São Bento, mestre de oração, recomendava aos seus monges que a oração deve ser breve. Jesus, no Evangelho, afirma que não é pelo muito falar que se conversa com Deus.
            Nesses dias de expectativa e celebração do Natal, sempre que posso, paro diante do presépio, para um dedinho de prosa com Deus. Há quem chame essa conversa breve de oração. Penso que oração é isso mesmo: um dedinho de prosa com Deus, sempre atento e disposto a nos ouvir.
 No coração falo ao Menino que vejo na manjedoura:
-“Dê-me a mão, menininho. É seu aniversário. Vamos dar um volta por aí. Quero tanto que você veja o mundo. Este mundo que celebra o seu nascimento”.
E se fosse possível tal diálogo, imagino o Menino-Verbo-Infante me perguntando:
-Aqueles clarões lá no fundo? O que são? Um vulcão?
- Não, Menino! É uma guerra. Há várias delas por aí.
-E o Menino de novo:
- E aquele homem correndo atrás do outro? Corre para ajudá-lo?
-Não Menino! Poucos correm para ajudar. Aquele é um assaltante. Veja... aquilo que ele trás nas mãos é um revólver.
-E aquele outro todo aprumado e bem vestido, que desceu do carro tão luxuoso? O que é? Um mestre?
- Não, Menino! É uma celebridade, um magnata milionário.
-E para que servem? Perguntaria o Menino...
-Ah! Todo mundo quer saber, mas ninguém ainda descobriu. Você irá encontrá-los pela vida. Todos nós os encontramos. São bastantes por aí. São como raposas. Chegam nas uvas antes do vinhateiro...
-E aqueles macaquinhos, pulando em frente ao macaco que vai na frente?
-Não são macaquinhos, Menino! São apenas jovens se divertindo. O que mandam eles fazem. Desde que não sejam os pais. Mandaram pular, estão pulando.
-E aqueles outros, sonolentos ali no canto? Estarão cansados?
-Não, Menino! Esses são usuários de drogas. Por fora estão dormindo. Por dentro estão viajando...
-E aquele casalzinho, rolando ali em baixo?
-Aqueles estão fazendo amor.
-Fazendo amor? Mas isso não é amor!
-Tente explicar isso a eles. Vai se dar mal... Eles sempre sabem tudo.
-E a senhorinha com a criança ao colo?
-Aquele é uma avó. Hoje as avós são muito ocupadas. Como a garotada faz muito amor por aí, as avós andam muito ocupadas.
-Naquela casa as pessoas estão com o prato na mão comendo diante da janela. Por que?
Não é uma janela. Aquilo se chama televisão. É a escola do nosso tempo. Todos aprendem nela. Adultos, jovens, crianças. Tudo o que vimos até agora é ensinado nessa escola...
E por que correm tanto, a pé ou sobre rodas?
-É a pressa. Todos estão apressados...
E o Menino me diz: Sabe que quem se apressa é porque se sente longe... Estarão longe de que?
-Não sei Menino! Nunca pensei nisso...
-Então é porque estão longe de si mesmos. Por isso não importa o lugar onde vão e por isso sempre tem pressa. Estão longe de si mesmos.
-Que coisa bela que você falou Menino! Fale mais...
Feliz Natal!