Noite tubulosa

Entre meus lábios o cigarro. Há um som melancólico vindo do rádio. De um lado da cama vodka, do outro o vazio. O que fazer? Minha mente tenta reaver os momentos. Cada um deles como pequenos pedacinhos de diamante. Pequenos e sutis cristais que cairão ao chão naquela noite. Corações arrancados por meio de palavras duras e firmes. Tolas. Ambas foram. Seus motivos tornaram-se tão fúteis assim como minhas lágrimas que despencam. Orgulho. Ferido mas não destruído. Meu amigo divide comigo este meu lado do peito, forçando-me e ficar estática na cama e esperar. Esperar. A tortura é grande, mas o cigarro em minha boca me satisfaz. Foi necessário repor o gelo no copo, mas a vodka quase nem existe mais. Quantas doses? Nem eu sei dizer. Me perdi entre os minutos que se passaram. Descontrolados, eu sequer consegui nota-lo. Se eu olhar o relógio ainda darão as mesmas horas. Eu congelei no tempo? Eu não sei. Sequer consigo sentir mais. Abandonei o cigarro porque não havia mais o que tragar. Ao menos ainda consigo sentir a bebida descer rasgando minha boca. O som. Ele ainda toca? Não sei dizer. Por que esta dor me comove tanto? Jurei nunca mais chorar. Jurei nunca mais me importar. Estas lágrimas são novas. Seus motivos sãos os mesmo, só muda sua dona. Não sinto o meu coração em meu peito, mas o vi ser dilacerado por suas mãos delicadas. Toques sutis. Eu lembro-me disso. Ele ainda existe? Ele ainda está inteiro? Encolho-me novamente na cama. Me contive para não pegar novamente a garrafa que cuidadosamente deixei em baixo da minha cama que outrora me servia no copo de vidro. Mas é impossível. Outro cigarro foi acesso e sua fumaça batia conta a parede. Cansado. Ele tão logo se apagou. A garrafa ainda me servirá outras doses e meu leito tão logo se formou. Acolhida. Eu me perdi nos lençóis da cama e deixei a dor me tomar. Eu não chorei, mas eu morri naquela noite

KauíSilva
Enviado por KauíSilva em 30/03/2013
Reeditado em 14/08/2013
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