Devaneio num leito de insanidade

Retiro-me para minha cela, um recôndito dentro desse santuário dedicado à insanidade, permeado por gritos e balbucios concomitantes. Em meu leito, observo minhas mãos, outrora tão criativas, tão interadas com o que vai em minha alma, agora se mostram inúteis, incapazes de segurar um simples instrumento de escrita; qual uma dupla de palhaços, elas se atrapalham e tudo que produzem são caricaturas ridículas dos meus maiores sonhos de redenção.

O que consigo apreender da minha desgraça como poeta é apenas que essas mãos estão cansadas de escrever e, melancólicos, esses olhos se fecham todas as noites para viajar por terras distantes e nebulosas; terras onde pássaros noturnos voam sobre jardins de rosas vermelhas à luz do crepúsculo e onde vejo o horizonte como se ele fosse uma pintura romântica, com o seu próprio castelo medieval, cujas torres alcançam o céu e cada janela brilha ardentemente com um fulgor púrpura jamais visto por olhos sãos. Vejo as nuvens rosadas se movendo lentamente em direção às montanhas ao longe, e o vento que as impulsiona é o mesmo que faz a grama alta ondular ao redor dos meus pés descalços, frios e salpicados pelo orvalho.

Meus devaneios oníricos, tudo que me resta são essas ilusões que parecem estar do outro lado dessas paredes, mas que, na realidade, encontram-se perdidas dentro de mim mesmo. Elas se desenrolam ao mesmo tempo que sonho e durmo. E, incapaz de torná-las realidade, observo como minhas mãos se crispam, e, como garras de aves mortas, elas se fecham, caem inertes, enquanto mergulho no abismo das minhas insanas desilusões.

Andhromeda
Enviado por Andhromeda em 26/06/2011
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