Buenos Aires e Santiago do Chile por uma linha de ônibus regular. Então com a ajuda financeira de amigos, Zé Arigó construiu o Centro Espírita Jesus de Nazareno e passou atender todos os necessitados lá.

E lá também cientistas japoneses e outros da NASA e australianos estudaram Zé Arigó e concluíram que o espírito do Dr. Fritz era um bom médico e só, não conseguiram explicar a estranha sensação nas mãos do Zé, nem a sua habilidade. Foi nesta época que o Dr. Fritz deu a data do desligamento do aparelho de Arigó e assim Zé ficou sabendo a data da sua morte, revelando-a apenas ao amigo e repórter Jorge Audi.

Em uma manhã chuvosa nos idos anos de 1971, um amigo de Zé Arigó lhe pede ajuda, Zé leva o amigo com o Opala emprestado do sargento Clarindo, de Congonhas à Conselheiro Lafaiete, mas durante o percurso Zé Arigó sofre um mal súbito ao volante e vem a óbito, o carro se acidenta e Zé é jogado fora do veículo.

Um dos seus filhos vinha logo atrás em outro carro, socorreu o pai, mas não havia mais nada a fazer, então o filho procurou cuidadosamente o inseparável crucifixo, ele jamais foi encontrado. Com estardalhaço a imprensa noticia a morte de Zé Arigó, uma multidão acompanha lastimosos o velório e o enterro, por ordem do bispo todas as igrejas fecharam as suas portas, lhe negando uma missa de corpo presente.

Para a Igreja Católica Zé Arigó era um curandeiro, para a Associação Médica um charlatão, para a Doutrina Espírita um Médium de primeira grandeza, para a Ciência um fenômeno Paranormal extraordinário e para milhares de pessoas necessitadas a última esperança. Zé, bom pai, bom marido, com seu trejeitão simples, humilde e às vezes até bobo, para os amigos era o bom Arigó.

Dona Arlete, se aposentou como professora de corte e costura pelo SESI e morreu em 2014 aos 97 anos.

Zé Arigó, se aposentou pelo IAPETC e morreu em 1971 aos 49 anos; deixou um legado extraordinário.

Baseado em fatos reais "O Cirurgião da Faca Enferrujada".