O ABRAÇO

Silvia caminhava em pés firmes pela rua de barro. Cabeça baixa, tomava alguns cuidados para não ser vista. Na verdade, sentia vergonha da sua realidade. Ao contrário das amigas, morava num casebre e vivia com muita dificuldade. Era a sexta de uma família de sete, sem pai e de mãe diarista. As amigas, falavam de computadores, viagens, roupas de marca e sonhos compráveis, Silvia vivia a realidade de agradecer pelas três refeições do dia. Assim, seguia a vida, desconversando todas as vezes que a questionavam sobre “Onde morava”.

Nutria uma raiva estranha sobre tudo e todos. Sempre que podia, maltratava a mãe com palavras e sempre que tinha oportunidade, culpava a vida “Por nascer na família errada”. Agora caminhava, numa tarde de 24 de dezembro, Véspera de Natal, data em que esperava cumprir algumas exigências familiares e “se mandar” pra casa de Amanda, onde encontraria a turma. Em frente ao portão de madeira, mais uma vez, olhou para um lado e para o outro e rapidamente entrou na pequena casa. Na sala encontrou a mãe, Anastácia, que recebeu a filha com um sorriso, prontamente desprezado pela menina, que foi direto para o quarto que compartilhava com alguns dos irmãos.

A Noite chegou, e perto da meia-noite, Silvia foi para sala de poucos móveis e uma arvore de Natal feita de um galho, coberta de algodão. Olhando constantemente para o pequeno relógio de pulso, matinha a seriedade na fisionomia e o silencio. Até que... “Meia Noite”. A mãe passou a pegar os presentes na pequena arvore e distribuir entre os irmãos, um a um, até chegar a Silvia, a quem entregou um pequeno embrulho, seguido de um abraço e uma frase: “Minha filha me perdoe por não poder te oferecer o que você merece, mas aqui está o melhor que pude. E saiba que farei isso sempre”. Silvia fez que sim com a cabeça, jogou o pacote no sofá e saiu correndo até a estrada próxima da rua de barro. Lá um carro a esperava. Entrou no veiculo aos sorrisos por tudo que curtiria a partir daquele momento. Na casa de Amanda, um duplex muito bem montado, encontrou o que considerava uma festa perfeita: Muita bebida, comida, presentes, som alto, paqueras e tudo mais que o dinheiro podia, e pode, comprar.

Já passava das quatro da manhã quando Amanda veio até ela com um olhar esquisito: “Sil, que bom que te encontrei”. Silvia largou o pescoço do “ficante” da hora e perguntou: “O que houve? Você está esquisita”; “Seu irmão ligou pro meu celular”; Silvia mostrou contrariedade “Como ele encontrou seu numero?”; “Ele encontrou anotado no seu caderno. É que sua mãe passou mal assim que você saiu. Ela está no hospital municipal. Vamos eu te dou uma carona”. Silvia olhou para amiga, sem saber o que fazer e literalmente puxada por ela entrou no carro e foi. Ao chegar ao hospital, logo na recepção encontrou Robson, o irmão mais velho, chorando. Assim que viu Silvia, ele veio até ela e deu a noticia; “Nossa mãe morreu”. O impacto da noticia, provocou um choro compulsivo na jovem que em meio aos muitos pensamentos, só queria uma chance de voltar no tempo e sentir mais uma vez, aquele último abraço.

Ubirajara Oliveira
Enviado por Ubirajara Oliveira em 29/10/2012
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