A Lápide

Meus olhos clareiam na imensidão da noite

No escuro de minh'alma, vagueiam vultos.

Vultos que são porta vozes

dos meus sentimentos, do meu epitáfio

Arautos do que me espera

Véus rasgados na Lápide

Tortuosa brisa fria que me convida ao baile da solidão

Pés em terra molhada salpicam de lama a orla das minhas vestes alvas

Uma sombra triste cai serena em meu peito

Meu negro coração, perdido em devaneios

Amor, fidelidade, felicidade e dor

Não tenho mais como negar, não posso...

O veneno dilata minhas veias, sei do perigo

Mas, é muito tarde, estou viciado, apaixonado

Mesmo com a certeza do meu próprio flagelo

Dos cânticos que me selam os lábios, as nênias

Eternizando o gemer do meu espírito

Palavras torpes, sem sentido

Declamo meus lamentos aos ouvidos do vento

Serão eternizados...

No mármore frio de minha sepultura

Onde flores murcharam sem ao menos, respirar seu perfume

Secas perderam as pétalas... O perfume...

Deixando sobre mim desnudos galhos

Da sua mais breve existência.

Sou agora refeição de mim mesmo...

Expectador da sina dos que voltam ao pó

Ao som da marcha fúnebre, me despeço

Aos sons do silêncio me entrego

Aos vermes em meu cadáver

Tão nobres quanto os vermes em meu funeral

João Murillo e Lee Rodrigues
Enviado por João Murillo em 29/10/2011
Código do texto: T3304379
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