O PRESENTE

Despertou assustada naquela manhã de Natal. Correu para o banheiro. Mais uma vez sentia o tal “embrulho” no estômago. A imagem refletida no espelho, já não lembrava a mulher forte e bonita. O corpo estava magro e os cabelos cada vez mais raros. Num misto de dor e desespero, Perla “desabou” num choro. Vivia a terceira tentativa de cura sem sucesso e mesmo com o apoio do marido, a verdade é que já não agüentava mais o tratamento cada vez mais duro e cansativo. “Chega” pensou. Tomou um banho, saiu do banheiro e foi até a sala. Ficou surpresa ao encontrar o filho Caio, sentadinho ao lado da arvore de Natal.

- Oi filho. Bom dia. Acordou cedo. Feliz Natal.

O filho olhou para a mãe e sorriu.

- Abriu seu presente?

- Ainda não.

Perla sentou-se ao lado do menino, pegou o embrulho:

- Vem, vamos descobrir o que o Papai Noel trouxe.

Abriu o pacote. Era um carrinho de controle remoto.

- Que lindo filho...

O menino pegou o brinquedo, sorriu timidamente e surpreendendo a mãe, passou a chorar. Perla não entendeu a reação do filho. Abraçou-o e perguntou:

- O que foi filho? Por que este choro? Não foi o presente que pediu?

Entre lágrimas, Caio olhou mais uma vez para o rosto magro da mãe e respondeu:

- Não. O presente que pedi foi outro.

- Diz pra mamãe.

- Pedi uma coisa chamada cura.

- Cura?

- Sim. Ontem a noite, depois que a senhora passou mal, eu vi quando o papai veio até aqui e pediu chorando: “Deus por favor traz a cura pra minha esposa. Não deixe que ela morra”. Eu estava escondido, também chorei e pedi a sua cura.

Perla abraçou forte o corpinho do filho e respondeu decidida:

- Fique tranqüilo meu filho. Mamãe não vai desistir.

O filho também abraçou a mãe, só que desta vez sorrindo:

- Feliz Natal, mãe. Obrigado por não desistir de nós.

O que dizer mais? Nada, além de FELIZ NATAL.