O NATAL TEM SEUS MILAGRES

O barulho se fez ouvir; lá no fundo, onde eu estava... Eu tinha acabado de entrar em casa, chegando para almoçar. Vi, meu filho Caio, no topo de uma escada, junto ao muro. Ele olhava em direção ao quintal do vizinho. Menino curioso... Pensei!

O estrondo foi logo após eu cumprimentar Solange (minha mulher) e lhe perguntar pelo nosso outro filho, o Cássio.

O fato nos levou para a área de serviço da nossa casa, onde o Caio, ainda no topo da escada, ao nos ver, gritou...

- Pai, Mãe, o Cássio caiu do telhado.

Tudo passou a fazer sentido para nós, corri em direção ao que me apontava para um desfecho de...

A nossa vizinha, já estava com o seu portão aberto, o que facilitou a minha rápida entrada naquele cenário onde o telhado não resistira ao peso do meu filho de nove anos. E eu o avistei...

Lá estava ele, lívido. Seu rosto era uma folha virgem de papel, onde podia ser lido:

-Pai, eu só queria pegar a minha bola!

Ao redor dele, pedaços de telhas ao chão, sobre a máquina de lavar, sobre o tanque. A bola perdera para ele todo o seu encanto. Era um mundo que não girava mais.

Abracei-o com toda a extensão dos meus braços. Apalpei-o todo, em busca de alguma fratura. Certifiquei-me de que não havia nele nenhum ferimento além daquela pequena escoriação nas suas costas e aquele enorme abalo no seu orgulho.

Levei-o de volta para casa. Um banho para acalmar o seu coraçãozinho e o quarto para algumas horas... Não o coloquei de castigo, apenas pedi que ele usasse aquele tempo para refletir sobre o acontecido, agradecer ao seu anjinho da guarda e principalmente a Deus, por nada de ruim ter lhe acontecido naquela tarde.

Ele entendeu, quando precisei sair para voltar ao trabalho, dei-lhe um demorado beijo e lhe falei:

- Filho, você acabou de viver o seu primeiro milagre... e no Natal.

Toma muito cuidado daqui para frente viu. Você não é importante só para nós. Mas precisa se cuidar e não se arriscar a toa.

Ele sorriu e disse, segurando as minhas mãos:

- Obrigado Pai!

Eu lhe respondi...

(HOW, HOW, HOW).

Esta expressão veio forte a minha cabeça. Pensei até em repeti-la, mas acabei agradecido; olhando pra além da cama onde meu filho naquele momento dormia parecendo um anjo, nos braços da sua mãe, dizendo:

- Te agradeço também meu Pai!