Como minha tia quase estragou o meu Natal.

Oi gente, podem me chamar de Beatrice, afinal esse é o meu nome.

Tudo aconteceu no Natal do ano passado.

Meus pais fizeram como já era de costume, prepararam a farta ceia e chamaram toda a família. A casa aqui é grande, então cabe todo mundo. Até aí sem problemas.

Porém, minha mãe; teimosa como sempre, resolveu convidar uma pessoa que eu nunca me dei bem : sua irmã...Minha tia Dalva!

Não que minha tia Dalva seja chata, não é isso.

Ela só é insuportável. Adora arrumar briga com as pessoas e falar bobagens até não poder mais. Reclamei. Depois reclamei de novo.

Mas de nada adiantou. Os parentes foram chegando, foram se aconchegando. Quanto mais gente chegava mais meu coração acelerava... A hora da bruxa estava próxima.

E não deu outra. A cobra apareceu.

Já á encarei assim que passou pela porta. Um sorrisinho falso estampou-se em seu rosto.

-Oi, biazinha. Como você está, querida ?

''Com você aqui, péssima.''- pensei.

-Nada bem.

-Mas é natal, fique feliz e dê um abraço na titia.

'' Abraço de urso, dou sim.''

O abraço foi curto, e ela dirigiu-se a mesa onde acontecia a ceia.

Minha mãe me chamou de canto:

-Seja boazinha com sua tia, entendeu? Já faz tempo que ela não aparece, tente ser simpática.

-Se ela não abrir a boca, mãe.

-Não seja agressiva, filha. Só te peço isso.

Eu,agressiva? Nunca fui. Sou a garota mais calma deste planeta, tenho 10 anos e nunca causei os problemas que muitas garotas da minha idade causam. Sou mais que tranquila. Mas não gosto que pisem no meu calo, não curto isso. E minha tia pisaria até no calo de um ciclope, se ela pudesse.

A ceia já estava acontecendo. Meu pai chamava toda a atenção com suas piadas ''engraçadas''.

De criança só havia eu e o pequeno Albert, filho do irmão do meu pai.

Só que Albert era meio anti-social, então nem rolava querer sair da mesa para ir brincar com ele.

Comecei a ficar estressada, e precisei sair da mesa.

Fui pra sala, dar uma olhada na quantidade de presentes amontoados logo abaixo a árvore de Natal. Minha mãe pareceu não gostar muito.

Ufa, foi um alívio para mim sair daquela bagunça. A maneira como os adultos se divertem_ bebendo, enchendo a pança e contando piadas sem graça_ sempre me deixou indignada.

Paz. A pequena Beatrice encontrava-se em paz alí na sala.

Entretanto...

Minha tia Dalva veio atrás de mim. A mulher teve a coragem de sentar ao meu lado no sofá e colocar o mão no meu ombro. Que cara de pau, ela sabia que eu não a admirava nem um pouco.

-Por que deixou a mesa, bia ?

-Por que eu quis.

-Hum... Sua mãe pediu para eu vir chamá-la.

'' Muito obrigado, mamãe.''

-Estou bem, aqui.

Ela viu o amontoado de presentes.

-Já sabe o que ganhou?

-Não, papai noel ainda não me disse.

-Você acredita mesmo nisso, bia ? - lá vinha ela, querendo começar um debate.

-Mais ou menos, contando que meu presente venha, por que não?

-Por que é tudo mentira. Papai noel não existe.

-Mas bruxa existe, né ?

Ela sacou.

-Existe sim, com a vassoura e tudo. - respondeu ironicamente.

-Por que não pega essa vassoura então e sai voando pra bem longe? -falei.

-Boa idéia, quem sabe não encontro o ''Papai noel''. Aí peço pra ele um presente pra você: Uma camisa de força.

O debate ficava mais tenso a cada segundo.

-Tia, não me leve a mal, eu só não vou com a sua cara. - desembuchei.

-Mas vai com a cara de um velho gordo e chato que nem existe.

-Eu acho que é porque ele só aparece uma vez por ano.

Ela calou-se, pensou em falar algo depois, mas minha mãe apareceu.

A ceia seguiu-se, e minha tia sem dar nenhuma explicação pegou sua bolsinha de mão e foi embora.

-Feliz natal para todos. - e sumiu.

Levei uma baita bronca da minha mãe no dia seguinte.

Mas estava feliz. Pelo menos eu não deixei a chata da minha tia estragar o meu Natal com o seu ceticismo.

Se ela aprendeu a dar valor ou não, não sei.

Mas eu ainda amo o Natal.