Papai Noel de Rua

Não havia passado das oito da noite e Paulo já esperava. Juntava os gravetos de madeira, com as mãos sujas e as unhas pretas. Olhava para o céu. Não, não podia ser. Hugo com certeza estava de novo tirando onda com a sua cara. Nunca havia visto, ninguém cruzar o céu, exceto os aviões, que de quando em vez roncavam no céu de Ulatina onde morava. Mas trenó, carrinho, isso era coisa daquela cabeça assanhada do Hugo. Mesmo assim, continuava esperando. Ao perguntar ao pai, sobre o velho Noel, este deu de ombros. Sua mãe enquanto viva, preparava uma janta sempre que chegava o Natal, mas nunca falou do tal velho. Naquela tarde, Paulo lembrou com saudade da forma como sua mãe se debruçava sobre a panela com frango cozido, para servir a todos. Era uma concha para cada um. Não tinha direito a repetir. “Isso é o nosso Peru. Peru de panela”, dizia ela. Mais um pouco e ela trazia o a goiaba em calda temperada com pedaços de cravo. Depois que ela morreu, até mesmo, isso havia acabado. Tudo que ele já tinha visto de ceia, não passava de espiadas na casa do pai do Cícero. Lá tinha mesa com muitas frutas, uma ave gigante com as pernas cortadas para cima, bem tostadas e cheirando muito. Tinha umas enormes variedades de doces e a árvore era cheinha de pacotes. Um dia, alguém havia lhe dado umas balas que ele guardou por quase um ano e quando foi comer as formigas já tinham ficado com mais da metade. Ele prometera a si mesmo, que só sairia dali, com o dia seguinte claro. Se o tal do velho barbudo existisse, ele agora o veria. Preparou-se também para arrancar-lhe alguns brinquedos. Se for como Hugo falou, o carro viria abarrotado. Nem se deu conta do cansaço e da noite fria. Tinha pouca roupa a cobrir-lhe o corpo. Recostou a cabeça no troco da Ingazeira e adormeceu.

_ Ei menino, acorde!

Boa parte da noite passou e nem se dera conta. Ao abrir os olhos, Paulo foi ofuscado, pelas as luzes que giravam em sua frente. Tinham várias cores. Então, era verdade! De um salto, pôs-se de pé de olhos arregalados procurando o saco. Nada. Olhou para baixo. As botinas eram pretas. Mas a roupa, invés de vermelha - como o Hugo descrevera - era esverdeado.

_ Vamos garoto, levante! A voz de comando era grosseira. Não parecia com a voz de quem distribuía brinquedos para crianças.

_ Entre no carro, não temos a noite toda.

_ Para onde vão me levar? Lá tem brinquedo? O Silencio tomou conta dos dois, enquanto se olhavam. No carro, aguardando havia mais dois homens.

_ Pronto. Mais um. Bem que o prefeito Quirino, falou. Esse já é o quarto que recolhemos. Imagina o que iriam pensar os oponentes. Aí está vindo mais uma campanha, crianças na Rua no Natal dá má impressão. Dizendo isso, empurrou Paulo para dentro do carro. O interior do veiculo, cheirava a mofo. Paulo sentou calado e o carro começou a andar. Chegaram num prédio antigo, que todos conheciam como cadeia. Abriram uma sala e lá, junto com mais três crianças, Paulo foi esquecido.

_ Amanhã encontraremos seu pai e você volta para casa. Boa Noite. Feliz Natal!