O meu bom José

José estava ao lado da manjedoura e segurava aquela mãozinha com tanto amor, olhava o menino com tanta devoção que começou a chorar. Maria chegou perto do marido e perguntou porque chorava.

- Eu amo tanto esse menino que tenho medo que ele sofra.Que ele morra.

A mulher sorriu e se ajoelhou ao lado dele:

- Ô meu querido... Ele tem ótima saúde. Veja só.

O carpinteiro limpou as lágrimas com a ponta de seu manto e sorriu para a esposa. Enquanto via uma sombra na porta da gruta. Ele beijou o menininho e beijou a testa da mulher e saiu sem dizer nada.

Lá fora viu um homem alto com um capuz que lhe cobria o rosto. O homem fez um gesto para que José o seguisse e ele assim o fez.

José caminhava atrás do homem e não entendia porque fazia isso, mas tinha certeza que devia ir. Quando estavam longe o suficiente da gruta o homem tirou o manto e sorriu.

- Não me reconhece não é?

- Não... - Disse José intrigado franzindo a testa, forçando os olhos.

- Eu já desconfiava disso... Papai.

José arregalou os olhos e sem entender nada viu o rosto do homem brilhar. Sua barba cerrada, seus longos cabelos e seu sorriso. Como uma inspiração divina José caiu aos pés de Jesus e o adorou chorando.

- Jesus! Meu filho é você mesmo... Como pode?

Estendendo a mão ao pai adotivo Jesus colocou José em pé e o abraçou.

- São mistérios que não se podem ser revelados pai... Mas eu vim porque preciso de sua ajuda.

Eles se assentaram uma pedra e Jesus falou mansamente.

- Quando eu estiver homem feito como agora o senhor não estará mais comigo...

José abaixou a cabeça e ficou num silêncio triste.

- Mas o meu Pai que está no céu te ama tanta que me permitiu me revelar a você assim...

José sorriu e Jesus continuou a falar.

- Acontecerão coisas horríveis comigo quando eu estiver assim adulto, papai... E você não suportaria ver, por mais ilógico que seja, a mamãe é mais forte. Meu Pai do céu não quer que passe por tanta dor por isso o levará antes....

José ficou calado e nunca tinha se sentido tão amado como naquele instante.

- E pai vim aqui lhe pedir um presente... O senhor é alguém que me ajudará a suportar o meu martírio... ...

A noite continuava estrelada e eles conversam por muito tempo. Quando teve que voltar Maria estava na porta da gruta segurando o menino nos braços já preocupada.

- Onde esteve?

- Orando...

O tempo passa e depois que eles voltam do Egito à Nazaré, José passava horas trancado na carpintaria. Ninguém podia incomodá-lo. Até que um dia ele vendo sua obra pronta aparece um homem na porta e contra luz José esbraveja:

- Já disse que não quero que ninguém veja...

Ele olha novamente para a porta e o homem sorri.

- Jesus!

- Eu mesmo papai... Vim ver sua obra pronta.

José com lágrimas nos olhos puxa o enorme tecido que tampava aquela grande estrutura. Jesus passa a mão devagar pela madeira e se afasta para olhá-la de longe. José se aproxima e o Jesus o abraça.

- Ah papai... Só mesmo com a cruz feita pelas mãos carinhosas do senhor eu suportarei tanta dor.