SEM PALAVRAS

A agonia aprisionava a vida de Vera. O que fazer? Não podia. Afinal ele era casado, nunca mentiu e nunca prometeu nada. Era só um caso. Só que depois de numa destas festas de final de ano regadas a muita bebida, esqueceu do “detalhe”. Resultado: gravidez.

Diante do resultado do exame, pensava na família, no trabalho e na vida Apesar dos trinta anos e da independência, se sentia sozinha e simplesmente não sabia o que fazer. É que havia certa alegria, apesar das preocupações; de certa forma imaginava o rosto, o choro, as roupinhas e o cheirinho do bebê. Não queria, mas sentia. “O preço é alto demais” pensou. Levantou-se daquela mesa de bar e saiu andando pelas ruas.

Foi, até que uma bolsa exposta numa loja, muito bem ornamentada com enfeites de Natal, chamou a sua atenção. Entrou e pediu mais informações a uma vendedora. Enquanto aguardava, num relance, olhou a sua volta e encontrou uma jovem que exibia com orgulho uma barriga de uns seis meses de gestação. De súbito a futura mamãe também olhou pra ela e neste encontro, Vera viveu um momento especial. Único. Sem tempo. De repente, a jovem sorriu e pôs as mãos na barriga. Não houve palavras, mas a Mensagem da vida impactou o coração de Vera, que retribuiu o sorriso e também passou as mãos na sua barriga.

Depois secou uma lágrima teimosa, agradeceu a vendedora e se foi. Na porta, voltou-se e mais uma vez encontrou o sorriso daquela “Maria” que num movimento de lábios desejou: “Feliz Natal”.