O VELHO E A MULHER NO MAR

Foi quando ele decidiu ir à praia e ficar sentado na areia olhando o mar no seu eterno indo e vindo das ondas incansáveis. Porque tudo contribuía para sua angústia, aumentava o mal-estar da solidão, fazia-o chorar e apelar para as paredes silenciosas, então sair por aí e chegar até próximo do mar poderia enlouquecer ou aliviar seu coração. Em qualquer dos casos não teria mais importância, a vida lhe retribuía em dobro os erros e enganos de suas pegadas ao longo dos anos.

Resoluto e ciente do que a alma sedenta desejava, achegou-se a areia molhada e salgada e sentou fragmentado em mil pedacinhos de si mesmo, desanimado e pouco se importando com o quê lhe pudesse acontecer. Talvez até mesmo fosse muito bom morrer ali sentado e ser levado para o seio do mar, ao menos ele seria de alguma utilidade e alguns peixes teriam um alimento diferente. Não se regozijava com esse pensamento, mas já jogaram tudo mesmo às favas e não dava bola às questões emotivas.

O mar estava vazio de surfistas, barcos, navios e outras embarcações, por isso seus olhos vislumbravam apenas o marulhar e as espumas brancas, o horizonte ao longe e algumas gaivotas famintas. Na praia também não havia mais ninguém além dele. Tanto fazia, o mar lhe bastava, tinha todo o tempo do mundo para descansar os olhos na sua vastidão. Aque mulher que acenava para ele também...

A bela mulher avistada por ele em alto mar, o tempo todo acenando e sorrindo, vinha em sua direção. De onde ela saíra? E por que sorria para ele e o chamava? Há tantos anos nenhuma mulher lhe dava atenção! Quem seria ela? Mas o que isso importava? Ela era linda, vinha se aproximando sorrindo, acenando e convidando-o. O que mais ele queria? Sem pensar duas vezes, caminhou para a água e seguiu no rumo da bela mulher sorridente. Enquanto pode lutar contra as ondas, nelas tropeçando, andou e andou até ser coberto por uma jorrada gigantesca do mar sobre ele. E já não havia mulher nenhuma a não ser aquela criada e desejada por sua mente alvoroçada. Então o mar o enguliu.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 19/01/2023
Reeditado em 19/01/2023
Código do texto: T7699385
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