EM SILÊNCIO

Ela desceu esplendorosa lá do espaço carregada por uma nuvem. Sorridente e feliz, uma aura de plenitude sobre si, veio suavemente em minha direção. Em silêncio. Parecia com minha mãe, em tudo a lembrava, até mesmo aquela calma suave e branda que a fazia olhar a vida esbanjando doçura. Não tenho absoluta certeza, havia nela um algo mais de esplendor, de magnitude, de majestoso, mas na essência e no plácido olhar, no jeito simples e na candura era ela.

Olhou-me como se compreendesse o turbilhão de sentimentos envolvendo alegrias e tristezas, dores, mágoas, saudades, arrependimentos, tudo a um só tempo e na mesma explosão.

Nada brotou de seus lábios rosados, a expressão de seu rosto me bastava, e ainda assim, para meu deleite, decerto por telepatia ou através de meios por mim desconhecidos, ouvi-a falando comigo, dizendo coisas que vão além de meu entendimento humano. Embora eu não soubesse traduzir a beleza de suas palavras sublimes, ouvi-la de forma empírica e muito além do natural encantava meu coração. Este sim, compreendia o amor que ela transmitia em seu silêncio sorridente.

Ela - minha mãe? - continuava sentada na nuvem, pairando no ar, me fitando e transmitindo conforto e carinho maternos. Inebriado, a princípio eu não tinha visto o copo que havia na mão direita dela. E foi justamente esse copo, no qual percebi um líquido de cor e nuances nunca antes observado por meus olhos, que ela me entregou.

" Beba ", confidenciou sua voz distante e radiosa. Recebi de sua mão translúcida o copo cujo líquido exalava aromas indizíveis, pus meu olhar diretamente nos belos olhos dela, que brilharam ainda mais e piscaram como um sinal positivo, para que eu, sim, bebesse e usufruisse daquele conteúdo, então bebi. Tinha o saboroso e misterioso gosto de céu.

A nuvem sobre a qual ela - minha mãe? - se encontrava subiu paulatinamente voltando para o espaço, a pouco e pouco desaparecendo no ar. Antes de sumir, porém, revi seu sorriso e notei que ela acenava à guisa de " em breve no tempo do Divino, estaremos juntos." Explodindo felicidade, tomei outro gole do precioso líquido bem-aventurado, sentindo novamente o gosto de céu.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 05/01/2023
Reeditado em 05/01/2023
Código do texto: T7687337
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