A 24ª HORA DO 24° DIA.

23 badaladas.

Nenhuma voz. Nenhum movimento.

Ele faz repicar o sino e volta para seu quarto.

Sem janelas abertas. Sem decorações.

Sem presentes.

Reza pela alma dos vivos que lá fora festejam e nada comemoram.

Repassa toda história em sua memória.

O começo. E tudo o que aconteceu depois, até o presente momento.

Tinha mais uma hora para recordar.

Depois... Bem, depois seria a mesma coisa de todos os anos.

Era quase certo. Por quase 2000 anos assim tinha sido.

Lembrou-se do nascimento, do aprendizado, dos ensinamentos, da dor,

das lutas, e de todas as lutas depois.

Não sabia ainda se tinha valido a pena ou não.

Já tinha perdido a conta de quantas vezes ali, naqueles mesmos lugares simples e calmos espalhados em todas as partes do planeta, em que ele estava ao mesmo tempo, dando chance a todos para revê-lo, tinha tido a

esperança de surgir alguém.

Um simples alguém que se lembrasse.

Mas lembrasse mesmo. Dele!

Não da oração, não da igreja, não do padre nem do papa, não da hora nem do dia. Talvez nem dos ensinamentos. Mas dele!

E de novo esperava.

Poderia nem ter vindo. Mas queria.

E em todos os anos esperava.

Rezou e aguardou.

Voltou à torre daquela igreja simples e calma.

Soou até a 24ª badalada.

E voltou.

1991

registro na BN / RJ.