Murmúrios de luz

- Vai agora Levi! - Gritou Efraim com muita raiva do irmão caçula.

- Mas Efraim... Está escuro! Eu tenho medo!

- Devia ter pensado nisso antes de se deitar para cochilar.

- Estou cansado Efraim, por isso cochilei, foi sem querer...

- Você já tem sete anos! Devia ter responsabilidade!

- Desculpe irmão.

- Não! Não desculpo enquanto você não voltar com aquela ovelha! Sabe porque?

- Não!

- Porque quando nosso pai souber, a culpa será minha que sou responsável por nosso rebanho.

- Mas Efraim ela correu rumo a colina, está escuro, tenho medo... Amanhã eu juro que quando clarear eu volto lá e a pego.

- Não Levi! É agora!

- Então venha comigo. Por favor...

- Não posso né. Tenho que vigiar as outras ovelhas.

- Mas aqui tem tantos pastores, são seus amigos, peça a eles para vigiar nossas ovelhas e venha comigo.

Efraim não disse mais nada, apenas olhou furioso para o irmão. Levi então pegou uma tocha e saiu junto com seu cão rumo a colina.

A noite estava muito escura e o menino morria de medo e começou a falar baixinho.

" Por favor meu Deus... Por favor me ajude. Não deixe que nada de ruim aconteça".

Nesse momento ele se lembro do casal que havia encontrado com ele quando no fim da tarde estava levando o rebanho para fora da cidade.

O homem de barba escura e olhos tão escuros quanto a barba, muito alto e forte o parou para perguntar.

- Sabe onde posso encontrar um poço por aqui? Nossa água acabou e minha esposa esta sedenta.

Levi então olhou para a jovem mulher em cima do burrinho, tão linda, tão serena. Ela sorriu para o garoto. Ele se virou para o homem e respondeu.

- O poço fica muito longe daqui senhor, mas eu tenho duas cabaças de água. Fique com uma para vocês.

O homem sorriu e o agradeceu. Levi entregou a cabaça para a mulher. Ela parecia mesmo estar sedenta, depois passou a cabaça para o homem que parecia tão sedento quanto ela.

- Obrigado menino, mas nem temos como lhe pagar.

- Não precisa senhor... Foi de coração.

A mulher então fez um gesto para o menino se aproximar e colocou a mão em sua cabeça e disse:

- Então de coração, receba nossa benção. Que Deus o abençoe.

O menino fechou os olhos ao toque da mulher. Sentiu-se tão abençoado como se o próprio Deus o tocasse, e abrindo os olhos viu o ventre da mulher brilhar.

Levi piscou várias vezes e olhou de novo para a barriga da jovem, mas ele agora achava ter se confundido, era apenas uma impressão.

Eles se despediram e o menino continuou a subir rumo aos pastos e ouviu ainda o casal comentar.

- José, que nosso menino seja tão bom quanto esse.

- E ele vai ser Maria... Pode ter certeza.

Levi então sorriu e perdeu o medo. E pensava " Eles me abençoaram, não devo ter medo". E continuou a subir a colina correndo com seu cão.

Horas depois, bem no cume ele encontrou a ovelhinha presa em espinhos. Ficou muito tempo tentando tirá-la de lá. Já era mais de meia noite quando Levi olhou para o céu e viu aquela enorme estrela brilhando. Ele nunca havia visto uma estrela tão grande.

Ele se levantou com a ovelhinha nos braços e ficou extasiado com a estrela, foi quando seu cão começou a latir insistentemente. Levi olhou para baixo e viu com os outros pastores homens de vestes tão brancas que chegavam a brilhar.

Levi forçava a visão, e achava que estava delirando pois os tais homens pareciam flutuar e pareciam ter asas.

- Meu Deus... O que está acontecendo hoje?

O menino sem entender ficou ainda parado olhando ora os homens que flutuavam, ora a estrela, quando de repente sentiu uma voz suave lhe dizer.

- Vá Levi... Vá... Você também deve contemplar a salvação.

- Onde devo ir? Quem é você?

Levi não teve resposta, mas sentiu o vento forte lhe soprar o cabelo. O vento tomou forma de pequenas partículas de luz... E aquele ar brilhante o guiou até a gruta.

Chegando com a ovelhinha nos braços e seu cão fiel, Levi viu o seu irmão e os outros pastores todos ajoelhados diante a uma manjedoura.

Levi entrou devagarinho e se aproximou. Quando viu a criança se ajoelhou, mesmo sem entender o porquê daquilo. Sentiu no bebê a mesma luz que sentira no ventre da mulher.

Depois de ficar um bom tempo olhando o bebê, o menino subiu os olhos e viu o casal abraçado que sorria para ele. Levi sorriu de volta, com os olhos cheios de lágrimas.

Ele se aproximou dos dois e Maria lhe beijou a testa o menino sentiu que o bebê sorriu. Depois voltou para perto do irmão.

- Levi, como chegou aqui?

- Eu segui os murmúrios de luz Efraim.

- Meu irmãozinho,desculpe ter sido tão duro com você... Veja Levi é o Salvador.

Levi sorriu olhando o menino Jesus e viu novamente os murmúrios de Luz saírem da boquinha do bebê.