...e o Natal se fez

A situação financeira de Nino estava - mais uma vez - um caos. Já vinha mal em razão de longa enfermidade de pessoa da família que veio a falecer em setembro de 1977. Ainda por cima, no Natal daquele ano, ainda em Sudiminas, não sabia sequer como faria para comprar presentes para seus três filhos pequenos. Porém, como na vida para tudo tem solução, inesperadamente seu irmão envio-lhe 3.000 cruzeiros

-Ah! Agora posso comemorar o Natal, graças a Deus e ao meu irmão. Que Deus o abençoe!

Comprou então os presentes para seus filhos e um peru para a ceia. "Puxa! Ainda sobrou um pouco. Já sei: vou repartir essa benção" - pensou Nino.

Agora comprou cerca de trinta brinquedos de baixo custo (bolas, bonecas, carrinhos). Véspera de Natal, dia chuvoso, ruas enlameadas do morro de Santo Antônio, crianças carentes, pessoas humildes, olhares tristes, rostos sofridos, sonhos distantes...Saco nas costas, à la Papai Noel, lá vai Nino a pé morro acima. Logo é rodeado por crianças.

-Mé dá uma bola - pede um menino.

-Eu quero um carrinho - grita outro.

-E eu quero uma boneca - agita a menina ansiosa.

Agachado, Nino vai tirando os brinquedos e distribuindo ali mesmo no meio da rua. Alguém perguntou: -Como é o nome do senhor?

-Sou apenas um ajudante do Papai Noel - respondeu Nino não querendo ser identificado.

Acabou rapidamente, mas...e aquele moleque ali parado com um olhar pidão e de tristeza?

-Você não ganhou nada? - perguntou-lhe Nino.

-Não, senhor - respondeu quase chorando.

Nino gravou pra sempre aquela imagem: cabelos louros cortados em franja, cerca de nove anos, calças compridas, jaqueta azul com punhos e gola vermelhos, calçados de lona (conga azul), tudo surrado e meio molhado.

-Onde você mora?

-Ali naquele barraco - apontou.

-Cadê seus pais?

-Aquele ali é o meu pai - apontou também.

Tratava-se de um senhor de barba e cabelos brancos, aparentando bastante idade, mal vestido e...alcoólatra.

-Senhor, posso levar seu filho até a lojinha lá embaixo para comprar para ele um presente?

Assentiu e agradeceu.

-Como você se chama?

-Beto - respondeu o garoto ainda com os olhos tristes.

-Chegamos, Beto. Quantos irmãos você tem?

-Três menores que eu.

-Então escolha primeiro um presente para cada um deles.

Belo escolheu rapidamente demonstrando ansiedade, mas também certa alegria.

-Agora quero que você escolha o que você quiser.

-Aquele - apontou para um ônibus de plástico branco, grande e muito bonito.

-Então é seu. Pode pegar - disse-lhe Nino.

Já na calçada, Beto com os embrulhos nos pequenos braços, virando-se para Nino com o sorriso mais lindo do mundo e os olhos brilhando de alegria e emoção, diz: "Brigado, moço" e escalou célere seu morro para nunca mais...

Nino chorou de felicidade pelo presente de Natal que acabara de ganhar e envolto em maravilhosa sensação, agradeceu:

-Obrigado, meu DEUS, pelo abraço que o Senhor acabou de me dar agora!

AGOSTINHO PAGANINI
Enviado por AGOSTINHO PAGANINI em 19/11/2012
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