Conto de Natal - Dias de Chuva,Dias de Lágrimas

Olhar a chuva através da vidraça de uma das janelas, era para ele pura diversão. Recordava-se dos dias tristes, onde repousava na calçada sobre uma folha de papelão.

A imagem da lembrança era assim: Fazia frio,e o cobertor que poderia protegê-lo estava rôto,encardido e fedido, desprezou-o num canto da calçada. Os bracinhos fechados no tronco e as pernas encolhidas em modo fetal. Posicionava-se deitado de lado. Olhava o grotão das águas da chuva correndo, beirando a calçada e seguindo pela boca de lobo - achava bonito -, e chorava. Talvez, pensasse que a chuva era as lágrimas das crianças que sofrem molhando o planeta. " Poxa, são tantas, parece, as crianças que sofrem - que aguaceiro." Pensava, assim na sua inocência.E as lágrimas rolavam pelo seu rosto infeliz.

Havia fugido do orfanato - ali, era maltratado pelas tias, por ser negrinho, feio e calado. Os pais nunca soube ,quem foram eles. Ainda bebê amanhecera à porta do orfanato, dizem, num dia de chuva, e chorava muito, de frio e fome.

Era noite de Natal. A cidade estava linda, decorada. As lojas entupidas de gente fazendo as compras dos presentes. A música natalina estava em todos os lugares, luzes piscando, de todas ás cores. Um papai Noel havia passado por ele e não lhe dera devida atenção - e ele queria fazer o seu pedido. Sabia que nesta data as famílias se reúnem e os filhos recebem presentes. "Imagina a diversão que deve ser"-, pensava, com inveja, e se sentindo abandonado por Deus e por todos, então, chorava, achando que ali se iniciaria um dia de chuva.

Naquele dia, era feriado, e de Natal. Um carro parou perto dele. Até sentiu medo. Uma senhora branca, loira, de olhos azuis, e vestida com fino trato desceu do carro e chegou perto dele. O marido, talvez, fosse o marido ficou no carro observando. A chuva caía.

Ela o acariciou na cabeça. Olhou-o com olhos lacrimejantes. Duas crianças das janelas do carro o observavam - eram loirinhas, branquinhas. Um casal, a menina o apontava com miudinhos dedos, e ria.

" Vou receber um presente, eles sempre fazem isso no Natal, depois vão embora e fico aqui na minha solidão. Então, eu choro mais e sempre haverá dias de chuva."

Não foi assim. Ele foi colocado dentro do carro. Sentiu companheirismo nas duas crianças de mesma idade, dentro do carro - suportaram o seu mau-cheiro, dias sem se banhar. Trocaram olhares tímidos.riram.

Os meses se passaram, mais um Natal.

Agora, estava ali na janela. Observando mais um dia de chuva. A mansão era enorme. Tinha jardim, piscina. Ele fora adotado, agora tinha pai, mãe e irmãos, os pais ricos comerciantes de brinquedos. Brincavam e estudavam na mesma escola. Gostava de brincar no jardim e de se banhar na piscina. Tinha patins, skate,uma bicicleta e um notebook,celular,ipod,e um game de última geração - tinha o que pedisse, ter o que desejasse. Largava tudo quando a chuva começava e ia para a janela ver à chuva cair.Todos sabiam daquela sua mania.

- Mãe...

Gritou, ele.

- Diga filho.

- Está chovendo.

- O que é que tem?

Pediu para ela pegar o carro e saíram pela cidade, até que ele viu uma criança na rua, deitado na calçada sobre uma folha de papelão, feito ele, no passado.

-É ele, mãe que faz chover.

A mãe o olho mais uma vez, com os olhos lacrimejantes, não resistiu mais umas vez, mais um Natal. Não, não daria apenas um presente áquela criança, decidiu ser mais uma vez, o presente.

Em menos de um ano, por sua força, os pais de adoção criaram o orfanato Dias de Chuva - sugestão do nome dado por ele. Mais de trezentas crianças amparadas com um teto, comida, roupas, calçados e brinquedos, muitos brinquedos. Remédios, dentista, médico e alguns voluntários e colaboradores. Agora, estava ele, ali, mais uma vez observando à chuva pela vidraça da janela, e pensava com os seus botões:" onde estará a criança carente que está fazendo chouver com as suas lágrimas de sofrimento"?

Fim

Nota do autor: Quero sim, fazer chorar os adultos que lerem este conto, que eles, também, possam fazer chover no Natal.

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 05/11/2012
Reeditado em 15/12/2017
Código do texto: T3970112
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